A conferência “Angola Oil & Gas”, que junta, nesta quarta e quinta-feira, no Centro de Convenções de Talatona, mais de dois mil delegados de 41 países, é um fórum para debater durante dois dias como “impulsionar a exploração e o desenvolvimento rumo ao aumento da produção em Angola”.
O encontro reúne, em Luanda, toda a cadeia de valor do setor petrolífero para avaliar o caminho a seguir pela indústria, a principal alavanca da economia angolana. O setor representa 95% das exportações, mais de 26 mil milhões de euros por ano, e 25% da economia do país.
No atual contexto de guerra na Europa do Leste e no Médio Oriente, Angola está à beira de se tornar um ‘hub’ regional para o petróleo e gás, prevendo-se progressos consideráveis para maximizar os seus recursos em benefício da população. Mas o economista Francisco Miguel Paulo considera, em entrevista à imprensa, que o setor petrolífero angolano enfrenta muitos desafios, sobretudo no domínio tecnológico. E diz que Angola não está a produzir de acordo com a sua real capacidade.
“Angola já produziu cerca de 2 milhões de barris por dia. Hoje produz cerca de 1,1 milhão de barris por dia, metade daquilo que produzia no passado. Porque houve grande desinvestimento”, afirma, acrescentando que as empresas do setor petrolífero deixaram de investir, sobretudo “na procura de novos poços petrolíferos”, precisa.
Dependência do petróleo
O investigador assistente no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (IUL) lembra que o crescimento negativo do setor, nos últimos anos, afetou toda a economia, tendo em conta que o país depende inteiramente do petróleo. Diz a este respeito que 97% das exportações têm no topo da tabela o petróleo e gás, a principal fonte de receitas.
Entretanto, considera que o “pequeno aumento” das exportações “é sempre bom para o Estado, porque mais exportação implica mais receitas petrolíferas”, necessárias para “o Estado poder pagar as suas dívidas.” Esta forte dependência do petróleo “não é boa para a política económica”, acrescenta Francisco Paulo, que critica o Governo angolano por nunca ter levado “a sério o programa de diversificação” económica. “Tivemos quase 30 anos de guerra, mas a guerra terminou em 2002”, regista, lembrando que o conflito armado terminou em 2002.
O problema, sublinha, é que não se realizaram programas económicos sérios que ajudassem o país a usar os recursos do petróleo para poder diversificar a sua economia. Para o jornalista angolano Mário Paiva, “há falta de vontade política” e de “políticas coerentes” para diversificar a economia. Lembra que o Governo já anunciou reiteradas vezes esta necessidade de diversificação da economia. “O problema é que isto tarda a concretizar-se. […] E isto numa conjuntura em que o preço do barril de petróleo tem vindo a decair”, refere.
Vantagens para Namíbia
Questionado sobre se um melhor ambiente de negócios pode desviar petrolíferas de Angola para a Namíbia, o jornalista aponta vários fatores que afastam os investidores. “Nós temos uma série de burocracias, temos problemas em relação ao título de registo de propriedade e repatriamento de dividendos, para não falar dos problemas já crónicos de infraestruturas, acesso à energia, água e más estradas”, afirma Mário Paiva.
O economista Francisco Paulo considera, por seu lado, que, com a descoberta de petróleo na Namíbia, Angola corre o risco de perder investimentos, tendo em conta que o ambiente de negócios é melhor naquele país vizinho. “Se as empresas acharem que a exploração petrolífera na Namíbia é mais rentável em termos económicos, e de custo-benefício, é provável que vão para a Namíbia”, admite Paulo. O investimento direto estrangeiro tem vindo a reduzir-se, à exceção do Corredor de Lobito. O jornalista Mário Paiva insiste que, para lá da importância e dos resultados da conferência desta quarta e quinta-feira, é preciso alterar o ambiente de negócios em Angola, implementando políticas económicas e fiscais mais coerentes, que estimulem o investimento externo não só no setor petrolífero.
Fonte: DW