Com a escalada nos preços dos produtos alimentares essenciais os consumidores estão a ficar cada vez mais apertados e, para garantir alimentação mínima, optam por bens com menor qualidade, pondo em causa a sua saúde. Os salários corroídos pouco ajudam nesta relação que está a afectar a vida de milhares de cidadãos.
O aumento do custo de vida está a obrigar as famílias a adoptarem várias formas de “sobrevivência” que também vão afectando a qualidade de vida que algumas famílias foram adquirindo. A culpa é do aumento dos preço dos bens alimentares e não só, que não param de subir.
Só no mês passado o custo de vida a nível nacional aumentou 2,6% face a Março, tratando-se do valor mais alto desde Agosto de 2016, de acordo com o índice de Preços no Consumidor de Abril do Instituto Nacional de Estatística (INE). Se olharmos para o ritmo anual de aumento do custo de vida, este tem subido há 13 meses e, no mês passado, cresceu 2,1 pontos percentuais para 28,2%, tratando- -se da taxa de inflação homóloga mais alta desde Junho de 2017.
“Está a ficar cada vez mais difícil. E, mesmo cortando algumas coisas, nem sempre se consegue aguentar”, disse à imprensa Neusa Santos quando analisava o que comprar num dos hipermercados da capital.
Para esta escriturária, os preços dos produtos têm aumentado constantemente, muitas das vezes sem qualquer aviso prévio. “Produtos que ontem custavam um preço, no dia seguinte já estão mais caros. A pessoa vem com a ideia de comprar determinadas coisas e tem de alterar devido a esta situação”, disse.
“A solução é mesmo só comprar o essencial. Se antes ainda podíamos comprar alguns mimos, agora não. Perdemos alguma qualidade, que até gostávamos. Agora é mesmo apertar e rezar para que as coisas melhorem”, concluiu.
Se os preços não param de subir a nível nacional, em Luanda a situação é ainda mais drástica, uma vez que face a Abril do ano passado os preços subiram 38,9% e, em termos mensais, cresceram 3,3% face a Março, segundo o INE. Trata-se da inflação homóloga mais alta na capital desde Fevereiro de 2017, quando atingiu os 39,5%.
Quanto à inflação acumulada nos primeiros quatro meses do ano, de 10,62%, trata-se do pior arranque de um ano desde 2016, quando entre Janeiro e Abril atingiu os 13,61%. No final de 2016, a inflação era de 41,1%, tendo sido das inflações mais altas desde o final da guerra civil. Pior só mesmo em 2002 (105,5%) e 2003 (76,6%), de acordo com a base de dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
“O aumento dos preços dos produtos vai matar-nos. As famílias estão a alterar a dieta alimentar por causa deste encarecimento. Em alguns casos até prejudicando a própria saúde”, refere a funcionária de uma empresa do sector empresarial público, Isabel Manuel.
“Antes dificilmente recorria aos armazéns. Mas com este aumento dos preços de alguns produtos passei a comprar nestes estabelecimentos. Mesmo nos supermercados já não compro muita coisa e algumas que compro têm de ser bem geridas em casa. Já não se desperdiça comida”, desabafou.
Situação semelhante vive João Pedro, que deixou de fazer compras nos supermercados. A opção passou a ser os armazéns.
“Há um ano ou mais que não compro nos supermercados. Os armazéns têm sido a solução e muitas vezes temos de dividir ao comprar determinados produtos com alguém. Às vezes, dividimos entre colegas”, disse.
O funcionário público garante que se pudesse evitaria certos armazéns devido à qualidade dos produtos. “Alguns produtos vendidos em determinados armazéns são de qualidade duvidosa. Mas a necessidade fala mais alto e entre não comprar ou comprar com menor qualidade, a escolha recai na redução da qualidade”, frisa.
O peso da perda de qualidade do que os cidadãos estão a consumir tem reflexos na economia, já que aumenta a possibilidade de surgirem doenças entre os cidadãos, sobretudo na idade activa, defende a nutricionista Yolanda Gomes.
Fonte: Expansão