A dívida cresce progressivamente de ano para ano tornando o buraco financeiro mais fundo, face à incapacidade que a empresa tem para gerar receitas para cumprir com as suas obrigações. Os problemas estruturais colocam em risco a viabilidade da ENDE e anunciam a necessidade urgente de reformas no sector.
A Empresa Nacional de Distribuição de Electricidade (ENDE) acumula um prejuízo de 465,4 mil milhões Kz ao longo de sete anos (2017 – 2023), equivalente a 836,4 milhões USD à taxa de câmbio de fim de período de cada um dos sete exercícios financeiros. As baixas tarifas praticadas neste sector, que vive da subsidiação estatal, e a ineficiência operacional da empresa pública são apontados como as principais causas para esta degradação financeira.
Entre 2017 e 2023, apenas registou lucros uma vez em 2018 fixado em 1,3 mil milhões Kz. De lá pra cá foi acumulando resultados líquidos negativos, com o último a acontecer no exercício de 2023, em que registou prejuízos de 92,4 mil milhões de Kz, de acordo com o relatório e contas publicado a semana passada no site do IGAPE (ver gráficos).
Os sucessivos prejuízos da empresa são fortemente influenciados pela baixa tarifa cobrada ao consumidor final, que não é suficiente para fazer face aos custos operacionais da companhia.
Além disso há que ter em conta também a ineficiência dos serviços aos clientes, a falta de transparência e a indefinição dos procedimentos de atendimento, que são geradores de esquemas e de perdas financeiras incalculáveis. O preço da electricidade, que corrói todo o sector eléctrico, não é actualizado há 5 anos, ou seja, desde Julho de 2019. Embora seja um benefí cio para as famílias, que não pagam o preço real da electricidade já que esta é subsidiada pelo Estado, os subsídios estatais a este sector prejudicam as operações da ENDE, que para se manter em actividade vive amarrada ao Estado e à Rede Nacional de Transporte Electricidade (RNT), que é o principal fornecedor e o principal credor da ENDE.
Angola tem dos preços de electricidade por Kwh (kilowatt por hora) mais baixos do mundo e o primeiro mais baixo da SADC, cuja média é oito vezes mais alta que os preços praticados no País. Num sector extremamente subsidiado, praticamente as empresas só dão lucros quando contabilizam os subsídios estatais nas suas contas.
Fonte: Expansão