O projecto Angosat-2 levanta dúvidas sobre a capacidade de comercialização dos serviços e o propósito pelo qual foi lançado, numa altura em que as comunicações móveis tendem a degradar-se. Especialista afirma que a comunicação oficial sobre o objectivo do lançamento do satélite “foi enganosa”.
Quase dois anos depois, a exploração comercial a grosso do satélite angolano, Angosat-2 ainda não arrancou. Está, neste momento, apenas na fase de recepção de candidaturas de futuros clientes, sobretudo, pequenas e médias empresa e startups que pretendem redistribuir o sinal de internet do satélite nas áreas recônditas do País de modo a reduzir a exclusão digital, apurou à imprensa junto de fontes do Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPN) e do Infrasat.
O satélite geoestacionário, lançado em órbita a partir da estação aeroespacial de Baikonur, no Cazaquistão, em Outubro de 2022, custou 320 milhões USD e teve, no discurso oficial, o objectivo principal de “melhorar as nossas telecomunicações”, de acordo com o Presidente da República na inauguração do Centro de Controlo e Missão (MCC, na sigla em inglês) no dia 27 de Janeiro de 2023, na zona da Funda, na província de Luanda.
Mais do que isso, “tornar as comunicações móveis com preços mais acessíveis e maior cobertura nacional. Além de ser uma fonte de receitas e de divisas com a venda dos serviços do satélite aos países vizinhos, transformando Angola num hub das telecomunicações e tecnologias de informação em África”, conforme disse Mário Oliveira, ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MINTTICS), em Janeiro do ano passado.
Entretanto, os serviços de telecomunicações, nomeadamente de telefonia móvel, tem estado a degradar-se pois o investimento das operadoras nas infraestruturas não acompanhou o crescimento populacional, como defendem os especialistas.
Mário Oliveira, na inauguração do centro da Funda, disse também que o Governo tinha iniciado “contactos com países da região e não só, para a comercialização da capacidade do satélite na prestação de serviços de conectividade a entidades e empresas da região”.
Contudo, pelo que à imprensa apurou, esta procura por clientes estrangeiros continua a não dar frutos. “Até ao momento não houve qualquer contrato assinado de prestação de serviços de conectividade com outros países. Continuamos a contactar os possíveis clientes no estrangeiro”, revelou ao Expansão fonte da Infrasat, empresa responsável pela comercialização os serviços a retalho do segundo satélite angolano.
Importante acrescentar que à imprensa tentou por diversas formas obter respostas oficiais junto do ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social sobre a situação actual de funcionamento e estratégia futura para os serviços comerciais do Angosat-II, mas não obteve qualquer resposta até o fecho da edição.
O processo de comercialização dos serviços do Angosat-2 foi aberto Janeiro de 2023, três meses depois do envio para órbita. A Infrasat, que tem na estrutura accionista a Angola Telecom (40%), a GAFP – Investimentos e Participações SA (30%), grupo ligado ao partido MPLA, além da livraria Lello, SA (20%) e a empresa Macgra (5%), é que está em frente da comercialização dos serviços do Angosat-2 para as pequenas e médias empresas e startups.
Fonte: Expansão