O mercado informal de metais e pedras preciosas em Angola apresenta “alta vulnerabilidade” ao branqueamento de capitais, alertou a autoridade de inspeção económica angolana que hoje realizou uma ação de sensibilização junto de vendedores informais.
A Autoridade Nacional de Inspeção Económica e Segurança Alimentar (ANIESA), que iniciou as ações de sensibilização de vendedores de metais e pedras preciosas do Mercado de São Paulo, em Luanda, referiu que a iniciativa se enquadra no âmbito da última avaliação mútua do Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI), que detetou “algumas insuficiências”.
Responsáveis da ANIESA referiram que o excesso de circulação de dinheiro em espécie no segmento informal da venda de metais preciosos torna este mercado vulnerável ao branqueamento de capitais.
“A maior parte das transações no mercado informal ainda é feita por espécie e isso causa alguma preocupação ao Estado angolano porque é um setor extremamente sensível, a vulnerabilidade aqui é alta, as vulnerabilidades causam-nos muita preocupação”, admitiu hoje Soraia de Sousa, inspetora da ANIESA.
Angola “está sob esta avaliação (do GAFI) por causa da possível entrada de Angola na lista cinzenta e estamos a fazer de tudo, com os demais organismos de controlo financeiro, para evitar que o país entre para esta lista”, salientou a inspetora.
Soraia de Sousa, ponto focal da ANIESA no combate ao branqueamento de capitais, explicou que é da responsabilidade deste organismo suprir as “insuficiências na atividade económica”, sobretudo na supervisão da venda de metais e pedras preciosas, no mercado formal e informal.
A ANIESA alertou as vendedoras do Mercado de São Paulo para um cuidado redobrado na venda de metais preciosos e para a obrigação de “exigirem” a documentação dos compradores, seguida de uma declaração, sobretudo em transações a partir de 150.000 kwanzas (160 euros).
O Mercado de São Paulo, no distrito urbano do Sambizanga, em Luanda, tem tradição na venda de metais preciosos, sobretudo ouro e prata, contando com comerciantes angolanas e estrangeiras, que dizem importar os seus produtos.
Expostos em bancadas ou em pequenos compartimentos adaptados neste mercado informal, as transações acontecem diariamente, entre alguns riscos que as vendedoras dizem correr, garantindo que vão ter mais cautela.
“Aprendi na palestra sobre o (que é) branqueamento de capitais, – apenas ouvia, mas aprendi – que isso é lavagem de dinheiro e como vendo joias tenho de ter mais cautelas ao fazer esse negócio”, disse a comerciante Marisa dos Santos, prometendo exigir identificação de clientes em vendas a partir de 150 mil kwanzas.
Cerca de 40 vendedoras participaram na ação promovida pela autoridade de inspeção económica de Angola, entre elas também Adelina da Silva, que prometeu uma postura diferente perante os clientes, visando prevenir ações ilícitas neste segmento.
“Vamos agora proceder de forma diferente, pedir a cópia do BI e uma declaração que comprova a venda para se ter mais responsabilidade e evitar situações ilícitas em caso de roubo ou desvios para não sairmos prejudicadas”, assegurou aos jornalistas.
O negócio da compra de metais preciosos em Luanda também acontece em plena via pública, principalmente nas calçadas das principais zonas comerciais, onde jovens aliciam os transeuntes a vender as suas joias, inclusive danificadas, dando-lhes novo destino que não é conhecido.
Fonte: LUSA