Publicidade
NotíciasPolitica

Desvalorização recorde do Kwanza está a destruir o que resta da precária classe média angolana, aponta oposição e organizações da sociedade civil

“Neste momento a classe média são os membros do Bureau Político do MPLA. De resto, com o Kwanza a depreciar-se regularmente, já não existe classe média em Angola”, disse à imprensa o vice-presidente da segunda comissão da Assembleia Nacional, o deputado pela UNITA, Joaquim Nafóia.

Com a sólida perda do Kwanza face ao dólar e ao euro desde 12 de Maio, período em que a moeda nacional começou a afundar “é preciso começar a pensar muito bem onde é que vamos parar, onde é que o país vai parar”, questionou o deputado, frisando que todas as políticas do Governo do MPLA sao um “autêntico fracasso” como se pode verificar com esta crise cambial e a inflação que avança sem travão.

Na sua opinião, a desvalorização da moeda nacional “piorou absolutamente a vida dos angolanos que já enfrentam uma crise, económica e social sem precedentes”.

“O Executivo forçou a apreciação do Kwanza em tempo pré-eleitoral e eleitoral. Os benefícios passaram por baixar preços e exacerbar os resultados de políticas que permitiram ao País uma redução substancial do seu rácio da dívida sobre o Produto Interno Bruto”, referiu, estando agora, foram do ciclo eleitoral, a “mostrar o que vale”.

O secretário-geral do PRS, Rui Malopa Miguel, entende que valorização do dólar face ao Kwanza é decisiva no aumento de preços e continuidade dos protestos.

“A subida dos preços que se regista actualmente no mercado angolano não se deve muito ao aumento nos preços dos combustíveis, mas sim pelo aumento da inflação cambial”, acrescentou o também deputado à Assembleia Nacional.

“A queda do valor do Kwanza deverá aumentar a inflação e vai fazer subir também o custo do pagamento da dívida, o que terá um efeito muito negativo sobre a vida das famílias angolanas que vivem do seu trabalho”, acrescentou.

O membro da Associação Mãos Livres, Salvador Freire dos Santos, diz que a desvalorização da moeda reduziu de forma drástica o poder de compra dos angolanos e o salários dos trabalhadores, quer os ligados à função pública como nos privados, todos ficaram diminuídos, asfixiados e sem capacidade de resposta.

“Trouxe de forma geral um descontentamento devido ao sufoco que vivemos sem comparação possível recordando o passado em que vivemos nos anos aquando do Kwanza burro em que a inflação levava a comprar um simples pão em muitos de Kwanzas”, disse.

Na sua opinião, a moeda nacional hoje não tem qualquer valor económico em relação a qualquer outra moeda sobretudo quando é taxado ou comparado com o dólar, e isso influi “gravemente no tecido social angolano”, onde a classe média definha e os privilegiados são “os mesmos de sempre”.

“Isso representa que a economia angolana está de rastos. Hoje como tal leva as famílias a passarem dos momentos mais tristes das suas vidas, chegando mesmo a maioria a passar momentos onde não têm nada para se alimentar”, referiu.

Lamentou os milhares de cidadãos que vivem dos contentores de lixo.

“Esses problemas de angolanos passarem dias sem se alimentarem esta a ser sentida não só nas principais cidades deste País mas também no interior, com pais a não terem nada para dar aos filhos, progenitores que abandonam os filhos… é a exoneração do Estado das suas responsabilidades perante os cidadãos”, referiu defendendo que o Governo optou por “não querer ver o que se passa” no país”.

O coordenador do Observatório Eleitoral Angolano, Luís Jimbo, entende a classe média está a passar rapidamente para o patamar da classe pobre porque, além do actual rendimento já não ser suficiente para pagar as suas despesas, não vê como a situação poderá melhorar num tempo razoável.

“Em resumo, a actual situação do aumento dos preços e a desvalorização do Kwanza face ao dólar e ao euro está a levar à diluição da classe media no universo da classe pobre. Outro problema grave que surge neste contexto e a motivação da fuga de cérebro angolanos para a Europa”, argumentou.

“O Presidente da República deve promover directamente o diálogo com outros líderes de partidos políticos no âmbito da agenda 2050, criar consensos políticos e também promover maiores espaços de debate público sobre as questões sociais e económicas, com a sociedade de modo inclusivo e participativo para que o cidadão seja parte da solução”, concluiu.

Fonte: NJ

Artigos Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Botão Voltar ao Topo