As doenças e as mortes associadas à malária custam ao continente africano 12 mil milhões USD por ano, segundo a União Africana, equivalente a 0,3% do PIB real do continente. Se for replicado este valor para Angola, significa que o impacto da malária representou cerca de 328,5 milhões USD em 2023.
A vacinação contra a malária deverá arrancar no primeiro trimestre do próximo ano e estima-se que o Governo venha a gastar pelo menos 12 milhões USD nas primeiras duas fases que terminam em 2026, que contemplam a administração de vacinas a apenas metade das crianças angolanas dos 0 aos 2 anos, de acordo com cálculos do Expansão com base nos preços praticados lá fora. Para abranger a totalidade das crianças dentro destas idades, seriam necessários apenas um total de 24 milhões USD.
O valor a investir na aquisição de quatro doses de vacina – cada criança tomará uma dose em quatro semestres – é mais de duas vezes do que o montante previsto pelo Governo para o programa de luta contra a malária, inscrito no OGE 2024.
Na primeira fase que decorrerá em 2025 está prevista a vacinação de cerca de metade das crianças que têm até dois anos de idade, o que perfaz 1,5 milhões de crianças, com duas doses cada. A segunda fase prevê a aplicação das terceira e quarta doses das vacinas a estas mesmas crianças.
As contas da imprensa foram feitas com base nos preços publicados pela UNICEF (agência das Nações Unidas) sobre os preços das duas vacinas disponíveis actualmente. Uma que custa 3,9 USD por cada duas doses, fabricada pela Serum Life Sciences, empresa sediada no Reino Unido com filial na Índia e considerada a vacina de baixo custo, desenvolvida em parceria com os países em vias de desenvolvimento, sobretudo os da África Subsaariana, conforme confirmaram ao Expansão as autoridades da saúde em Angola. Há ainda um outro laboratório, o GlaxoSmithKline Biologicals da Bélgica, cuja vacina está a ser comercializada por 9,3 euros cada duas doses. Mas estes valores deverão aumentar, uma vez que estes preços são apenas para os países que se pré-qualificaram junto da Organização Mundial de Saúde para estar na linha da frente da vacinação. A isto há que juntar outros custos, como a logística.
Há quase dois anos que Angola tem vindo a manifestar o interesse em adquirir a vacina, mas apenas na semana passada o secretário de Estado para a Saúde Pública, Carlos Pinto de Sousa, garantiu que o País tinha entrado para a lista dos países interessados em adquirir a vacina contra a malária. O objectivo é aumentar a prevenção contra a doença que mais mata no País. Carlos Pinto de Sousa não disse a origem da vacina, mas o Expansão apurou junto de fonte do Ministério da Saúde (MINSA) que a Índia será o fornecedor desta vacina, tendo em conta os baixos custos da mesma. “Vamos trabalhar com os laboratórios indianos que já têm a vacina certificada com um custo de 3,9 USD a dose. Para já, é um custo menor se comparado com a vacina da Bélgica que está a ser comercializada a 9,3 euros”, disse a fonte, acrescentando que as vacinas disponíveis hoje são exclusivas para crianças menores de cinco anos.
Ainda sobre os custos das vacinas, de acordo com os cálculos da imprensa, se as autoridades angolanas optassem por adquirir as vacinas necessárias para vacinar as 1,5 milhões de crianças previstas (seis milhões de doses) ao laboratório da Bélgica terá um custo de cerca de 28 milhões USD.
São valores muito baios se olharmos para o despesismo do Governo em obras que não têm impacto directo na vida das populações que todos os dias enfrentam o risco de contrair o paludismo. Para o especialista em saúde pública, Jeremias Agostinho, é hora de passar das palavras aos actos, até porque Angola está entre os países onde a taxa de prevalência da malária é muito elevada e os números de mortes são bastantes altos. “É bem provável que o Governo faça a aquisição separada longe da lista dos países que já estão a beneficiar desta vacina, recorrendo a créditos, uma vez que o OGE para 2024 não prevê uma dotação específica para a aquisição da vacina contra a malária”, disse o médico, reconhecendo que cada criança vai precisar de quatro doses de vacinas, ou seja, o Estado vai desembolsar 7,8 USD por criança nos próximos dois anos.
Mortes por malária
Jeremias Agostinho disse que embora não estejam ainda disponíveis os dados estatísticos sobre as mortes por malária em 2023, os números não fogem muito dos registados em 2022. Em termos globais, numa estimativa rápida, revelou que em 2023, as mortes por malária terão rondado os 10 mil óbitos. A falta de recursos financeiros para os programas de luta contra a malária tem sido um grande desafio paras autoridades de saúde. Só para se ter uma ideia, para este ano, o Governo prevê gastar com os projectos de luta contra a malária um pouco mais de 10 milhões USD, um valor muito baixo se tivermos em conta que muitos dos 36 milhões de angolanos são afectados mais do que uma vez por ano com paludismo.
Fonte: Expansão