
O mercado segurador voltou a crescer abaixo da inflação, com os segmentos saúde e petroquímica a significarem quase 54% do total das vendas. Os seguros obrigatórios, de que são exemplo o automóvel ou de trabalho, continuam muito abaixo do seu potencial. As seguradoras têm que alterar as suas estratégias.
Os prémios do mercado segurador em 2024 cresceram 24,9% para 473.729 milhões Kz face a 379.756 milhões Kz registado em 2023 de acordo com os cálculos da imprensa com base no relatório publicado pela Agência Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros (ARSEG). Estes são resultados preliminares, apesar do regulador prever um crescimento na ordem dos 27%, quando tiver os dados finais de todas as empresas.
Este crescimento do sector foi impulsionado pelos ramos doença (com 169.579 milhões Kz) e petroquímica (85.110 milhões Kz) ambos com um crescimento de 37%, acima da média dos ramos não Vida. Juntos valem quase 54% do total das vendas de seguros no País, justificado pelo facto da indústria petrolífera ser a mais importante da actividade económica, e porque o sistema nacional de saúde tem enormes carências, optando aqueles que têm essa possibilidade, por ter um seguro de saúde.
Esta liderança constante nos últimos anos destes dois ramos é um indicador de que as seguradoras precisam trabalhar para fazer crescer mais os outros tipos, sobretudo, os seguros obrigatórios como os ramos automóvel, acidentes de trabalho, multirriscos e responsabilidade civil, que estão muito abaixo do potencial que representam.
“Estes dois ramos representam mais de 57% dos prémios não Vida, o que é um peso excessivo nas carteiras. Podemos dizer que são seguros que não é necessário vender, pois são vendidos sem grande esforço comercial. Os outros ramos precisam ser vendidos e é necessária uma maior agressividade comercial na venda, em particular nos seguros de retalho, como o automóvel, em específico.”, explicou Paulo Bracons.
O consultor de seguros entende que o reforço de outros ramos só será possível com redes de agentes bem orientadas e focadas no retalho. E essa não tem sido uma aposta geral do mercado pois os resultados demoram a aparecer, e somente algumas companhias estão centradas neste esforço. E quanto mais tarde se começar, mais tarde se vão obter resultados, e o mercado nacional demora a ter níveis de penetração similar aos países da região.
Olhando para o desempenho de outros ramos, por exemplo, acidentes de trabalho teve um crescimento de 35% para 40.873 milhões Kz, ramo acidentes pessoais também cresceu 35% (2.077 milhões Kz), viagem 15% (1.241 milhões Kz), incêndio e elementos da natureza 52% (17.896 milhões Kz), outro dano em coisa cresceu 46% para 37.764 milhões Kz, transporte cresceu 30% para 11.935 milhões Kz e responsabilidade civil geral 26% (10.964 milhões Kz).
O ramo automóvel, que tem apenas um peso no global das vendas de 8,71%, só cresceu 16,5%, para 41.269 milhões Kz, ou seja, cresceu 11 pontos percentuais abaixo da inflação. O ramo continua a crescer abaixo do seu potencial pelo facto de ser, como já disse, um seguro obrigatório.
Para Paulo Bracons, há que de uma vez por todas, encontrar uma solução para o ramo automóvel que, sendo um ramo obrigatório, continua, ano após ano, a perder peso nas carteiras das seguradoras. É importante também reiterar que a falta de fiscalização destes seguros tem comprometido o seu crescimento. E a responsabilidade de as fiscalizar ultrapassa as seguradoras, ou seja, são os órgãos ministeriais que devem fazer. Para o automóvel, por exemplo, é da responsabilidade da Polícia Nacional, o seguro de acidente de trabalho e doença profissional é responsabilidade da Inspecção Geral do Trabalho (IGT), já o Instituto de Supervisão de Jogos fiscaliza o seguro de incêndio de edifícios e bens usados para jogos de azar, entre outros.
Ramo Vida continua em queda
Desde o ano passado que o ramo Vida continua em queda. Em 2024, os prémios diminuíram 38% para 30.067 milhões Kz. Este ramo, que está muito associado ao crédito bancário, vai diminuindo porque o seu crescimento tem sido muito assente num produto da Mundial Seguros. Estamos a falar do seguro de vida que o BPC exigia aos clientes que pediam crédito. E na medida que vão reduzindo as solicitações de crédito vai havendo redução na emissão de apólices e, consequentemente, deixar de contribuir para o crescimento do mercado. Aliás, o número de apólices deste ramo reduziu 30,50% para 235.781 apólices face a 339.269 de 2023.
“A venda do ramo vida é, por tradição, um negócio bancassurance e de algumas redes especializadas. Mas, para se venderem mais seguros de vida no canal bancário, há que criar condições para vender outros produtos Vida, em particular produtos financeiros de poupança, que são produtos estruturados e ligados a fundos de investimento e com lógicas de médio e longo prazo, sendo verdadeiros financiadores da economia”, explica.
Fonte: Expansão