O barril de Brent manteve esta terça-feira o brilho do início da semana, claramente acima da fasquia dos 85 USD, ainda por causa do anúncio da OPEP+ de um surpreendente corte de mais de 1,16 milhões de barris por dia (mbpd) na produção global do “cartel”.
Todos os analistas dos mercados petrolíferos, sem excepção, foram, na segunda-feira, 03, apanhados de surpresa com este movimento da organização que desde 2017 junta os Países Exportadores (OPEP) e a Rússia, ao acrescentar mais 1,16 mbpd às já substantivas reduções na produção feitas ao longo de 2022, primeiro 400 mbpd e depois 2 mbpd.
Com este movimento calculado, e bem-sucedido, para impulsionar o valor do crude nos mercados internacionais, que estavam a ceder de forma significativa a algumas medidas, como a injecção de milhões de barris das reservas estratégicas dos EUA nos mercados para fazer baixar os preços, a OPEP+ levou o barril a passar dos 79 USD na sexta-feira para os 85,20 USD esta terça-feira, perto das 10:20, hora de Luanda, numa subida ligeira de 0,22% face ao que se viu na anterior sessão, que foi superior a 6%.
A justificação deste inusitado movimento pela OPEP+ é a necessidade de manter os mercados equilibrados, mas a verdade é que os analistas sabem que a acção concertada entre Moscovo e Riade tem funcionado sempre que a ocidente, especialmente os EUA, ensaiam investidas para retirar valor ao barril, como foi o caso da agressiva injecção de reservas estratégicas nos mercados com esse objectivo.
Tanto os EUA como os seus aliados ocidentais procuram por todos os meios reduzir o preço da matéria-prima porque é nesta que reside uma boa parte das razões para a extraordinária subida da inflação nos últimos meses, atingindo valores recorde de 40 anos nos EUA, onde passou dos 10%, e na Europa ocidental.
E com a inflação a infligir danos brutais no custo de vida, as eleições Presidenciais nos EUA de 2024 poderão estar ameaçadas no que toca a uma tentativa do Democrata Joe Biden manter-se no poder derrotando o, provável adversário Republicano que será, se conseguir livrar-se dos processos judiciais e ganhar as primárias no seu partido, como as sondagens indicam, Donald Trump.
Entre os 13 membros do clube petrolífero, oito estão claramente empenhados no sucesso desta medida, como a Arábia Saudita, que vai contribuir com menos 500 mil bpd, o Iraque, com 211 mil, os EAU, com 144 mil, entre outros, sendo o corte mais curto o do Gabão, com 8 mil bpd, estando Angola fora dos contribuintes líquidos para esta baixa na produção do “cartel”, embora a direcção da OPEP esteja a procurar convencer os restantes membros a contribuírem com cortes.
Do lado dos não-membros da OPEP mas integrantes da OPEP+, a Rússia já anunciou o prolongamento do corte de 500 mil bpd ao longo de 2023.
As contas angolanas
Para Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, este momento dos mercados, é uma boa notícia para que o país possa realizar a necessária transformação económica libertando-se da dependência do crude, mesmo que tal venha a verificar-se nos últimos anos, se bem que menos que o desejado.
… com o barril a valer pouco mais de 84 USD, o Governo angolano volta a estar folgado no que diz respeito às suas contas porque o OGE 2023 foi elaborado com o barril nos 75 USD.
Este cenário é especialmente importante para Angola porque ainda depende em grande medida do seu sector energético, considerando que o crude representa mais de 90% das suas exportações, perto de 30% do PIB (tem vindo a descer nos últimos anos o peso do sector) e mais de 50% das receitas fiscais do Estado, sendo certo que o sector do gás natural já é uma importante fonte de receitas, superando mesmo o diamantífero.
Aliás, o Governo de João Lourenço, que elaborou o seu OGE para 2023 com um preço de referência para o barril nos 75 USD, tem ainda como motivo de preocupação uma continuada redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década.
Por detrás desta, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.
Fonte: NJ