Os partidos políticos da oposição entendem que os concursos públicos promovidos pelo Governo para a função pública são um “autêntico insulto “aos angolanos e exigem que se potencie o sector privado para que haja mais emprego no País.
“O Governo não tem capacidade para dar emprego a todos e não cria condições para potenciar o sector privado que deveria ajudar na criação de mais postos de trabalho, para empregar os milhares de jovens desempregados no País”, lamentou o secretário da UNITA em Luanda, Nelito Ekukui.
Segundo o também deputado à Assembleia Nacional, “é triste nos últimos dias observar milhares de jovens angolanos a andarem de um lado para outro, na sequência de anúncio de um concurso público na Administração Geral Tributaria (AGT), uma das instituições públicas com maior salário médio no País”.
“O País está agitado com 360 vagas para o ingresso na AGT, onde a remuneração dignifica os funcionários desta instituição. Porque é que não se cria condições também de bons salários nas outras empresas?”, questionou o deputado.
Para Nelito Ekuikui, é obrigação do Governo o fomento à criação de empregos nos centros urbanos e rurais para reduzir a taxa de desemprego que assola o País.
O secretário-geral do Bloco Democrático, Muata Sebastião, disse que o desemprego juvenil é uma preocupação no País e que o Executivo tudo deve fazer para a resolução deste problema.
“Não fica bem o que estamos a assistir. Por causa de 360 lugares para serem ocupados através de um concurso público, o País entra numa agitação sem precedentes. A redução do desemprego passa pela dinamização do sector agrícola e o fomento de cursos técnico-profissionais”, referiu, salientando que o desemprego em Angola é um dos principais desafios que os jovens enfrentam.
Muata Sebastião duvida que a taxa de desemprego em Angola tenha registado, no segundo trimestre de 2022, uma ligeira descida em termos homólogos, para 30,2%, diminuição que foi também observada na população entre os 15 e 24 anos.
“Vemos todos os dias, nos centros da cidade, jovens preocupados à procura do emprego. Este dado do Instituto Nacional de Estatística deve ser analisado”, lamentou.
O porta-voz da FNLA, Ndonda Nzinga, referiu que os jovens angolanos estão preocupados com o alto índice de desemprego e temem que a situação venha a piorar nos próximos cinco anos.
“O partido no poder que sustenta o Governo, durante a campanha eleitoral, prometeu reduzir o desemprego no mínimo para 25 por cento e garantiu que vai estimular o empreendedorismo, mas na prática não se vê”, lembrou, salientando que os bancos não facilitam o acesso àao crédito para a juventude criar os seus empregos.
O Portal ouviu muitos jovens interessados a participar no concurso público anunciado pela AGT que asseguraram que é apenas para cumprir formalidades, porque na realidade a vaga já tem os seus vencedores.
“Só vamos gastar o nosso dinheiro para organizar os processos de candidatura, mas o que sabemos é que as 360 vagas já têm os vencedores, que são filhos de governantes, irmãos dos responsáveis da AGT”, antecipou o jovem Arnaldo Savedra Jamba.
Segundo ele, uma parte destas vagas terá como prioridade os militantes da JMPLA, OMA e de outras organizações ligadas ao partido no poder.
“Vou tentar”, concluiu o jovem, que apela também ao Executivo para que crie condições para a promoção do emprego no País.
O despacho do Ministério das Finanças (MINFIN), já publicado em Diário da República, confirma o reforço de pessoal na AGT com 360 vagas na categoria de técnico médio tributário de terceira classe.
O MINFIN classifica o concurso público como sendo “muito urgente” e refere que as 360 vagas serão distribuídas em três categorias para os serviços centrais e nas delegações regionais da AGT.
As vagas são destinadas às categorias da especialidade aduaneira e fiscais, especialistas em controlo e tratamento de imagem para técnicos Operador Scanners e Raio-X, Técnico Operador de CCTV e para a especialidade de Informática.
Segundo o despacho do MINFIN a que ao Novo Jornal teve acesso, a província do Bengo é a que tem o menor número de vagas, apenas três, seguido das províncias do Kwanza Sul, com seis, Benguela, com sete, e Bié, com oito.
As províncias com maior número de vagas disponíveis são as do Cunene, com 36, e Kuando-Kubango, com 34. Seguem-se as províncias de Cabinda, com 29, e Luanda, com 28.
As províncias do Zaire e do Moxico, conforme o despacho do MINFIN, têm 27 cada. São seguidas pelas províncias de Malanje e Uíge, com 25.
O documento informa que a Lunda Norte tem disponíveis 22 vagas, menos uma que a sua vizinha Lunda-Sul.
No Namibe, Huíla e Kwanza Norte, a Administração Geral Tributária tem para o presente concurso público de ingresso dez vagas cada. A província do Huambo tem disponíveis 11 vagas.
Conforme o despacho, a AGT sede tem também disponíveis 20 vagas.
A recepção das candidaturas ao concurso estava inicialmente previsto para esta quarta-feira, 18 de Janeiro, com o seu término marcado para o dia 14 de Fevereiro.
Fonte: NJ