Alega-se que Zé Maria pretendia salvaguardar segredos do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, e por isso terá extraviado alguns processos secretos.
A detenção do general na reserva, António José Maria (general Zé Maria), um dos homens fortes na governação de José Eduardo dos Santos, está a ser considerada como mais um ato de demonstração de força de João Lourenço, atual Presidente de Angola, aos que ainda o tentam desafiar.
O antigo chefe do Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM) está em prisão domiciliária desde segunda-feira, (17.06) sob acusação de extravio de documentos com informações secretas.
Alguns analistas ouvidos pela DW afirmam que os processos judiciais contra ex-figuras de peso no aparelho de Estado angolano continuam seletivos.
Uma nota do Supremo Tribunal Militar angolano citado pela Angop, avança que o general reformado está indiciado por crime de extravio de documentos, aparelhos ou objetos que contenham “informações de caráter militar e insubordinação”.
Ilícitos puníveis
Segundo informações da justiça angolana, o ex-chefe do SISM incorre em ilícitos previstos e puníveis nos termos da Lei dos Crimes Militares.
Entretanto, a medida punitiva dos crimes pode resultar em penas de dois a oito anos de prisão maior, de acordo com a referida lei.
Alega-se que Zé Maria pretendia salvaguardar segredos do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, e por isso terá extraviado alguns processos secretos.
Desde o anúncio da sua detenção já não há informações sobre o caso, e a sua equipa de defesa também não aceita fazer pronunciamento. Em declarações à DW África, o advogado e ativista Arão Bula Tempo, disse que as detenções continuam a ser particularizadas.
Estratégia de manipulação
Para Bula Tempo, a detenção do general não passa de mais uma manobra de manipulação da opinião pública, tendo em conta os problemas sociais que o país atravessa. “O Presidente da República fez muitas promessas, sem esquecer que o país estava a atravessar situações drásticas ao nível económico, provocados pelo próprio partido no poder. Creio que o Presidente para limpar a imagem do MPLA, está a tentar encontrar algumas personalidades para responderem em tribunal, porque se for um trabalho aturado, todos aqueles que desviaram dinheiro do erário público têm que responder”, afirmou o advogado.
Por seu turno, o ativista social, Adão Ramos afirma que a prisão do antigo chefe do Serviço de Inteligência e Segurança Militar “não é para se levar a sério” no que concerne a um verdadeiro combate à impunidade.
“Essas pessoas detidas, são classificadas arguidas, e depois são-lhes retiradas a medida de coação e não acontece mais nada, tal como é o caso do deputado Higino Carneiro. Também visa consolidar o poder do Presidente da República, para mostrar que quem ainda faz alguma resistência à sua liderança, que ele tem poder suficiente para fazer o que também fez o ex-Presidente da República, que é punir, prender, enfim, fazer outras coisas para quem representa algum incómodo”, sublinhou Adão Ramos.
“Cabalas” contra general Miala e ativistas
General António José Maria é tido também como o suposto autor da “cabala” sobre alegadas tentativas de golpes de Estado contra José Eduardo dos Santos, que levou para cadeia o general Fernando Garcia Miala, atual chefe do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado.
O mesmo oficial superior das Forças Armas Angolanas (FAA) também é apontado como mentor da prisão dos 17 ativstas angolanos no processo 15+2.
Benedito Jeremias (Dito Dali), um dos réus do caso, afirma que Zé Maria está a provar o “próprio veneno”. “Ele está a beber agora do próprio veneno. Esse general é um especialista em forjar crimes, em manipular e fazer chantagens ao ex-Presidente, José Eduardo dos Santos, com a finalidade de garantir o seu posto. Por exemplo inventou que o general Miala estava a preparar um golpe de Estado contra José Eduardo dos Santos. O general Miala foi condenado, e até hoje não se provou o tal golpe de Estado que ele havia montado”, disse.
O ativista espera que a justiça trabalhe e que não haja interferências políticas no processo do general angolano. “Esse senhor não terá como sair ileso deste processo, caso não haja uma manipulação para distrair a opinião pública. Se for eventualmente um processo sério, dificilmente ele sairá impune de todos os crimes imputados contra ele”, conclui Benedito Jeremias.