O ministro das Relações Exteriores entregou esta quarta-feira, 06, em Pequim, capital da China, uma missiva do Presidente João Lourenço para o seu homólogo Xi Jinping, que tem como conteúdo o desejo do reforço da amizade entre os dois países que está a ser desafiada por uma aproximação estratégica de Angola aos Estados Unidos.
Téte António entregou a carta de João Lourenço para Xi Jinping ao ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, num encontro com Wang Yi, enquadrado nesta visita de 72 horas onde o chefe da diplomacia angolana vai procurar reduzir a tensão criada pela mobilidade do pêndulo diplomático e económico de Luanda para ocidente.
Depois do recente encontro de João Lourenço com o seu homólogo norte-americano, Joe Biden, na Casa Branca, após um período de cerca de ano e meio de forte aproximação diplomática que levou os dois países a um entendimento estratégico que nunca se tinha visto em 30 anos de relações diplomáticas oficiais, os dois tradicionais aliados de Luanda, China, no campo económico-financeiro, e Rússia, na área militar, tendem a puxar o travão para analisar o que está a acontecer.
Sendo certo que João Lourenço, como pode ser revisitado, parece já ter tomado uma decisão sólida quanto ao destino preferencial dos seus entendimentos futuros, nomeadamente na questão das compras de armamento, dos EUA, e na questão do financiamento externo para projectos de O desenvolvimento nacional, as instituições ocidentais em detrimento da China, a avultada dívida do país a Pequim, cerca de 20 mil milhões de dólares, impõe a manutenção de um espaço importante para as relações sino-angolanas, assim como com Moscovo devido à base russa do armamento ainda em uso nas FAA.
E esse esforço está em cima da mesa desta visita de 72 horas de Téte António a Pequim, com a entrega da carta de João Lourenço a Xi Jinping, que o Jornal de Angola diz que tem como conteúdo a expressão do “sentimento de amizade, irmandade e solidariedade que unem os governos e povos sino-angolanos”.
Aproximadamente dos EUA a Angola é parte da estratégia da Administração Biden de recuperar o território político-diplomático perdido em África nas presidências de Barack Obama e Donald Trump, tendo esta investida como alvos retirar o espaço que China e Rússia tiveram sem oposição durante pelo menos duas décadas, nas quais, especialmente a China, ganhou uma posição de influência quase hegemónica, e Moscovo está a procurar acompanhar, especialmente na África Ocidental.
No pano de fundo a este realinhamento nas peças do xadrez africano está a batalha global entre os EUA e os seus aliados ocidentais e o eixo Rússia-China-Índia pela criação de uma nova ordem mundial depois de quase 80 anos de domínio quase total do “ocidente alargado”, que gerou, como lembrou o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, uma vantagem gigantesca para os ricos do Norte face aos pobres do Sul Global.
E África é um dos mais importantes palcos desta “batalha”, não só pelo acesso aos seus vastos e ilimitados recursos naturais, especialmente os minerais estratégicos fundamentais para as novas indústrias tecnológicas, como o coltão, o cobalto e as terras raras, mas igualmente pela procura de desequilibrar a balança na teia de alianças estratégicas globais que, por exemplo, levam a derrotas ou vitórias na aprovação de resoluções nas Nações Unidas.
Fonte: NJ