O Presidente João Lourenço afirmou, terça-feira, que o Corredor do Lobito, que liga Angola à República Democrática do Congo (RDC) e Zâmbia, vai dinamizar as exportações inter-africanas, que actualmente representam apenas 14 por cento do total efectuado para o resto do mundo.
Ao discursar depois da assinatura do Protocolo de Transferência da Concessão dos Serviços Ferroviários e da Logística de Suporte do Corredor do Lobito, João Lourenço acentuou que números como estes demonstram a importância e a necessidade de se colocar as infra-estruturas ao serviço do desenvolvimento económico e social dos países da região e do continente e de “sermos nós a fazê-lo com visão, propósito e objectivos claramente definidos”.
O acordo foi assinado pelo ministro dos Transportes, Ricardo d’Abreu, e pelo presidente da comissão executiva da Trafigura, Jeremy Weir, numa cerimónia testemunhada pelos Presidentes da RDC, Félix Tchisekedi, e da Zâmbia, Hakainde Hichilema, entre altas figuras nacionais e estrangeiras.
Na ocasião, o Chefe de Estado angolano destacou que entre os objectivos de Angola com o Corredor do Lobito inclui-se o aumento da cooperação Sul-Sul, a materialização dos compromissos assumidos a nível das Zonas de Comércio Livre da SADC e Africana.
Segundo João Lourenço, cabe aos africanos definir de que forma pretendem e podem participar no desenvolvimento da economia mundial, de forma assertiva e cada vez mais qualificada. Para isso, defendeu: “devemos optimizar os nossos recursos, explorá-los e transformá-los para fazer chegar atempadamente aos mercados que os procuram e deles precisam”.
O Presidente da República disse que também cabe aos africanos garantir que se aproveitem todas as oportunidades para a geração de valor acrescentado em todos os países africanos, para que a valorização das exportações e a criação de postos de trabalho para a juventude seja uma realidade e não apenas “conversas de circunstância em fóruns internacionais onde o glamour ofusca com frequência o que realmente queremos e precisamos para nós e para os nossos filhos”.
“É a nós, de mãos dadas e em franca cooperação, que cabe garantir o desenvolvimento e o progresso das nossas nações, em paz e estabilidade, com transparência e equidade, para que, com profissionalismo, criemos um futuro sustentável que beneficie a todos”, exortou.
No acto, testemunhado por membros do corpo diplomático acreditado no país e empresários de vários sectores, o Titular do Poder Executivo fez saber que convidou os homólogos da RDC e da Zâmbia para juntos assinalarem o início de uma nova página no desenvolvimento africano, alavancado no acordo já assinado e em vigor entre os três países.
Sobre o Protocolo assinado pelos ministros dos Transportes, Ricardo d’Abreu e Jeremy Weir, da Trafigura, João Lourenço disse que vai acelerar o crescimento do comércio doméstico e transfronteiriço ao longo do corredor ferroviário.
“A história faz-se de momentos como este, em que o futuro se agiganta e os povos se iluminam. Acreditamos genuinamente que juntos somos mais fortes e contribuir para o desenvolvimento económico dos cidadãos é uma tarefa perfeitamente exequível ao nosso alcance”, afirmou.
O Presidente da República contou que, quando se lançou o concurso público, se provou ao mundo que “conseguimos ser transparentes como todos outros países” e, com as potencialidades do Corredor do Lobito, atraiu-se “as melhores, as maiores e mais relevantes empresas do sector privado”.
“Depois da aturada análise técnica e financeira, podemos, com clareza e consciência, optar pela oferta que nos garante o melhor compromisso, a melhor qualidade e os melhores resultados”, declarou João Lourenço, acrescentando que, “com a consistência, o foco e a determinação que os três países colocam aqui, atraímos para este projecto e para os nossos países os olhares de potências mundiais como os Estados Unidos da América, a União Europeia e a China”.
Investimento dos EUA
O Chefe de Estado lembrou ainda que na última reunião do G7, no Japão, o Corredor do Lobito foi um dos projectos mencionados pelo Presidente norte-americano, Joe Biden, tendo anunciado, na ocasião, a disponibilidade do seu país em investir no mesmo cerca de 250 milhões de dólares.
A União Europeia elevou para um estádio valioso o resultado do concurso, ao aprovar a constituição da joint-venture que vai gerir, manter e operar o Corredor do Lobito durante os próximos 30 anos, assim como a possibilidade da concessão se estender por mais 20 anos.
Relativamente a esta pretensão, João Lourenço sublinhou o facto de as empresas que constituem a joint-venture terem reafirmado que o compromisso com a operação desta importante estrutura é “total e absoluto”. “Acabam de nos dizer que o Corredor do Lobito tem um enorme potencial para impulsionar o desenvolvimento de diversos sectores ao longo da linha, incluindo a indústria pesada, a agricultura e a mineração, criando, com isso, novos empregos e novas oportunidades para as pequenas e médias empresas”, referiu.
Segundo o Presidente da República, as empresas comprometem-se, igualmente, a trabalhar em segurança em respeito às normas ambientais em vigor, “aquelas que a todos nós e a gerações vindouras vão assegurar a continuidade da vida e do progresso”.
“Temos obrigatoriamente que perceber e assumir que quando trabalhamos bem e em conjunto, de forma transparente, somos capazes de criar valor e atrair o interesse e a capacidade das instituições financeiras globais para o suporte dos países africanos e com elas seguirmos confiantes, rumo à concretização dos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, defendeu.
Depois de destacar as infra-estruturas acopladas do Corredor do Lobito, nomeadamente o Caminho de Ferro de Benguela, o Porto Comercial e o Terminal Mineraleiro, João Lourenço disse que um dos grandes problemas do continente é o da escassez de infra-estruturas para a produção e transportação de energia, água e de telecomunicações.
O Presidente da República, João Lourenço, regressou ontem à capital do país, após a visita de trabalho de dois dias à província de Benguela.
Partilhar os excedentes com países vizinhos
Na sua abordagem, o Chefe de Estado destacou que Angola está a fazer importantes investimentos no sector energético e conta, nos próximos anos, ter excedentes para partilhá-lo com os países vizinhos.
Por isso, João Lourenço disse ser, também, a hora de “começarmos a pensar na ligação entre os nossos países, africanos de uma forma geral, em particular os três países, em investir na construção de auto-estradas para ligar os países da SADC e ligar a RDC, Angola e Zâmbia à Namíbia e África do Sul e outros países que constituem a Região, que por sinal é muito próspera”.
Segundo o Presidente, o Corredor do Lobito, que liga Angola à RDC e cuja concessão se entrega para ver a sua extensão à Zâmbia, representa um “virar de página no que diz respeito à economia da região”.
“Se queremos a integração regional, temos que ter canais de comunicação como este Corredor que nos trouxe aqui à cidade do Lobito e precisamos partilhar, também, a energia que os nossos países produzem ou virão a produzir no futuro”, defendeu.
Fonte: JA