Luanda conta com um stock de 2.456 quartos e apesar de ser um número ainda muito curto, a taxa de ocupação é ainda muito baixa, o que dificulta a captação de investimento no sector. Contribuição do turismo para o PIB é residual.
Em 2023, a taxa de ocupação nos hotéis na capital do Pais registou uma subida de 10,0 pontos percentuais face a 2022, atingindo os 40%, um indicador que iguala os valores da pré-pandemia. Por outro lado, a crise na hotelaria agrava-se no interior do País onde as taxas variam entre os 15% e 20%.
Para Luanda, a realização de conferências governamentais e internacionais e o turismo de negócios tem sido o motor deste mercado, atingido fortemente na última década pela crise financeira e do petróleo. A subida da taxa de ocupação na capital é um sinal do regresso ao crescimento da economia angolana depois de um ciclo recessivo de cinco anos (2016-2020).
Em declarações à imprensa, o presidente da Associação dos Hotéis e Resorts de Angola (AHRA), Ramiro Barreira, destaca a importância do turismo de negócios para o crescimento da taxa de ocupação. A AHRA indica que os investimentos na indústria extractiva onde foram realizadas novas concessões, nomeadamente nos petróleos e diamantes, estão a aquecer os fluxos de turismo de negócios no País e isto é visto, pelos analistas de mercado, como impulsionador da actividade hoteleira.
Em termos de fluxos de pessoas a entrar em angola, de acordo com o então Ministério da Cultura e Turismo (MINCULT), os números também estão a subir. Os dados estatísticos de até Outubro de 2023 indicam que entraram nas nossas fronteiras 93 mil turistas de diversas nacionalidades, mas muito longe dos 129 mil visitantes que entraram no País em 2022. O MINCULT indica que 2020 e 2021 foram os anos mais negros para o sector do turismo angolano, em que por força da pandemia da Covid-19 apenas entraram em território nacional 64 mil entradas.
Mas se os dados do Ministério indicam que as taxas de ocupação hoteleira estão hoje ao nível pré- -pandémicos, a consultora Prime Yields Angola, no relatório sobre o mercado imobiliário em 2023, destaca uma ligeira subida nas taxas de ocupação, mas considera que permanece em níveis inferiores ao pré-pandemia. “Nos últimos anos a tendência da procura de turismo corporativo é decrescente, devido ao arrefecimento económico prolongado, o que, associado aos elevados custos de operação tem levado a que muitas unidades encerrem a actividade. Não obstante, os que resistem ficam com maior folga para aumentar os preços. Os esforços do Governo no sentido de criar sinergias e cooperações com grupos de interesse económico, com abertura de canais diplomáticos e visitas oficiais de chefes de estado, têm ajudado a minimizar o impacto da conjuntura económica sobre este sector”, sublinham os analistas da Prime.
Mas se em Luanda os indicadores apontam à recuperação do sector para níveis pré pendémicos, o mesmo não se pode dizer no interior do País, onde as taxas de ocupação diárias oscilam entre os 15% e 20%. Ou seja, no resto do território nacional a média é de que apenas dois em cada 10 quartos foram ocupados por nacionais ou estrangeiros, no ano passado.
Todavia denuncia, a actual letargia que enfrenta o turismo interno em Angola, fazendo transparecer o quanto o sector vai mal. “Não temos turistas internos e isto tem contribuído para o agravar da crise hoteleira no interior do Pais. Para já a realidade é diferente. Com os preços actuais é difícil que os angolanos paguem pelos serviços oferecidos pelas unidades hoteleiras em Angola”, disse o responsável, tendo sublinhado que os salários auferidos pelos angolanos, fortemente penalizados com a queda do poder de compra, há muito que não dão margem para despesas com lazer. E acrescenta que “é preciso pensar o turismo como uma indústria que pode gerar muitos empregos”.
Em termos de receitas para o País, em 2023, os turistas garantiram 21 milhões USD, enquanto em 2022 a receita foi de 24 milhões USD, valores que demonstram que o peso do sector do turismo no PIB é residual.
Preços subiram
Quanto aos preços das dormidas, registaram-se aumentos em quase todas os segmentos hoteleiros e serviços, mas foi nos hotéis de três e quatro estrelas que mais subiram (ver gráficos). Contas feitas pelo Expansão com base nos dados da consultora imobiliária Prime Yelds Angola, no final de 2023, um turista, nacional ou estrangeiro, para passar 24 horas num hotel de cinco estrelas, na cidade capital, desembolsou em média 390 USD, um valor abaixo, em quase 18%, aos 475 USD pagos em igual período do ano anterior.
Fonte: Expansão