Uma nota do gabinete de estudos do Banco de Fomento Angola (BFA) aponta para que a desvalorização da moeda nacional vá catapultar a inflação para os 20 por cento este ano com um agravamento do cenário macroeconómico.
Nesta nota, o BFA sublinha, naquilo que é uma das mais negativas estimativas para a economia angolana, que a recessão deverá atingir os 1,4 por cento, sendo que a perda de vitalidade do Kwanza emerge também como uma dos factores que impulsionam para esta realidade.
Os analistas do banco angolano não têm boas notícias quanto a um dos problemas que mais atingem os angolanos na qualidade de vida, que é a desvalorização cambial acentuada do Kwanza, prevendo que “o câmbio fique perto do nível actual ou corrija muito ligeiramente” até ao final do ano.
Alertam també que, mesmo que o movimento estabilize, “a depreciação já ocorrida continuará a impactar os preços, pelo que a previsão de inflação foi agora revista para perto dos 20% em 2023”.
O documento explica que “o cenário macroeconómico hoje é significativamente diferente face à expectativa da generalidade dos agentes económicos; de igual modo, também a nossa perspectiva neste momento é diferente do que prevíamos no início deste ano”, dizem os economistas do BFA na nota, citada pela Lusa, em que mudam a previsão de evolução da economia angolana, prevendo agora uma quebra da economia entre os 1% e os 1,4%.
“O desempenho de 2022 influenciou em grande parte a formação de expectativas em 2023 e até princípio deste ano não se pensava que a taxa de câmbio até junho afundaria mais de 50% e que novos desafios quanto à inflação iriam surgir logo no primeiro semestre do ano”, argumentam, na nota enviada aos clientes e a que a Lusa teve acesso.
“Acreditamos que a inflação possivelmente termine o ano perto ou acima dos 20% se não houver uma reacção forte da política monetária e também alguma recuperação do kwanza”,lê-se no documento, que alerta, ainda assim, que “uma reacção forte o suficiente para conter o crescimento dos preços poderia prejudicar ainda mais o crescimento económico, em particular no sector não petrolífero”.
O impacto da retirada dos subsídios aos combustíveis, “em conjunto com a depreciação abrupta do kwanza, está a ser bastante forte para a economia não petrolífera: os preços dos bens importados e dos bens em geral aumentaram, o poder de compra caiu e como consequência o consumo deverá cair também; ao mesmo tempo, esta conjuntura causou um ambiente de incerteza e deterioração da confiança dos consumidores, que vinha a crescer desde o ano passado”, o que, entre outros factores, deverá fazer com que a taxa de desemprego permaneça “perto dos 30% ou até aumentar ligeiramente”.
No caso da produção petrolífera, a perspectiva do BFA mantém-se negativa, não se tendo agravado face ao início do ano: “A produção terá caído 6,7% no primeiro semestre do ano com base nos dados da OPEP, o que indica quebra na mesma magnitude do PIB petrolífero”, dizem, apesar de reconhecerem que “mais recentemente, a produção começou a subir em termos mensais e em julho chegou aos 1,17 milhões de barris por dia, o valor mais alto desde agosto do ano passado”.
Apesar disso, acrescentam, “ainda é notório que Angola continua a enfrentar restrições de capacidade e, com base nisso, a produção petrolífera não vai evoluir no segundo semestre deste ano ao ponto de compensar a perda de 6,7% ocorrida nos primeiros seis meses, sendo que por isso há a considerar uma contracção no sector”, que deverá cair cerca de 5,4%.
O sector não petrolífero, pelo contrário, deverá ter crescido, de abril a junho, acima dos 3,1% registados no primeiro trimestre deste ano, mas deve cair no terceiro e no quarto trimestre deste ano, o que fará com que, no total do ano, a previsão do BFA aponte para uma estagnação do crescimento do sector não petrolífero.
“Ao todo, esperamos que haja uma estagnação no sector não petrolífero, o que é equivalente a dizer que a actividade vai interromper uma sequência de crescimento que vem desde o primeiro trimestre de 2021”, motivada por vários factores, “com destaque para a depreciação da taxa de câmbio – que está a tornar muitos investimentos inviáveis -, quebra no consumo e contracção real no crescimento do crédito, contribuindo para que na totalidade o PIB contraia perto de 1 a 1,4%”, concluem.
Fonte: NJ