Instituição multilateral também assinala as grandes dificuldades que o País enfrenta na gestão dos furos e estruturas já existentes e recomenda a adopção de novos modelos de trabalho, com maior envolvimento e responsabilização das comunidades. Os prejuízos totais com a seca foram avaliados em 749 milhões USD.
Publicado em 2022, o estudo analítico “Resiliência à seca e segurança hídrica em Angola”, realizado pelo Banco Mundial a pedido do Ministério da Energia e Águas, apresenta diversas soluções para melhorar o combate à seca em Angola. Enquanto a instituição multilateral afirma que “com 200 milhões USD a história da seca poderia ser reescrita”, o Governo promete aplicar 2.135 milhões USD no Programa de Combate aos Efeitos da Seca no Sul de Angola (PCESSA). Só para a província do Namibe estão previstas seis barragens avaliadas em 1.450 milhões USD.
O referido estudo ressalva também que o investimento em infra-estruturas não é a única variável em cima da mesa e que o País precisa de investir rapidamente em capital humano e métodos de trabalho adequados ao contexto da região sul (Benguela, Huíla, Namibe, Cuando Cubango e Cunene), marcada pela baixa densidade demográfica e populações maioritariamente rurais. “
Embora pudéssemos estimar que, com 200 milhões USD, a história da seca no Sul de Angola poderia ser reescrita, temos de com[1]preender que a construção de infra-estruturas é apenas metade da solução. A outra metade, que representa o maior obstáculo à segurança hídrica e à resiliência climática em Angola, é a sua manutenção e operação: o reforço de sismas e instituições aptos a cumprir os seus mandatos operacionais e o aumento da capacidade dos recursos humanos para servir a população”, considera o Banco Mundial.
O documento identifica as quatro principais causas de vulnerabilidade à seca no sul do País: falta de informação sobre o estado dos pontos de extracção de água e conhecimento deficiente sobre o potencial dos recursos hídricos; investimentos insuficientes para garantir o acesso aos recursos hídricos a nível comunitário, que limitam as opções de abastecimento de água nas localidades; ausência de mecanismos eficazes de reparação, manutenção e garantia das infra- -estruturas a nível comunitário; e fraca capacidade institucional, a vários níveis, para preparar, mitigar e responder às secas.
“Os impactos económicos em todos os sectores são estimados em mais de 749 milhões USD nas três províncias mais afectadas, com o sector agrícola, pecuário e pescas a ser de longe o mais prejudicado”, sublinha o Banco Mundial. Apesar dos programas oficiais, como é o caso do “Água para todos” (que prometiam levar água potável a 80% das localidades no meio rural e promover a implementação de sistemas locais de abastecimento de água), o Banco Mundial considera que o “modelo de todos os tipos de sistemas” de abastecimento já instalados “é geralmente muito pobre”.
“Os problemas mais comuns incluem a avaria dos componentes, causados pela pressão nas tubagens, tamanhos subestimados dos reservatórios no ponto de água, bombas inadequadas, profundidades de instalação inadequadas, falta de separação entre pontos de consumo animal e humano, entre outros. Uma parte dos desafios deve ser, em princípio, fácil de resolver, mas isto é o resultado da falta de conhecimento técnico, ausência de cadeias de abastecimento para peças e fraca capacidade financeira”, lê-se no estudo “Resiliência à seca e segurança hídrica em Angola”.
Segundo uma Avaliação das Necessidades pós-Desastres (PDNA), realizada, em 2016, sob a supervisão do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), cerca de 80% dos furos existentes na região sul não estavam utilizáveis devido à escassez de água e ao seu mau estado (cerca de 2.400 furos foram danificados).
O betão e a sustentabilidade
“Embora seja necessário um estudo hidrogeológico exaustivo para definir o potencial das águas subterrâneas em toda a região, este relatório apresenta uma avaliação de dois tipos de investimentos em recursos hídricos: captação de águas superficiais através de chimpacas e cisternas melhoradas e barragens de areia e recarga de aquíferos de pequena escala”, propõe o Banco Mundial.
Os custos das cisternas padrão (com 500 metros cúbicos) e chimpacas (12.000 metros cúbicos) são estimados em 32.000 USD e 160.000 USD, respectivamente. O potencial para barragens de areia e recarga de aquíferos na província do Namibe também foi avaliado e vários locais foram positivamente identificados e caracterizados nas bacias de Giraul (local onde o Governo pretende construir uma barragem avaliada em 250 milhões USD), Chingo e Camucuio.
Fonte: Expansão