A produção industrial recuou para terreno negativo em 2023, interrompendo a trajectória de desempenho positivo registado entre 2021 e 2022, pressionado pela queda da produção de petróleo e diamantes. Destaque também para a forte queda da produção de bens intermédios no ano passado.
A actividade industrial em Angola voltou a recuar para terreno negativo depois de dois anos positivos, com a indústria extractiva (petróleo e diamantes) a ser a culpada pela queda verificada em 2023 ao registar um afundanço de 4,5%, revela o anuário estatístico sobre o Índice de Produção Industrial (IPI), divulgado esta semana pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
O IPI mede a produção em quatro sectores, nomeadamente as indústrias extractivas, as indústrias transformadoras, a produção e distribuição de electricidade, gás e vapor, bem como a captação, tratamento e distribuição de água e saneamento.
Em 2023, o indicador caiu 2,5%, tratando-se da pior queda da produção industrial angolana verificada nos últimos cinco anos.
Depois de em 2022 ter invertido uma tendência de queda verificada nos últimos anos, com um crescimento de 1,7%, em 2023 a indústria extractiva, um sector que vale 87,2% do indicador geral medido pelo INE, voltou a cair, desta feita 4,5%, o que acabou por atirar o IPI para baixo. Dentro das indústrias extractivas, destaque para a queda de 4,3% na extracção de petróleo e de 7,4% na extracção de diamantes.
Mas se a produção na indústria extractiva afundou em 2023, o mesmo não se pode dizer nos outros três sectores que compõem o IPI. Ainda assim, as indústrias transformadoras, que valem 10,1% de todo o indicador, tiveram um ligeiro crescimento de 0,02%, o que compara com os 5,1% verificados em 2022. Dentro das transformadoras, a maior queda foi registada no subsector das bebidas e do tabaco que apesar de se manter em terreno positivo viu a sua produção cair de 10,9% em 2022 para 5,9% no ano passado. Já a indústria de bebidas no ano passado cresceu apenas 4,0%, contrariando os 14,9% registados em igual período do ano anterior. A indústria alimentar no último ano também registou uma quebra fixando-se nos 6,7%, contra os 9,4% alcançados no período homólogo. Por outro lado, a empurrar a indústria transformadora para baixo esteve a produção de produtos petrolíferos e químicos, cuja produção fechou 2023 nos -14,0%.
Já o terceiro sector que compõe o IPI, a produção e distribuição de electricidade, gás e vapor cresceu 7,2%, fruto dos investimentos que o Governo continua a realizar neste sector considerado estratégico para o crescimento do parque industrial do País, apesar de muitos empresários e gestores continuarem a reclamar dos custos de produção nas unidades fabris que resultam de falhas no abastecimento de electricidade, obrigando-os a recorrer a fontes alternativas como os geradores, o que agrava os custos de produção.
Fontes do Expansão indicam ser determinante a electrificação do País e garantem, que nas condições actuais, apesar de ser um dos sectores que mais cresce, não há hipóteses de ter uma indústria com baixos custos de produção e são, para já, poucos os sectores industriais que podem suportar os custos de produção que envolvam fontes alternativas.
O quarto sector que compõe o IPI, a captação e distribuição de água, cresceu apenas 0,3%.
Assim, contas feitas, o IPI caiu 2,5% fortemente afectado pelo afundanço da produção nas indústrias extractivas, que não foi devidamente compensado pelos restantes sectores como a indústria transformadora, cujo crescimento abrandou. De acordo com economistas e gestores empresariais, este abrandamento do crescimento da industria transformadora é consequência da crise cambial, das limitações nas importações de matérias-primas e da instabilidade do mercado de consumo. Várias fontes sublinharam que a fórmula milagrosa para inverter a quebra da produção industrial, ou seja, para que Angola tenha um parque industrial robusto, passa por apostar na captação de investimento privado, nacional e estrangeiro, sobretudo para a indústria transformadora e criar incentivos para as micro e pequenas empresas.
Fonte: Expansão