A base que permitiu ocrescimento no I trimestre deste ano era muito baixa, já que entre Janeiro e Março de 2023 houve um afundanço na extracção de petróleo no País devido a várias paragens nos campos de produção. O petróleo continua a ser o principal “actor” e influenciador da produção industrial angolana.
A produção industrial em Angola regressou ao crescimento no I trimestre de 2024 ao registar uma variação positiva de 5,0% face a igual período de 2023, impulsionada fundamentalmente pela marcha positiva verificada na indústria extractiva com o petróleo à cabeça, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Trata-se do melhor arranque de um ano desde o I trimestre de 2015, quando entre Janeiro e Março a produção industrial cresceu uns “impressionantes” 19,4%, de acordo com cálculos da imprensa.
Só nos últimos 10 anos, esta é apenas a quarta vez em que um primeiro trimestre está em terreno positivo. No caso do período entre Janeiro e Março deste ano, o IPI cresceu 5,0%, o que contrasta com os -6,2% do período homólogo. Aliás, a base sobre a qual o I trimestre deste ano era tão baixa que permitiu um crescimento quase “fora do normal” de 5,0%, num País que enfrenta há vários anos um declínio da produção de petróleo. Só para se ter uma ideia, a extracção de petróleo vale 85,3% de todo o Índice de Produção Industrial, pelo que o facto de este sector ter crescido 6,0% no período em análise teve um forte peso no crescimento do indicador que mede a produção da indústria nacional.
Este crescimento no petróleo acontece também porque o I trimestre de 2023 foi de uma forte quebra neste sector, já que a extracção de crude recuou 10,6% face ao mesmo período de 2022. E a culpa foi das paragens programadas e algumas não programadas que se verificaram em vários campos de produção, depois de nos meses anteriores terem forçado a produção para aproveitar a alta de preços do petróleo, em que o barril esteve a ser vendido acima dos 100 USD.
Assim, o aumento da produção da extracção de petróleo no I trimestre deste ano teve um forte contributo para o crescimento da economia. Entre Janeiro e Março, de acordo com o relatório sobre as contas nacionais do INE do I trimestre, o PIB cresceu 4,6%, naquele que foi o melhor arranque num ano desde 2015. Não será coincidência esta relação do crescimento do PIB nos I trimestres de 2015 e agora de 2024 com a subida da produção petrolífera, é que o petróleo continua a ser um dos principais motores da economia nacional, a par do comércio. Os números positivos não param por aí e uma das consequências do crescimento na produção industrial é que houve um aumento de 6,3% de pessoal ao serviço face ao período homólogo.
Especialistas garantem que o aumento do pessoal no sector industrial é sinal de que há produção, não só nos petróleos e diamantes, mas também na indústria transformadora, onde segundo as contas nacionais do I trimestre deste ano, o valor acrescentado bruto teve um crescimento de 1,3%, em relação ao trimestre homólogo, e em termos de produção também cresceu 3,3%.
Este aumento da produção na indústria transformadora resultou principalmente da variação positiva nas indústrias alimentares, onde o abate de animais e preparação e conservação de carne, peixe, frutos e de produtos hortícolas sofreu um impulso. Também os dados indicam que a moagem de cereais e fabricação de amidos e outros tiveram uma contribuição para o crescimento do PIB na indústria transformadora.
Também a subir esteve a produção na captação, tratamento e distribuição de água e saneamento, com um crescimento de 3,0%. Em sentido contrário esteve a produção e distribuição de electricidade, gás e vapor, cuja produção caiu 2,6%.
Olhando para estes dados é perceptível o peso que o petróleo continua a ter na economia nacional, em que o crescimento do PIB está atrelado a esta commoditie. Assim, num país onde a diversificação económica está ainda a dar os primeiros passos, o investigador da Universidade Agostinho Neto, Fernandes Wanda, defende que é preciso fomentar a produção local, tão necessária, depois, para impulsionar a indústria transformadora geradora de empregos. Só com esta aposta será possível atingir os níveis de crescimento económico que o país precisa para gerar empregos para uma população que cresce a uma média de 3,1% ao ano. “Para termos uma indústria transformadora mais forte precisamos melhorar as infraestruturas básicas – como estradas ou saneamento – de facilitar o acesso a utilidades como água e luz. Note-se que nos últimos anos vimos surgir uma indústria do empacotamento, muito dependente das importações de produtos intermédios. Hoje, devido à depreciação do kwanza, fruto da redução das divisas, esta indústria tem sérias dificuldades”, sublinha.
Fonte: Expansão