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Classe média angolana com crédito à habitação mais fácil em Portugal do que em Angola

Cada vez mais angolanos compram casas em Portugal com recurso a financiamento de bancos portugueses. Apesar dos riscos, procuram estabilidade, segurança, saúde e, sobretudo, melhor educação para os seus filhos.

Se até há alguns anos comprar casa em Portugal era apenas uma oportunidade para alguns angolanos “afortunados”, sobretudo à custa do erário público, nos últimos anos o cenário tem-se alterado, possibilitando assim que trabalhadores do escalão médio realizem o sonho da casa próprio em terras lusas, antes de o concretizarem em Angola.

Tudo devido à “facilidade” com que se consegue actualmente financiamento em bancos portugueses para a compra de imóveis naquele país, contrariamente ao que acontece aqui em Luanda, onde a obtenção de um crédito à habitação continua a ser uma verdadeira dor de cabeça, que nem mesmo o Aviso n.º9, do BNA consegue contrariar, já que as dificuldades de registos dos imóveis e escrituras em Angola dificultam a utilização dessas propriedades como garantia dos financiamentos (hipotecas).

“Consegui muito mais rápido a compra de casa lá, do que aqui. A tramitação com o banco foi transparente e desde que comprovei os meus rendimentos, as coisas fluíram e em menos de quatro meses adquiri a habitação”, disse ao Expansão Miguel Bernardo (nome fictício), funcionário da Administração Geral Tributária (AGT), que em Dezembro concretizou o sonho.

“É pena que os nossos bancos continuem a colocar entraves para o crédito. Porque, infelizmente, estamos a colocar dinheiro noutra economia que deveria ficar cá”, lamentou o técnico da AGT que paga uma mensalidade de 800 euros, equivalente a cerca de 435 mil Kz.

Em situação semelhante está a cidadã Mária Bernardo (nome fictício), funcionária da Sonangol, que agora é proprietária de um imóvel na Linha de Sintra (arredores de Lisboa), pelo qual paga aproximadamente 600 euros mensais, cerca de 326 mil Kz.

“Comprámos com um empréstimo de um banco português. Tudo começou numa conversa entre amigos, aqui em Luanda. Depois daí foi seguir e hoje temos o nosso apartamento. No princípio não acreditava que conseguiria, porque pensei que fosse como aqui, onde os empréstimos saem na sua maioria com cunha”, explicou.

Santos João, funcionário da UNITEL, engrossa o grupo de angolanos que, sem acesso às vantagens de quem trabalha no sector público, possuem casa em Portugal. O informático adquiriu o seu apartamento no Barreiro (arredores de Lisboa), em 2021, depois do primeiro confinamento devido à Covid-19.

“Neste período estávamos a trabalhar em casa e o online dominava a nossa vida. E aí interagi com um amigo agente imobiliário em Portugal que me desafiou… O processo correu bem e hoje tenho a minha casa, onde agora estão a minha esposa e filhos. Eu continuo a trabalhar aqui”, contou.

A preferência tem recaído nos arredores de Lisboa, porque os preços no centro da capital do país são hoje incomportáveis, revelou ao Expansão um gestor imobiliário da Remax Portugal.

“É verdade que os imóveis estão mais caros. Mas a procura também aumentou e os angolanos têm comprado cada vez mais. Só no ano passado vendemos 14 apartamentos a angolanos e este ano já vamos em 5. Devido ao custo têm comprado mais na linha de Sintra e na margem sul do Tejo. E já começam também apostar em outras zonas mais distantes de Lisboa e até mesmo a norte de Portugal. Mas há também quem aposte em zonas melhores de Lisboa, como Odivelas e outras”, explicou o intermediário imobiliário que actua no mercado português.

Também há riscos

Apesar desta facilidade, especialistas alertam para alguns cuidados a ter em conta para quem pretende comprar casa em Portugal, a começar pela variação cambial, que pode aumentar a taxa de esforço das famílias para cumprir obrigações. “Pelo que me apercebi, os jovens estão a pagar estas casas em Portugal com dinheiro dos seus salários aqui. Mas se o kwanza desvalorizar, provavelmente ficam sem condições de mandar o dinheiro necessário para lá. Sem esquecer que a nossa economia é instável devido à dependência do petróleo e os preços dos bens e serviços pode aumentar a qualquer momento, o que reduz a capacidade financeira das pessoas”, disse o economista António Domingos.

Fonte: Expansão

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