A empresa concessionária do Corredor do Lobito realizou um total de 3.000 comboios de carga e passageiros, desde o arranque das operações em Janeiro do presente ano, cuja eficiência ficou consolidada com a utilização de software de sinalização electrónica e gestão da linha.
A informação foi avançada pelo presidente executivo da Lobito Atlantic Railway (LAR) e do Grupo Mota-Engil Angola, Francisco Franca, durante uma mesa redonda da Sika Summit Angola 2024, realizada em Luanda, sexta-feira, sob o lema “Tecnologia ao serviço da construção”.
Francisco Franca, que participou no formato virtual, revelou que, desde a assinatura do contrato de concessão, em Novembro de 2022, o consórcio constituído pelas empresas LAR, a Trafigura e a Mota-Engil procedeu uma série de investigações, trabalhos preparatórios de verificação da linha, num exercício que culminou com o levantamento geométrico e geotécnico no sentido de preparar, ao detalhe o investimento necessário para a operacionalização do referido activo.
No momento presente, deu a conhecer o gestor, decorrem trabalhos de manu- tenção da linha, sob responsabilidade da construtora Mota-Engil, a qual assume a qualidade de empreiteira no contrato com duração de 30 anos.
Os trabalhos cingem-se na colocação de balastros, nivelamento e realinhamento geométrico da linha, numa altura em que também está em curso forte investimento no melhoramento da própria linha, que consiste na soldadura dos carris, substituição de cinco pontes, reparação e apetrechamento das oficinas, assim como benfeitorias nos edifícios das 70 estações.
“Utilizámos equipamentos de ponta que já se encontram em Angola, o sistema de sinalização física não estava a funcionar porque grande parte dos equipamentos foi roubada ou vandalizada, pelo que hoje a linha é operada através de sistemas de comunicação navegáveis como rádios VHS e telefones. É um sistema virtual muito utilizado no mundo que permite suprir esta lacuna, ou seja, as próprias locomotivas estão equipadas com tecnologia que emite os sinais e fazemos a gestão da linha férrea”, assegurou.
De acordo com o gestor, a empresa sob seu comando lançou há dias um concurso público internacional em que concorrem 22 empresas que se mostram interessadas na prestação deste serviço suportado por satélites e redes de fibra óptica existentes em Angola, enquanto a empresa está a proceder a aplicação de painéis solares e outros equipamentos ao longo das estações com o fim de alimentar os sinais repetidores de telecomunicações com energia eléctrica.
Transferência de activos
A transferência dos activos do Estado e cerca de 500 trabalhadores para a concessionária constituiu um dos processos mais importantes que antecedeu o arranque das operações, segundo o presidente executivo da LAR.
Francisco Franca deu a conhecer que o quadro orgânico da empresa hoje conta com 800 trabalhadores, dos quais mais de 408 provenientes do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) e 128 do Porto do Lobito.
“Os caminhos-de-ferro em Angola são uma tradição, muitos trabalhadores já têm uma certa idade e grande conhecimento sobre a matéria, mas para que as três linhas pudessem funcionar, tivemos que proceder alterações na tecnologia, relacionadas, principalmente, com a gestão do tráfego e de locomotivas. Isto implicou a formação dos técnicos e ficamos felizes pelo seu desempenho, uma vez que, desde o arranque das operações até à data já circularam mais de três mil comboios, 2600 de passageiros, o restantes de carga, alguns de manutenção e serviço”, apontou.
A construção do Centro Operacional, o qual alberga uma área de gestão de tráfego e área de planeamento e gestão da linha, sublinhou Francisco Franca, permite fazer o planeamento diário, semanal e mensal dos comboios de carga e passageiros.
“Estamos a falar de mais de 300 jovens a trabalhar com o software, a nossa linha tem 1.300 quilómetros, contamos com 40 direcções. As tecnologias utilizadas aumentam o grau de eficiência da gestão da linha, cujo início das operações ficou marcado por grandes dificuldades que temos conseguido superar. Os 3 mil comboios sem um único acidente ao longo da linha representam um feito relevante”, enalteceu.
Arquitectos apoiam transição sustentada
O presidente da Ordem dos Arquitectos de Angola, Vity Claude Nsalambi, informou que a instituição que dirige tem estado a fazer a promoção do uso das novas tecnologias desde 2019, sustentada por um projecto de acção e sensibilização do meio técnico.
Devido às limitações materiais, avançou, a Ordem dos Arquitectos tem dificuldade em colocar em prática os seus programas enquanto organização com vocação para ajudar a criar as condições favoráveis para que a transformação digital aconteça. Nesta conformidade, frisou, a instituição se limita em sensibilizar o meio técnico para os arquitectos começarem a fazer a migração, por meio de palestras, razão pela qual, nos últimos tempos “já estamos a celebrar vários protocolos de cooperação, memorandos de entendimento e prestar parcerias”.
“Precisamos e temos que criar condições para que o associado encontre na ordem a oportunidade para dar esse salto. As ordens profissionais também têm o papel de chamar a atenção de quem de direito em relação às políticas públicas, temos que olhar para os planos curriculares nas universidades, daí que existe na ordem uma Comissão de Educação que interage com as universidades. Temos constante interacção com o Ministério do Ensino Superior com o qual temos abordado a questão da transição digital”.
Vito Claudy Nsalambi defende a necessidade de “educar” os arquitectos no sentido de terem domínio destas novas tecnologias, ao dizer que a Ordem dos Arquitectos tem em carteira a realização de um inquérito no sentido de aferir o diagnóstico, uma vez que, em sua opinião, “as estatísticas são extremamente importantes” para se ter noção daquilo que realmente existe.
Por seu turno, o administrador da SOAPRO, Hugo Fontes, considera o Corredor do Lobito como um activo que, além do transporte de mercadorias e mobilidade, tem a vocação de fazer crescer as comunidades do ponto de vista económico, o que passa pela sustentabilidade.
O engenheiro electrónico encara as novas ferramentas tecnológicas como “essenciais” na procura de soluções não só automotivas, travessas em betão, madeira, soluções que fazem com que o corredor seja descartável, contenham os melhores materiais, mais adequados para que a durabilidade seja importante.
Fonte: JA