O barril de Brent vai terminar a semana a valer o mesmo que em meados de Novembro de 2022, embora já nessa sexta-feira tenha sido abalado por notícias em contraciclo de queda no volume das cargas de crude registadas em todo o mundo pelas agências e sites especializados.
Ao chegar aos 94,57 na quinta-feira, os analistas estavam confrontados com a possibilidade de se estar no início de uma escalada épica nos mercados, sendo que não faltariam razões para isso, desde logo o já conhecido contributo dos cortes na produção de sauditas e russos, ao que acresciam as melhorias na “adoentada” economia chinesa, o maior importador do mundo.
Desde 11 de Setembro, segunda-feira, até hoje, sexta-feira, 15, o barril de Brent ganhou mais de 3 USD, ganhos que podem continuar a engordar se se confirmarem as perspectivas traçadas nos últimos dias por vários organismos internacionais, incluindo o Goldman Sachs, que apontam como meta os 100 a 110 dólares por barril até ao final do ano..
Mas, porque quando a esmola é grande, o pobre desconfia, já na manhã de hoje, esse optimismo desenfreado foi ligeiramente adormecido com as notícias de menor trânsito comercial de cargas, o que não é de estranhar devido aos maus ventos oriundos do gigante asiático, com quebras na produção industrial e questões internas graves no âmbito da divida e no sector imobiliário.
E essa foi a razão para um ligeiro arrefecimento nos mercados, empurrando o barril de Brent, a referência principal para as exportações angolanas, para os 93,33 USD, perto das 14:30, hora de Luanda, menos 0,48% que no fecho anterior.
No entanto, se o refluxo no número de cargas diárias contabilizadas globalmente se deveu às notícias persistentes, nas últimas duas semanas, ao mau momento da China, essas parecem já estar a passar, como refere hoje a Reuters, o que fará, na próxima semana, regressar o optimismo. Isto, se nada de extraordinário suceder.
Até porque a disrupção da produção na Líbia, devido ao desastre gerado pela tempestade “Daniel” no passado Domingo, deverá continuar ainda por alguns dias, pelo menos, além de que só no futuro breve se começará a sentir de forma clara o efeito já antecipado pela Agência Internacional de Energia (AIE) de défice de oferta gerada pela retirada de 1,3 milhões de barris por dia (mbpd), a quantidade que este organismo estima que vá começar a faltar ao lado da procura.
Como olha Luanda para este cenário?
Para o Governo angolano, a questão mais relevante não é que a quebra na produção dos últimos anos está a retirar uma boa parte do potencial desta valorização do barril de Brent nas últimas semanas, a questão essencial é: o que seria de Angola com uma quebra de produção e uma repentina perda no valor do barril de igual monta face aos problemas que enfrenta?
Sendo verdade que a quebra na produção é superior aos ganhos da recente valorização, e basta fazer estas contas com menos cerca de 700 mil barris face a valores de há pouco mais de uma década, os actuais 92 USD que a medida padrão internacional vale são um balsamo para os pruridos gerados pela perda de vigor acelerada do Kwanza e a inflação galopante que o país vive, além da aparente complexidade na diversificação da economia.
No recente documento onde a AIE antecipa o seu Outlook anual, previsto para ser conhecido em Outubro, é dito preto no branco que os cortes na OPEP+ (3,6 mbpd), a que acrescem os feitos de motu proprio pela Arábia Saudita (1 mbpd) e pela Rússia (300 mil bpd), vão gerar, a partir de Setembro em diante, um desequilíbrio nos mercados a favor da escassez face à procura, o que levará o crude para um prisma de ascensão que, acrescenta a Goldman Sachs, não deverá parar antes dos 110 USD por barril de Brent.
O problema pode ainda ser mais severo se estes dois produtores colocados entre os três maiores do mundo e os dois maiores exportadores do planeta optarem, em Dezembro, por alongar esta estratégia para o 1º trimestre de 2024.
Caso não o façam, os mercados tenderão para o equilíbrio, mas até que os stocks das maiores economias sejam repostos, muito petróleo passará pelos oleodutos.
Contas nacionais
Para Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, esta consolidação dos preços do Brent acima dos 93 USD é uma excelente notícia, porque permite diluir os efeitos devastadores da crise cambial e gera superavit face ao valor de 75 USD por barril com que foi elaborado o OGE 2023.
Se continuar assim por muito tempo, as consequências podem ser bastante positivas porque o sector petrolífero continuará a gerar superavit que serve ao Governo para investir além do básico. E os riscos de subfinanciamento do Estado face aos compromissos assumidos no OGE, podem ser reduzidos, devido ao papel insubstituível, para já, das receitas petrolíferas no PIB.
O petróleo representa hoje, ainda, mais de 90% das suas exportações, corresponde até 35% do PIB e garante cerca de 60% dos gastos de funcionamento do Estado.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.
Fonte: NJ