
O Presidente da República e líder da União Africana apelou, quarta-feira, no Centro de Artes Bozar, em Bruxelas, Reino da Bélgica, ao compromisso dos países na mobilização de nove mil milhões de dólares como apoio ao financiamento de vacinas para as nações menos desenvolvidas.
João Lourenço, que discursava na Cimeira da Aliança Global das Vacinas (GAVI), considerou a meta ambiciosa e absolutamente inadiável.
“Trata-se de mobilizar nove mil milhões de dólares para o período de 2026 a 2030. Com esse financiamento, será possível que a GAVI apoie a vacinação de 500 milhões de crianças e salve entre 8 e 9 milhões de vidas”, ressaltou.
O Estadista angolano disse não se tratar apenas de um investimento, “é acima de tudo uma decisão estratégica, um dever moral, um pacto com as próximas gerações”.
Cada dólar mobilizado hoje, referiu o Presidente da República, “transforma-se em esperança concreta para milhões de famílias, reduz custos futuros com doenças evitáveis, fortalece os nossos sistemas de saúde e impulsiona o desenvolvimento económico dos nossos países”.
João Lourenço afirmou, também, que a África não é apenas beneficiária de vacinas e que está pronta para ser coautora da nova era da imunização global, tendo pedido mais equidade, mais voz e mais autonomia aos países africanos, deplorando o facto de a pandemia da Covid-19 ter exposto a dolorosa dependência do continente em relação às cadeias externas de produção de vacinas.
“Não podemos deixar perpetuar esta situação. É por isso que apoiamos a iniciativa da GAVI para o fortalecimento da produção regional africana de vacinas, no quadro da iniciativa ADMA ‘African Vaccine Manufacturing Accelerator’”, disse. O Chefe de Estado referiu, ainda, que o continente africano está unido e comprometido com a causa, tendo pedido à comunidade internacional que também se comprometa, “porque vacinar uma criança não é apenas proteger uma vida, é proteger o futuro através de uma segurança sanitária global”. Ao olharmos para o futuro da vacinação global, prosseguiu João Lourenço, acreditamos que a GAVI pode, também, desempenhar papel estratégico no apoio à introdução de novas vacinas, “especialmente contra doenças que continuam a afectar desproporcionalmente os países africanos e populações mais vulneráveis a nível global, como a tuberculose, a malária e a dengue”.
A inovação, defendeu o Presidente da República, deve caminhar lado a lado com a equidade, assegurando que a Africa “está pronta para ser parceira activa na investigação e na implementação dessas soluções de próxima geração”.
João Lourenço disse, ainda, que o continente berço quer “transferência de tecnologia, parcerias bilaterais estratégicas, capacitação científica da nossa juventude”, acentuando a importância da produção de “vacinas acessíveis, feitas por africanos, para africanos e para o mundo”.
O líder da União Africana referiu, também, que a juventude africana é uma das maiores reservas de esperança e renovação para a Humanidade, ressaltando o facto de mais de 60 por cento da população africana ter menos de 25 anos.
“Enquanto o mundo procura soluções para lidar com o envelhecimento populacional, África representa uma fonte crescente de dinamismo humano, de criatividade e de capacidade produtiva”, constatou.
África, em particular Angola, assegurou o Chefe de Estado, faz da vacinação um pilar estratégico continental de saúde, justificando a posição com o facto de que “estamos a olhar para um futuro próspero”, construído com base “na nossa juventude, na saúde, educação, participação plena na vida económica e social”.
Impacto das vacinas
O Presidente João Lourenço revelou, ainda, que nos últimos 25 anos a Aliança Global das Vacinas tem sido um “parceiro estratégico de confiança, um instrumento multilateral eficaz e um símbolo bem-sucedido de solidariedade internacional”.
Com uma abordagem baseada na evidência, resultados e equidade, acrescentou o Estadista angolano, a GAVI permitiu que mais de 25 países africanos de baixa renda ampliassem o acesso a vacinas, particularmente de novas vacinas, que de outra forma estariam fora do alcance de milhões de crianças.
“Reconhecemos com apreço o esforço contínuo da GAVI para adaptar os seus modelos de apoio financeiro, incluindo o trabalho em curso para tornar os países de média renda elegíveis a formas inovadoras e sustentáveis de financiamento”, acentuou João Lourenço, destacando ser, este, um passo crucial para garantir que nenhuma criança no mundo seja deixada para trás, mesmo em contexto de transição económica.
“Entre 2021 e 2025, a GAVI canalizou mais de 5 mil milhões de dólares para o continente africano, o equivalente a mais de mil milhões de dólares por ano. Só em 2023, mais de 700 milhões de dólares foram investidos em África”, enfatizou.
Bill Gates realça redução das mortes de menores
A redução das mortes de cinco anos, nos últimos anos, foi muito mais rápida do que em qualquer tempo da história, realçou, ontem, em Bruxelas, o presidente da Fundação Gates.
Ao intervir na Cimeira da Aliança Global das Vacinas, Bill Gates revelou que as estatísticas apontam que se passou das anteriores mais de nove milhões de mortes de crianças para metade deste número.
“Este é um resultado incrível e que destaca o benefício destas vacinas. As vacinas deixam muitas crianças muito mais saudáveis. E a capacidade de alcançar o seu potencial aumenta”, referiu o patrão da Fundação Gates.A GAVI, sublinhou o multimilionário, prioriza a salvação de vidas, argumentando ser um processo feito “com um rigor incrível científico”, e que as vacinas estão constantemente a sofrer melhorias. “Estamos sempre a olhar para a saúde. E estou muito orgulhoso do trabalho feito para garantir que estas vacinas sejam incrivelmente seguras”, acrescentou. Bill Gates esclareceu que a GAVI foi criada não apenas para financiar as vacinas, mas trabalhar também com os países para adoptar as novas vacinas.
“Fizemos um trabalho incrível em reduzir os preços. Um bom exemplo é a vacina pneumococcal, a PCV. Esta vacina ficou disponível em países de alta renda no ano em que a GAVI foi criada”, revelou o proprietário da Fundação Gates, para quem a instituição desenvolve um trabalho “fantástico em proteger crianças contra a pneumonia”, a infecção mais mortal da infância. “Mas foi muito caro. A GAVI e os parceiros incentivaram os fabricantes de vacinas para desenvolver uma nova, mais barata, PCV, que foi introduzida em 2017”, explicou Bill Gates.
Fonte: JA