Grupos de jovens que se dedicam a organizar a entrada de passageiros nos táxis conseguem ganhar por mês oito vezes mais do que o salário mínimo nacional. Lotar os transportes era uma actividade contestada por taxistas e cobradores. A actividade vingou e hoje garante sustento de muitas famílias.
Os “lotadores” estão organizados por placas, nas diversas paragens de táxi da capital que são reconhecidas pela ANATA, associação que representa os taxistas. Na sua maioria, são jovens sem qualificação académica que realizam, apesar de informal, uma actividade remunerada e que oferece oportunidades de trabalho a centenas de pessoas, que cobram 200 Kz por cada táxi que lotam.
As placas de lotadores são constituídas, maioritariamente, por jovens que eram delinquentes e que encontraram aqui uma oportunidade para “ganhar” a vida, exercendo agora uma actividade informal com algum grau de organização. Além de organizarem as paragens de táxi (varrer) e de lotarem os carros, os jovens realizam, com o auxílio da ANATA e da Polícia Nacional, “palestras” para sensibilizar os seus membros a manterem a ordem e a tranquilidade nas paragens onde actuam. Estes jovens conseguem arrecadar entre 8.000 a 10.000 Kz por dia a lotar táxis em algumas paragens da cidade de Luanda. Multiplicando estes valores por 30 dias, cada “lotador”, mensalmente, reúne entre 248.000 a 300. 000 Kz, valor que octuplica o salário mínimo nacional, de 32.000 Kz.
Apesar de ser encarada por muitas pessoas como um trabalho que “não agrega valor” à sociedade, a verdade é que a actividade tem vindo a ganhar terreno e hoje é cada vez mais uma alternativa à falta de emprego.
António dos Santos “Sicrano”, de 23 anos, sustenta a sua família com o dinheiro que arrecada diariamente com a actividade de lotador de táxi. “Todos os dias levo para casa oito mil Kz, que me permitem pagar algumas contas e ajudo a minha noiva com dinheiro para ela fazer negócio”, disse o jovem da Placa Associação Comunidade Bem Melhor, situada na paragem da escola Nzinga Mbande, perto do largo Primeiro de Maio.
Rebeca João Cardoso, lotadora da placa 60 segundos, diz que, devido às dificuldades da vida, tem-se dedicado a lotar táxis, actividade que a ajuda pagar as propinas dos filhos e a sustentar a sua família. Por dia, nós podemos levar para casa entre oito a 10 mil Kz”, disse a jovem lotadora, de 38 anos. Um dos lotadores que preferiu não ser identificado confessa que deixou a criminalidade quando teve a oportunidade de trabalhar numa das placas da cidade de Luanda.
” Eu não aguentava mais viver sem ter um centavo no bolso, vendo os meus filhos a passarem fome, os meus pais a lamentarem da vida sem lhes poder acudir. Tudo isso me influenciou a entrar na vida da criminalidade”, disse o jovem que hoje sustenta a família “com honestidade”.
Os “lotadores”, além dos valores que levam para casa, fazem uma espécie de poupança na caixa da placa, que serve para acudir a situações de aperto. De acordo com o rendimento apurado, deixam entre 1.000 a 1.500 Kz por dia. O valor arrecadado serve, por exemplo, para apoiar situações de renda em atraso, óbito, ou outro problema em que o lotador necessite de dinheiro. O dinheiro fica sob a guarda de um “tesoureiro”, escolhido pelo presidente da placa, e que fica responsável pelos valores que os lotadores deixam na caixa, tendo de apresentar relatórios mensais à organização.
As placas de lotadores têm um organigrama, composto pelo presidente, vice-presidente, secretário, tesoureiro / administrativo, coordenador da cultura e do desporto e um porta-voz.
Lotadores põem ordem nas paragens
Vários passageiros reclamam dos roubos nas paragens de táxi da cidade capital e muitos apontam o dedo aos “lotadores”, como é o caso de Joana Maria.
Fonte: Expansão