Seita deixa 73 mortos no Quênia após jejum para conhecer Jesus
A polícia do Quênia anunciou nesta segunda-feira (24) ter localizado os corpos de 73 supostos fiéis de um culto que estimulava seus seguidores a jejuarem para “conhecer Jesus”. A maioria estava em valas comuns, mas há casos de pessoas que foram atendidas e não sobreviveram. Outros 33 fiéis foram resgatados até agora, de acordo com um órgão de investigação do país.
As autoridades prosseguem com as buscas, mas a expectativa é a de que a cifra de óbitos siga aumentando nos próximos dias. Segundo a Cruz Vermelha local, 112 pessoas foram dadas como desaparecidas em um escritório improvisado na região recentemente. Mais cedo, o chefe de polícia do país, Japhet Koome, afirmou que oito pessoas haviam sido encontradas vivas e encaminhadas a hospitais, mas não sobreviveram.
Os seguidores da autoproclamada Igreja Internacional das Boas Novas viviam em vários assentamentos isolados em uma floresta no vilarejo de Shakahola, perto da cidade costeira de Malindi. O ministro do Interior queniano, Kithure Kindiki, informou que a área de quase 320 hectares foi cercada e declarada uma cena de crime.
O suposto líder da seita é o pastor Paul Mackenzie —às vezes chamado de Paul Mackenzie Nthenge pela imprensa local—, acusado de realizar “uma lavagem cerebral” nos seguidores do culto. Ele foi preso no dia 14 de abril, quando autoridades receberam a denúncia de que corpos de ao menos 31 dos fiéis do grupo foram enterrados em covas rasas.
Mackenzie já havia sido preso e indiciado antes, em março, depois de ser denunciado pela morte de duas crianças por fome, mas foi solto sob fiança.
À agência de notícias Reuters, o investigador do condado, Charles Kamau, confirmou o número de mortos e disse que mais três pessoas foram presas, sem dar detalhes. A emissora queniana NTV, porém, afirmou que um dos presos estava detido por suspeita de ser um colaborador próximo ao líder.
Um policial afirmou à AFP que o pastor iniciou uma greve de fome e “está orando e jejuando” na prisão. Além dele, outros 14 membros do grupo estão sob custódia da polícia. O caso irá a julgamento no início de maio.
O presidente do Quênia, William Ruto, condenou o clérigo ao discursar em um evento nos arredores da capital, Nairóbi, nesta segunda. Ele declarou que Mackenzie “se apresenta como pastor quando, na verdade, é um criminoso terrível”, e afirmou que seus ensinamentos são contrários aos de qualquer religião autêntica.
Ruto ainda acrescentou que instruiu órgãos governamentais a investigar a origem do caso e a combater aqueles que se aproveitam da fé alheia “para promover ideologias bizarras e inaceitáveis”.
Presidente do Quênia promete ofensiva contra seitas após morte
O presidente do Quênia, William Ruto, prometeu nesta segunda-feira 24 adotar medidas contundentes contra movimentos religiosos “nebulosos”, depois que a polícia encontrou 58 corpos de pessoas suspeitas de integrar uma seita que exortava seus seguidores a jejuar para “conhecer Jesus”.
“O que vimos em Sakhola é algo característico de terroristas”, declarou o presidente durante uma cerimônia de entrega de diplomas aos funcionários do sistema prisional.
“Os terroristas usam a religião para promover seus atos hediondos. Pessoas como Mackenzie utilizam a religião para fazer exatamente o mesmo”, acrescentou.
No dia 14 de abril, as autoridades encontraram os restos mortais de quatro membros da Igreja Internacional das Boas Novas (Good News International Church), liderada por Makenzie Nthenge, que teria exortado os seguidores a jejuar para “conhecer Jesus”.
No mesmo dia, 11 pessoas foram resgatadas e hospitalizadas. Mas as descobertas macabras prosseguiram na floresta de Shakahola, perto da cidade costeira de Malini.
O chefe da polícia, Japhet Koome, que compareceu ao local nesta segunda-feira (24), confirmou a morte de 58 pessoas. O número inclui “os corpos exumados e os que morreram a caminho do hospital”, detalhou.
O presidente Ruto afirmou que pediu aos “organismos responsáveis que examinem o tema e cheguem ao fundo das atividades das religiões e das pessoas que querem usar a religião para promover uma ideologia nebulosa e inaceitável”.
Os policiais acreditam que devem encontrar mais corpos na floresta onde se reuniam os membros da seita. Vários integrantes da igreja continuam escondidos no local, embora 29 pessoas já tenham sido resgatadas, segundo Koome.