Com uma procura tão elevada e pouca oferta de divisas, a pressão sobre o mercado cambial deve continuar. A diferença entre o formal e o paralelo volta a crescer, já que a taxa de câmbio do BNA de um dólar é de 852,2 Kz, enquanto nas kinguilas estão a ser vendidos a 1.080 Kz, um gap cambial de 27%.
Apesar da relativa estabilidade que se tem verificado no mercado cambial desde finais de Junho do ano passado, o kwanza voltou a cair em Maio. A moeda nacional recuou e já depreciou 3% face ao dólar e 2% face ao eurodesde o início deste ano, o que também ajudou a elevar o gap entre o mercado formal e o paralelo, de acordo com cálculos do Expansão com base nas estatísticas do Banco Nacional De Angola (BNA).
Logo depois do anúncio da subida dos transportes colectivos urbanos de passageiros, no dia 16 de Maio, a moeda verificou a depreciação mais acentuada do ano, já que o kwanza caiu 1,6% em apenas um dia, ao passar de 834,1 Kz por dólar (no dia 15 de Maio) para 847,4 Kz no dia seguinte. Esta quarta-feira, o dólar já valia 851,8 Kz quando em Janeiro 1 USD estava fixado em 828,8 Kz, o que representa uma depreciação 3%. A moeda nacional também voltou a depreciar face ao euro. Esta quarta-feira, a taxa de câmbio média do BNA do euro era de 926,5 Kz, ao passo que em Janeiro era de 903,7 Kz, uma depreciação de 2%.
A depreciação do kwanza no mercado formal, associada à escassez de divisas, contagiaram a subida das moedas estrangeiras no paralelo. Por exemplo, se nos bancos uma nota de 100 dólares está a ser negociada a um preço próximo dos 88.000 Kz, nas kinguilas a mesma nota custa 108 mil Kz, o que representa um gap de 23%. No caso do euro o gap é ainda maior (28%), uma “cabeça” de 100 euros já custa 122.000 Kz no mercado informal enquanto os bancos negoceiam a partir dos 95.000 Kz.
Para o economista Wison Chimoco, o BNA tem vindo a desvalorizar o kwanza à medida que as diferenças nas taxas de câmbio de mercado se acentuam, o nível de operações em atraso com o estrangeiro aumentam e as dúvidas sobre o regime cambial em Angola se agravam.
“Penso que tem de haver uma maior transparência na comunicação entre o BNA, os bancos comerciais e a opinião pública. Se o BNA diz que não tem fixado a taxa de câmbio, tem apenas de nos explicar de A a Z porque razão a taxa tem tido este comportamento “, disse o economista.
Entretanto, o BNA defende-se afirmando que não há qualquer medida administrativa para segurar a moeda nacional e que a taxa de câmbio que é praticada actualmente resulta da procura e oferta do mercado cambial.
Kwanza vai continuar a cair
Wilson Chimoco é de opinião que a moeda nacional vai continuar a cair nos próximos tempos, isto porque a procura tem-se mantido elevada face às disponibilidades que o mercado apresenta.
“A procura de divisas continua acima dos 1,2 mil milhões USD por mês e a oferta permanece abaixo de 800 milhões USD, e o sistema tem vindo a registar elevados níveis de operações cambiais com o estrangeiro. Enquanto o País não reduzir a procura, porque não existe ainda a possibilidade de a economia conseguir aumentar a oferta no médio prazo, o kwanza vai continuar a perder valor”, apontou.
No entanto, a aparente “acalmia” que se tem verificado no mercado cambial, deve-se ao facto de o mercado estar a habituar-se ao novo normal, já que os bancos comerciais passaram a ter acesso a apenas cerca de 600 milhões USD por mês, resultantes da queda substancial da oferta de moeda estrangeira que se registou no passado, quando em 2022 a média de vendas mensais de divisas foi de 1,2 mil milhões USD. Associado a isto está também o facto de o Tesouro ter voltado a intervir em Fevereiro, depois de ter estado praticamente ausente do mercado cambial desde o primeiro semestre do ano passado. O Tesouro disponibilizou 300 milhões USD que foram adquiridos na totalidade por 19 bancos comerciais em apenas duas horas. Para contornar a falta de divisas, o BNA voltou a injectar os 200 milhões USD, na segunda semana de Maio. Ainda assim, com uma procura tão elevada, a pressão sobre o mercado cambial deve continuar.
Fonte: Expansão