Trump aposta no Lobito pelos minerais mas também para refrear China em África
A consultora Capital Economics considerou hoje que o investimento norte-americano no corredor do Lobito vai ser continuado com a nova Presidência de Trump, não só pelo projeto, mas para refrear a influência chinesa no continente.
“O Presidente Joe Biden anunciou, na visita a Angola na semana passada, novos investimentos para o projeto ferroviário do Lobito, que é só o início dos redobrados esforços dos Estados unidos para contrariarem a influência chinesa em África”, escreveu o analista David Omojomolo.
Na análise enviada aos investidores, e a que a Lusa teve acesso, o analista que segue a economia angolana escreveu que “há razões para pensar que Trump é favorável a um envolvimento na região baseado nos investimentos sempre que haja um interesse financeiro para os Estados Unidos” e apontou dois argumentos para sustentar a visão de que os EUA vão aprofundar a relação económica com Angola e África.
“Em primeiro lugar, defendemos a ideia de que (Donald) Trump irá provavelmente favorecer uma abordagem de envolvimento na região liderado pelo investimento quando houver um interesse transacional para os EUA; os países ricos em minerais ou, no caso de Angola, com centros de exportação que têm algo a oferecer aos EUA, irão provavelmente ganhar com isto, em detrimento dos que dependem mais da ajuda”, escreveu o analista.
Além disso, sustenta o analista que o interesse em refrear a China no continente africano suplanta a convicção sobre as alterações climáticas.
“Em segundo lugar, embora o papel dos minerais críticos no apoio à transição ecológica não seja talvez uma prioridade para Trump, pensamos que a visão mais agressiva de Trump, e do Partido Republicano, em geral, em relação à China, poderia ajudar o projeto, especialmente tendo em conta os interesses significativos da China nos setores mineiros da região”, concluiu.
A visita de Joe Biden a Angola, na semana passada, “originou mais 600 milhões de dólares [567 milhões de euros] para o corredor do Lobito, com o investimento norte-americano a valer agora cerca de 4 mil milhões de dólares”, à volta de 3,8 mil milhões de euros, diz a Capital Economics, concluindo que o projeto “é uma oportunidade para os Estados Unidos acederam a minerais como o cobalto e o cobre para a energia limpa”.
O Corredor do Lobito é o primeiro corredor económico estratégico lançado sob a égide da Parceria para as Infraestruturas e Investimento Global do G7 (PGI), em maio de 2023, a que se seguiu a assinatura de uma declaração conjunta entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos da América (EUA), à margem da Cimeira do G20 de setembro de 2023 em Nova Deli, de apoio ao desenvolvimento do Corredor.
Em outubro do ano passado, durante o Fórum Global Gateway, a UE e os EUA assinaram – em conjunto com Angola, a RDCongo, a Zâmbia, o Banco Africano de Desenvolvimento (AfDB) e a Corporação Financeira Africana (AFC) – um Memorando de Entendimento (MoU) para definir os papéis e objetivos para a expansão do Corredor.
A AFC é a promotora principal do projeto que vai ligar os três países africanos, e prevê-se que a linha férrea a modernizar, na parte que já existe, e completar, crie benefícios económicos de aproximadamente 3 mil milhões de dólares (cerca de 2,7 mil milhões de euros) para os países, reduza as emissões atmosféricas em cerca de 300 mil toneladas por ano, e crie mais de 1.250 postos de trabalho durante a sua construção e as operações, cuja conclusão está prevista para o final da década.
Fonte: LUSA