A forte desvalorização do Kwanza iniciada em Maio fez com que os angolanos estejam a enviar menos quantidade de dinheiro lá para fora onde têm as suas famílias ou filhos a estudar. Hoje, para enviar 1.000 euros são necessários pelo menos 400 mil Kz a mais face ao que era necessário há quatro meses.
Actualmente fica mais barato comprar divisas até 595 euros nos mercados informais de rua do que enviar até esse valor via transferências bancárias, de acordo com cálculos da imprensa, já que as taxas fixas cobradas pela banca fazem com que quanto mais baixo for o valor a transferir, mais cara fica a operação.
A desvalorização cambial verificada no II trimestre deste ano, que se traduziu numa depreciação de quase 40% do kwanza face ao dólar e ao euro, teve como consequência uma queda das necessidades de divisas por parte das famílias angolanas que têm dependentes a viver noutros países.
Só para se ter uma ideia, se até Maio para enviar 1.000 euros via banco teria de despender pouco mais de 550 mil Kz, hoje o cliente bancário já gasta cerca de 981 mil Kz. Como a maior parte dos salários no País não aumentaram em proporção da desvalorização cambial, significa que o esforço para enviar a mesma quantidade de euros é hoje inviável para muitas famílias. Assim, muitas estão a enviar os mesmos 550 mil Kz, que equivale hoje a 480 euros, já com os impostos e com as despesas cobradas pelos bancos.
Resta, assim, os angolanos que vivem lá fora e que dependem dos rendimentos do seu agregado familiar em Angola estão obrigados a apertar o cinto, havendo já relatos de situações difíceis e, em alguns casos, dramáticas de pessoas que deixaram de conseguir pagar rendas de casas e suportar a alimentação necessária.
Manuel António, que saiu do País por questões profissionais, é actualmente proprietário de uma imobiliária e falou à imprena sobre as dificuldades que enfrenta para receber o dinheiro dos negócios que possui em Angola. Admite que o facto de o kwanza ter depreciado tanto faz com que quase “já nem valha a pena” transferir dinheiro de Angola, até porque essas operações também já estão a demorar mais tempo do que no passado. É por isso que optou por transportar o dinheiro em cash, embora nem sempre consiga encontrar alguém para transportar o dinheiro de Angola para estrangeiro. Nos casos em que não há familiares a viajar, a solução é enviar o dinheiro por intermediários que se dedicam ao transporte de divisas. Nesses casos, de acordo com os relatos de Manuel António, correm-se riscos altíssimos por serem práticas informais.
Já Kelinho Costa vive em França mas mantém negócios em Angola. Diz que deixou de realizar transferências por via dos bancos e optou por outras instituições que oferecem o serviço com maior rapidez.
O economista Wilson Chimoco explica que, de facto, se tem assistido nos últimos tempos a uma redução na disponibilidade de divisas no sistema financeiro nacional, bem como elevada demora na execução de operações para o estrangeiro. Ainda assim, revela que a “culpa” não é da incapacidade dos bancos comerciais em executar as operações mas sim da escassez de divisas no mercado. E não se sabe até quando esta situação vai continuar assim, já que o mercado cambial tem estado pouco dinâmico.
Quanto maior o valor, mais barato fica
De acordo com cálculos da imprensa, quanto maior for o valor a transferir mais baixo fica o câmbio a que essa operação é realizada. A título de exemplo, se o cliente bancário pretender transferir 500 euros, terá de ter 527 mil Kz na conta. Contas feitas, cada euro sai a cerca de 1.054 Kz, tornando-se mais barato comprar nas kinguilas, já que cada unidade da moeda europeia saia esta terça-feira a 1.030 Kz. Só fica mais caro nas kinguilas digitais, que cobravam nesse dia 1.055 Kz por cada euro, só que a vantagem é que a transferência é feita no dia e por via bancária, já que esse kinguila digital recebe em kwanzas na sua conta angolana e transfere euros da sua conta na Europa para uma conta do cliente também lá fora. Só que esta prática é ilegal e como qualquer prática fora da lei os envolvidos correm sempre o risco de caírem em esquemas fraudulentos. O mesmo acontece nas ruas.
Mas nem só de transferência bancária e de compras nas kinguilas vive o mercado cambial, já que uma alternativa para usar no exterior é precisamente a utilização de cartões pré-pagos e de crédito Visa. É importante lembrar que só no primeiro trimestre deste ano os angolanos já gastaram em cartões pré-pagos no estrangeiro cerca de 182,3 mil milhões Kz,o que representa um crescimento de 185% quando comparado com os 63,9 mil milhões Kz registados no mesmo período de 2022, ou seja, os gastos praticamente triplicaram.
Fonte: Expansão/AN