
“Estamos a viver num mundo de incertezas relativamente à paz e segurança universais, pelas graves consequências da guerra que perdura há três anos na Europa entre a Rússia e a Ucrânia, da guerra no Médio Oriente que levou já à completa destruição das infra-estruturas da Faixa de Gaza, fazendo dela um território praticamente inabitável nas actuais condições de falta ou carência de alimentos, água, medicamentos e assistência médica, essenciais à vida humana”.
O Presidente da República, João Lourenço, aproveitou o seu discurso, por ocasião da visita da sua homóloga da Tanzânia ao país, para trazer a sua visão sobre os grandes conflitos que decorrem um pouco por cada parte do mundo, bem como os seu impactos para o continente africano.
Para o Chefe de Estado angolano, “a punição colectiva, a eliminação de forma indiscriminada de civis, mulheres e crianças e a tentativa de expulsão dos palestinos de suas terras deportando-os para países vizinhos, é algo que deve suscitar a mais severa indignação, repulsa e condenação de todos os povos do mundo”.
“Encorajamos as partes envolvidas a retomarem a via do diálogo, para dar continuidade e concluir os acordos alcançados e em parte cumpridos, de libertação de reféns israelitas e de prisioneiros palestinos das cadeias”, disse.
João Lourenço acredita que “este é o único caminho possível para se alcançar a paz definitiva em toda a região e viabilizar o cumprimento e materialização das Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, sobre a imperiosa necessidade da criação do Estado Independente da Palestina”.
Ao olhar para o continente, enquanto Presidente da União Africana, liderança assumida em Fevereiro deste ano, João Lourenço disse que “África deve estar atenta a estes processos tumultuosos de reconfiguração geopolítica onde a razão da força se sobrepõe e prevalece sobre a força da razão e do Direito Internacional e, por isso, assumir uma postura que possa funcionar como um factor de equilíbrio e de defesa dos grandes interesses e objectivos do nosso continente“.
Conflitos internos
Aproveitou, igualmente, o momento para reiterar que, devido a presidência actual da União Africana, foi necessário retirar-se da mediação directa dos esforços para a pacificação do Leste da República Democrática do Congo para que outro Chefe de Estado possa dar sequência ao trabalho iniciado por Angola, tendo indicado o Presidente do Togo para tal missão.
“Com a nova mediação, tudo faremos para que o processo de pacificação do leste da RDC e o restabelecimento das relações entre a RDC e o Ruanda continuem no quadro da União Africana, única entidade competente para indicar, acompanhar e apoiar a mediação em África, sempre em estreita coordenação e cooperação com o Conselho de Segurança das Nações Unidas“, vincou.
João Lourenço voltou a mencionar outra preocupação que tem a ver com o conflito no Sudão, “em relação ao qual devemos todos contribuir e apoiar as iniciativas de Sua Excelência o Presidente Musseveni, do Uganda, voltadas para a resolução deste conflito, cuja gravidade e consequências devem merecer uma reacção firme de toda a África para que se ponha fim à guerra que assola aquele país irmão”, apelou.
Para tanto, João Lourenço disse contar “bastante com a República da Tanzânia enquanto Membro do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, Terceiro Vice-Presidente do Bureau da União Africana e Presidente do Órgão da SADC para a Política, Defesa e Segurança”.
Interligação dos corredores do Lobito e do TAZARA
No quadro da visita de 72 horas da Presidente da República Unida da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan, ao país, iniciada na segunda-feira, 07, foram assinados dois instrumentos jurídicos de cooperação, a saber, um acordo no domínio da defesa envolvendo os dois ministérios do sector, e outro entre a Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações, AIPEX (de Angola) e o Centro de Investimento da República Unida da Tanzânia, “visando a ampliação do investimento em cada um dos países”, conforme destacou a Presidência da República.
Entretanto, está previsto a assinatura de outros cinco acordos entre os dois países. A expectativa, segundo João Loureço, é que as infra-estruturas ferroviárias e portuárias de Angola e a da Tanzânia possam “contribuir a favor do comércio e da economia mundial, com a redução do tempo de navegação e dos custos de transportação das mercadorias, através da interligação dos corredores do Lobito e do TAZARA, que tornarão mais curta as ligações entre a Ásia, África, Europa e América pelos oceanos Índico e Atlântico“.
No seu discurso, o Chefe de Estado angolano fez ainda recordar que Angola e a Tanzânia “mantêm relações diplomáticas desde Agosto de 1981, com a assinatura do Acordo Geral de Cooperação Económica, Científica, Técnica e Cultural”.
Esta, segundo disse, é “a mais importante ferramenta que sustenta o nosso intercâmbio e constitui a base sobre a qual se forjaram uma série de outros instrumentos de cooperação em diferentes domínios da vida nacional de cada um dos nossos países, fundamentais para o estreitamento das relações que nos unem”.
O Chefe de Estado angolano aproveitou também a ocasião para felicitar Samia Suluhu Hassan pela sua eleição como candidata do Chama Cha Mapinduzi, como candidata do Partido às eleições de Outubro de 2025.
Por sua vez, em declarações à imprensa, Samia Hassan informou que João Lourenço irá efectuar uma visita oficial ao seu país em Julho de 2026.
A estadista tanzaniana reafirmou ainda “o interesse genuíno que o seu país tem de estreitar os laços de amizade e cooperação com Angola, anunciando, entre outras iniciativas nesse sentido, a facilitação da mobilidade, suprimindo a exigência de vistos a cidadãos angolanos que queiram viajar para a Tanzânia”.
Fonte: CK