Taxa de electrificação aumentou 6,4% em cinco anos, mas apenas quatro em cada dez angolanos têm energia (42,8%), ainda longe dos 60% previstos pelo Governo até 2025. Investimento no sector tem sido limitado por diversas razões, realidade que coloca em causa a transição energética em Angola.
Apesar dos acordos de produção associados às energias renováveis que foram anunciados nos últimos dois anos, e do perfil energético favorável devido à cada vez maior preponderância dos sistemas hidroeléctricos (e ao potencial por desenvolver nas energias limpas), Angola não tem sido capaz de atrair grandes investimentos para o sector, sobretudo ao nível da distribuição e instalação de novos sistemas.
Para dar a volta a este cenário, será necessário uma forte aposta nas redes de transmissão, sendo essencial a interligação entre os sistemas norte (onde está mais de 80% da produção actual), centro- -sul (parcialmente efectuado e está prevista a construção de novas linhas) e leste (os projectos com duração de 36 meses estão desenhados mas aguardam por financiamento).
Também é urgente investir na extensão da rede de distribuição (algo que é essencial nesta altura porque há capacidade por explorar) e de desenvolvimento de projectos fora da rede, sobretudo com recurso a energias limpas devido aos elevados custos operacionais das centrais térmicas e às questões ambientais.
O sector responsável pela maior parte do consumo de energia é o residencial, seguido dos transportes, que regista um forte crescimento fruto do desenvolvimento das frotas de veículos privados. No que diz respeito às renováveis, como a solar ou a eólica, não têm ainda expressão significativa na produção, mas foi estabelecido pelo Governo, como meta para 2025, que pelo menos 7,5% da electricidade gerada no País seja proveniente de novas energias renováveis.
“O consumo de electricidade tem-se mantido relativamente constante nos últimos cinco anos, apresentando um valor de 297 kWh/per capita em 2021”, segundo o documento de acesso livre “Energias Renováveis em Angola – Relatório Nacional do Ponto de Situação”, publicado no ano passado pela Associação Lusófona de Energias Renováveis (ALER) em colaboração com a Associação Angolana de Energias Renováveis (ASAER). Em 2021, a capacidade total instalada de produção eléctrica era de 5,9 Gigawatt (GW), repartidos por 63% de origem hídrica e 37% de origem térmica. Recentemente, João Lourenço anunciou que Angola pretende chegar aos 77% de produção de energia com recurso a fontes limpas, registo que até pode já ter sido atingido devido a questões operacionais.
“Na realidade, o relatório da ALER indica que, em 2021, a energia produzida a partir das centrais hidroeléctricas representou cerca de 78% do total, isto apesar de o sistema ter uma capacidade instalada hídrica de 62,5%”, sublinha Victor Fontes, presidente da ASAER. “Isto explica-se pela maior disponibilidade das centrais hídricas em 2021 (97% contra 63% das termo-eléctricas), um ano hidrologicamente bom, e também com o facto de haver actualmente uma capacidade instalada que supera a ponta (consumo máximo num determinado período)”, diz Victor Fontes.
“O PR deveria estar a referir- -se à capacidade instalada, pois referiu Caculo-Cabaça (o novo grande aproveitamento hidroeléctrico em construção, no Rio Kwanza), assim como os investimentos públicos nas centrais solares foto-voltaicas, prevendo- -se que, uma vez concluídos os empreendimentos em construção e planeados, o País terá uma capacidade instalada de pelo menos 77% de centrais para produção de energia eléctrica com recurso a energias limpas”, explica o gestor angolano e dirigente associativo.
Como a participação privada no mercado energético é ínfima, a produção é largamente dominada pela Empresa Pública de Produção de Electricidade (PRODEL) que detém 66 centrais, das quais 63 são públicas, uma delas é uma parceria público-privada e duas são privadas.
Fonte: Expansão