A “promessa” de auto-suficiência alimentar é antiga, mas vários programas criados para o efeito fracassaram por várias razões, entre elas a forte dependência de importações.
O déficie da produção agrícola é visto com preocupação, pois afecta o consumo interno e obriga o Estado a recorrer ao mercado externo, despendendo excessivas quantidades de divisas, o que fagiliza a posição das reservas internacionais líquidas, cotadas em 14,4 mil milhões USD, segundo dados do Banco Nacional de Angola.
A importação de alimentos custou aos cofres do Estado, em 2022, de acordo ainda com o banco central, mais de 2 mil milhões USD, um aumento de 40%, face a 2021. A aquisição de géneros alimentícios no quadriénio 2018-2021 ficou orçada em quase 10 mil milhões USD.
Nos últimos cinco anos, ultrapassou os 12 mil milhões USD. Os produtos alimentares mais importados, em 2022, de acordo com as estatísticas mais recentes do regulador do sistema bancário, foram arroz, açúcar, óleo de palma, perna de frango e óleo de cozinha, géneros alimentícios que podem ser produzidos no país em quantidade suficiente para satisfazer a demanda internamente.
“Por que razão ainda dependemos de importações?
O potencial de Angola no domínio agrícola é reconhecido a nível mundial. A título de exemplo, em 1973, ainda sob domínio português, foi o terceiro maior produtor de café no mundo, ao produzir 230 mil toneladas. A importância económica do produto foi o fundamento da industrialização da ex-colónia, a partir dos anos 60.
Se o país tem tudo para ser auto-suficiente alimentar, face à potencialidade agrícola, por que razão ainda depende de importações? A questão foi respondida por especialistas do agro-negócio presentes na V Conferência E&M sobre Agricultura, realizada em Luanda, a 15 de Fevereiro de 2023.
Apesar das divervências, os participantes concordaram que é necessário mais investimento e financiamento para esse sector. Wanderley Ribeiro, presidente da Associação Agro-pecuária de Angola (AAPA), vê, no custo dos componentes necessários para a cadeia produtiva, a causa do insucesso do agro-negócio no país, sector que mais prosperou na década de 60 do século XX.
Apesar de a importação dominar o mercado nacional, o presidente da AAPA disse haver uma abordagem promissora da produção interna nos últimos cinco anos. Ainda assim, mostrou-se preocupado quando notou o aumento dos preços de aquisição do milho, trigo e arroz em 2022, comparando a 2021.
José Gama Sala, administrador da Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações de Angola (AIPX), acredita ser possível Angola tornar-se numa potência do agro-negócio, a nivel do continente e do mundo, em geral.
Apontou os pressupostos a ter em conta para que o agro-negócio no país desenvolva. “A atracção de investimento privado, melhoria das infra-estruturas, incentivos à investigação e desenvolvimento, promoção de desenvolvimento rural, melhoria da restreabilidade dos alimentos produzidos, promoção e organização da cadeia alimentar”, citou o gestor, que fez referência ao facto de Angola deter potencial agrícola com solos férteis, água abundante, regiões climáticas favoráveis e adequadas nas diferentes estações do ano.
O sector agrícola, na opinião do quadro sénior do órgão público voltado para a promoção das exportaçõs, precisa de diversos actores para estimular a concorrência. “Isto pode ser realizado com a experiência de outros países, a partir da qual podemos implementar a transferência de tecnologias e desenhar as melhores práticas”.
Já o director do GEPE do Ministério da Agricultura e Florestas, Anderson Jerónimo, apresentou como solução para resolver o défice da produção agrícula nacional a aposta no investimento (nacional ou estrangeiro) e conhecimento. Já o director nacional da Indústria, César da Cruz, afirmou que a solução para dinamizar a agro-indústria passa por estratificar a produção agrícola e deve ser feita de forma específica em cada província, de acordo com as condições naturais.
Ainda na opinião do representante do Ministério da Indústria e Comércio, o actual estado do agro-negócio no país deve-se, igualmente, à ‘timidez’ da banca, no que tange ao financimento à economia real e à retracção das seguradoras.
Fonte: AN