A inflação continua a fugir àquilo que é a função do BNA de garantir a estabilidade de preços, de forma a assegurar a preservação do valor do kwanza, assim como a estabilidade do sistema financeiro. Com o aumento das taxas directoras para travar o crescimento da taxa de inflação, o BNA aperta a política monetária e retira liquidez à economia, tornando o crédito mais caro.
O Comité de Política Monetária (CPM) do Banco Nacional de Angola (BNA) voltou a apertar a política monetária para combater a trajectória crescente da taxa de inflação que se verifica desde Maio do ano passado. Com este aperto, o BNA pretende retirar liquidez à economia, já que elevou as taxas de juros directoras que servem de referência ao mercado monetário interbancário. Este é o 12.º aperto da política monetária desde 2014, segundo cálculos do Expansão.
Assim, na última reunião ordinária do CPM, o banco central decidiu subir a taxa de juro directora (taxa BNA) de 18% para 19%, bem como a taxa de juro da Facilidade Permanente de Cedência de Liquidez (operação através da qual os operadores comerciais recorrem ao banco central para obter crédito para financiar as suas actividades, ou seja, a taxa de juro que o BNA cobra aos bancos para lhes emprestar dinheiro) para 19,5%, e a taxa de juro da Facilidade Permanente de Absorção de Liquidez, que corresponde à taxa a que o banco central reembolsa os bancos por depositarem dinheiro no BNA, para 18,5%.
O aumento das taxas de juro de referência para a política monetária, segundo o governador do banco central, Tiago Dias, justifica-se pela persistência das pressões inflacionistas na economia e visa contribuir para o controlo da liquidez em circulação.
Entretanto, a inflação continua a fugir àquilo que é a função do BNA (garantir a estabilidade de preços, de forma a assegurar a preservação do valor da moeda nacional, assim como a estabilidade do sistema financeiro), já que em Fevereiro a taxa de inflação homóloga situou-se em 24,07%, muito acima da taxa BNA (19%), e a taxa mensal acelerou para 2,58%, a taxa mais alta desde Setembro de 2018. Em Luanda, a inflação homóloga já está acima dos 32%.
O BNA não determina as taxas de juro dos bancos comerciais, mas pode influenciá-las, precisamente, através da Taxa Básica, que serve de referência ao mercado interbancário, onde os bancos que têm excesso de liquidez emprestam dinheiro aos bancos que precisam de liquidez. Estas trocas de liquidez fazem-se a uma taxa de juro chamada LUIBOR (acrónimo inglês de Taxa Interbancária de Oferta de Fundos do Mercado de Luanda). Se a taxa básica serve de referência às taxas LUIBOR, estas servem de referência às taxas de juro de crédito a clientes. Quando as empresas e as famílias vão ao banco pedir dinheiro, ele cobra-lhes uma taxa LUIBOR, acrescida de uma margem, que depende do risco. Em termos práticos, por um lado, uma subida dos juros é um desincentivo à actividade económica já que torna os empréstimos mais caros e mais escassos. Mas por outro, quem poupa ganha.
Para o economista Mateus Maquiadi, já se esperava um aperto da política monetária, ainda assim, ao seu entender, mais do que subir as taxas de juros é preciso que o BNA aperte ainda mais a política monetária. “Pode-se ver pela evolução dos agregados monetários que o mercado continua líquido, mesmo com a recentemente venda de divisas que criou constrangimentos de liquidez de curto prazo, o mercado continua líquido e o BNA precisa reforçar objecto das operações de mercado aberto”, justificou.
Entretanto, Maquiadi entende que a taxa de directora tem pouco ou quase nenhum impacto na economia real mas não associa o aumento da taxa a deterioração da oferta de bens e serviço na economia. “Acho essa abordagem muito difícil de se provar. Digo isso porque a verdadeira política monetária é feita por meio das operações de mercado aberto e o BNA não tem usado com bastante intensidade”, argumentou.
Não haverá grande impacto no mercado
Segundo o economista, o BNA não deixa as taxas de facilidades permanentemente abertas, desse modo, não espera que haja grande impacto no mercado interbancário, e consequentemente na economia.
Fonte: Expansão