Existem pelo menos 600 ginásios em Luanda e a maior parte trabalha na informalidade. Hospitais de referência recebem, em média, 15 casos/mês de lesões graves provocadas por mau acompanhamento nos ginásios. Há personal trainers a facturar milhões, mas não têm qualquer capacitação profissional.
Crescem cada vez mais os ginásios ou casas de fisioculturismo na cidade de Luanda, um negócio que ganhou asas por causa da crescente procura de pessoas interessadas em manter a boa forma física. Mas esta actividade não está regulamentada e está a provocar uma autêntica dor-de-cabeça aos médicos nos hospitais, uma vez que são cada vez mais os pacientes com lesões graves provocadas nestes estabelecimentos.
Ao que à imprensaapurou, os maiores hospitais como o Complexo Hospitalar Cardeal Dom Alexandre do Nascimento (CHDCP) e a Maria Pia ou o Josina Machel recebem todos os meses, em média, 15 casos de lesões graves e problemas cardiovasculares alegadamente provocados por má utilização dos equipamentos ou até por ingestão de suplementos alimentares de origem duvidosa com o propósito de aumentar a massa muscular.
“Estes casos muitas vezes resultam em mortes porque chegam aos hospitais em estado muito avançado”, realça fonte do CHDCP, sublinhando que “é urgente uma regulamentação da actividade para se definirem requisitos que vão desde a actividade dos ginásios até mesmo à comercialização de anabolisantes ou suplementos, já que estas vendas são feitas sem prescrição médica”.
Estes números nos hospitais até pecam por escassez, admitem responsáveis destas unidades hospitalares. Segundo o médico e especialista em antidopagem, João Mulima, existem muitos outros casos que não chegam nos hospitais, como por exemplo as mortes súbitas que se têm ocorrido em pleno ginásio. De acordo com este profissional de saúde, têm ocorrido pelo menos uma morte mensal nestas circunstâncias.
“É urgente uma legislação específica que tenha dupla superintendência para os ginásios, que regule a parte a comercial -Ministério do Comércio- e outra que regule a parte técnica-exercícios, o equipamento e o profissional, que pode ser da competência do Ministério da Juventude e Desportos (MINJUD) para se evitar a proliferação desordenada de ginásios como se verifica actualmente”, sugeriu o especialista.
Face à forte proliferação verificada nos anos mais recentes, nenhuma entidade sabe ao certo o número exacto de ginásios que existem em Luanda, nem tão pouco no País. Mas à imprensa, fonte do MINJUD revelou que existem cerca de 600 ginásios ou casas de fisioculturismo na cidade capital, entre formais e informais. Um número que não bate com os da Federação Angolana de Fisioculturismo e Fitness, que avança apenas com 70.
Há de tudo um pouco
Em Luanda a maior parte desta actividade é dominada pela informalidade. Há de tudo um pouco, desde ginásios com condições equiparadas a nível internacional e até quintais com materiais adaptados pelos próprios “instrutores”, sem as mínimas condições exigidas, como por exemplo ferros anexados a latas de leite Nido e betão, apurou o Expansão durante visitas que efectuou a vários ginásios espalhados pela cidade e nos bairros periféricos de Luanda.
Os preços aos clientes variam desde 2 mil Kz/mês, num bairro periférico, até aos 135 mil Kz/mês, no centro da cidade. Mas quem paga este último valor tem direito a um personal trainer que o acompanha durante cinco vezes por semana, como é o caso de quem treina no Pro Ultimate Gym, localizado no largo José Régio na Vila Alice.
Não existe fiscalização nesta actividade, nem para regular preços, averiguar a qualidade do material, e nem tão pouco a qualificação dos próprios instrutores. Embora haja alguns ginásios, principalmente os do centro da cidade e outros que reúnem algumas condições como o Stronng Gym, localizado na avenida Brasil, que exige ao treinador qualificações tais como licenciatura ou um curso profissional que o habilite a exercer a actividade de personal trainer.
Fonte: Expansão