Após um ano estagnado numa taxa de juro de 20% (entre julho de 2021 e setembro de 2022), o banco central avança com uma sequência de três desapertos da política monetária num período de sete meses. Havia margem para uma descida maior, mas dada a incerteza, o BNA preferiu ser prudente.
Pela terceira vez consecutiva, num período de sete meses, o Comité de Política Monetária (CPM) do Banco Nacional de Angola (BNA) reduziu a taxa básica de juro. Desta vez, o banco central cortou 1,0 ponto percentual (pp), de 18% para 17%, em resposta ao abrandamento da taxa de inflação para 11,5% em Fevereiro.
Além do corte da taxa básica, que influencia as outras taxas do mercado, o banco central decidiu reduzir a taxa de juro da facilidade permanente de cedência de liquidez de 18% para 17% e a taxa de juro da facilidade permanente de absorção de liquidez de 14% para 13,5%. Igualmente, procedeu à flexibilização das condições de liquidez no sistema financeiro, ajustando o período temporal para o cumprimento das reservas obrigatórias pelos bancos comerciais, passando da actual base fixa diária para uma média de cumprimento quinzenal. Já os coeficientes em moeda nacional e estrangeira, em 17% e 22%, respectivamente, mantêm-se inalterados.
Apesar da redução das taxas de juros que confirmam o terceiro desaperto da política monetária desde Setembro de 2022, economistas consultados pelo Expansão concordam que a medida tem ainda pouco impacto sobre a economia real.
“A decisão tem pouco efeito sobre a economia real. As taxas de juro de referência estão todas acima das taxas Luibor, que servem de referência/indexantes para a concessão de crédito. Ou seja, hoje os bancos estão a conceder crédito com taxas abaixo dos 17% (Luibor + spread), porque a Luibor com a maturidade mais longa, 12 meses, já está a 12%, isto é, 500 pontos bases abaixo da Taxa BNA e da Taxa de Facilidade Permanente de Cedência de Liquidez que, em tese, são o referencial dos bancos para o custo de obtenção de recursos”, afirma o economista Wilson Chimoco.
Entretanto, segundo Chimoco, o impacto na economia real poderá sentir-se se os operadores do mercado real interiorizarem que o posicionamento do BNA é sinónimo de mais estabilidade nos preços, facto que poderá contribuir para a redução na apetência à especulação de preços.
Por sua vez, o também economista Mateus Maquiadi aponta que a redução da taxa “quase não tem impacto na economia”, uma vez que o BNA praticamente não usa para transacções no mercado monetário. “Nesse sentido, a redução da taxa básica de juro tem a sua relevância no quadro da transmissão da política monetária via forward guidance – ou seja, ind[1]cando ao mercado o que esperar no futuro da política monetária -, visto que a decisão tomada no dia 21 é um sinal claro que o BNA dá ao mercado que espera ver a inflação a continuar a sua trajectória de desaceleração. Por essa via, passa a mesma expectativa aos agentes económicos e, sobretudo, aos bancos de que poderão contar com juros mais baixos no futuro próximo, o que pode potencialmente influenciar decisões de investimento”, argumentou.
Conforme explica, em termos de efectividade da política monetária no curto-prazo, as operações de mercado aberto têm maior relevância. Ou seja, a verdadeira política monetária continua a ser feita por meio das operações de mercado aberto com acordos de recompra que acabam por impactar nas Luibors e reduzir o custo de crédito à economia.
Margem para maior redução dos juros
Para Wilson Chimoco, a decisão do BNA foi a mais acertada pois está alinhada, por um lado, com aquilo que era a expectativa do mercado e, por outro lado, pelo bom desempenho da taxa de inflação e da taxa de câmbio nos últimos dois meses.
Entretanto, o BNA ainda tem margem para reduzir a taxa de juro. “A minha expectativa passava por um corte de 150 pontos base na taxa BNA. Contudo, compreendo a posição do CPM. O preço do petróleo tem vindo a recuar e a taxa de inflação mensal em Fevereiro voltou a acelerar. Logo, a ponderação faz-se necessária”, apontou.
O pensamento de Chimoco converge com a opinião de Mateus Maquiadi, que defende que com os níveis actuais de inflação, o BNA ainda tem margem para reduzir em até três pontos percentuais a taxa de juro. Essa margem pode ainda aumentar a medida em que a taxa de inflação se mantém na sua trajectória decrescente e o BNA precisa monitorar o rumo da taxa real de juros.
“Penso que o BNA tem sido demasiado conservador e acho que poderia baixar mais, talvez para 15%, pelo menos por agora”, aponta Mateus Maquiadi.
O “bord” liderado por José de Lima Massano, governador do BNA, justifica a decisão com o “andamento da economia, particularmente, o comportamento da variação de preços”.
Massano aponta que a queda do índice de preços no consumidor desde Fevereiro de 2022 e sublinhou que as medidas adoptadas pelo BNA têm resultado em estabilidade e melhoria das condições de preços, pelo que não faria sentido “manter taxas de juro num sentido excessivamente conservador”.
“Ainda assim avançamos com prudência, aguardamos os dados de Março da inflação, mas devemos confirmar a inflação a manter o curso de recuo. Abrimos espaço para que as condições sejam alteradas do ponto de vista de liquidez e que o crédito seja concedido em melhores condições”, admitiu.
Fonte: Expansão