Segunda-feira, Julho 1, 2024
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Petróleo: Do céu aos infernos numa semana – Barril em queda livre em vésperas de nova reunião da OPEP+ em Viena de Áustria

O barril de Brent está esta terça-feira, 03, a mostrar uma fraqueza que já não se via há quase dois meses, tendo mesmo ficado a pouco mais de dois dólares dos 100 USD na passada semana, a 27 de Setembro, caindo agora num buraco que ameaça mesmo passar em baixa os 90 dólares norte-americanos.

A razão para esta derrocada no valor da matéria-prima da qual Angola retira a sustentabilidade da sua economia, ainda muito aparafusada às exportações de energia em bruto, é, segundo os analistas internacionais, principalmente, o abrupto fortalecimento do dólar dos EUA.

Nada de novo na história dos mercados petrolíferos, porque, sendo ainda o dólar a moeda franca global para o negócio do crude, porque sempre que a moeda norte-americana valoriza, as outras economias precisam de usar mais quantidade das suas moedas nacionais para comprar mais dólares de forma a importar o petróleo de que que carecem.

Apesar da mudança em curso nas transacções entre algumas das maiores economias do mundo, Índia e China, e um dos maiores exportadores globais, a Rússia, que já estão a negociar nas moedas respectivas, o sobe e desde cambial do USD é uma das razões mais comuns para a volatilidade do mercado petrolífero.

Neste cenário preocupante para a aritmética complexa do Executivo angolano, que lida com uma severa crise cambial, onde o Kwanza não há meio de galgar as margens que o oprimem, o barril de Brent, a referência principal para as exportações angolanas, caiu para mínimos de três semanas, chegando aos 90,5 USD, perto das 09:30, hora de Luanda.

Isto, já depois desta segunda-feira ter sido um dos priores inícios de semana para o crude em quase dois meses, passando de um pico de mais de 96 USD no fecho da sessão de sexta-feira, 29, para pouco mais de 89 no encerramento de segunda-feira, 02.

Mas não é só por causa do USD a engordar por estes dias que o barril de Brent emagrece a olhos vistos, mostrando sinais da “doença” que o consome.

Também o aumento das taxas de juro nos EUA e um incómodo geral pelos dados fornecidos por algumas casas financeiras sobre as movimentações tectónicas entre a oferta e a procura, com dados mistos vindos da China, que melhorou a produção industrial mas não está a conseguir sair do buraco do imobiliário, estão a permitir ao mercado resistir aos tratamentos que a OPEP+ está a administrar há anos, com “sangramentos” sucessivos na produção.

Alias, os cortes feitos pela OPEP+, de 3,6 milhões de barris por dia (mbpd) ao que somam os 1,3 mbpd feitos de motu proprio por sauditas e russos, em 2022 e já em 2023, são o torniquete que está a impedir ainda mais volumosas perdas do “sangue” que mantém o corpo económico de Angola, bem como outros países com economias igualmente doentes de petrodependência.

Para já, o tratamento a que o “cartel” pode recorrer é anunciar novos cortes, mas tal pode revelar-se inapropriado porque o doente pode morrer da cura.

Ou seja, a Arábia Saudita apresentou recentemente números que apontam para um crescente défice nas suas contas públicas, apesar do aumento do valor do crude nos últimos meses, e a Rússia, o outro gigante do “cartel”, já esticou a corda até onde podia, de forma minimamente saudável, se não quiser atingir com vigor o seu esforço de guerra na Ucrânia.

Mas isso ver-se-á já nesta quarta-feira, 04, quando a OPEP+ voltar a reunir, em mais um encontro mensal, quase sempre nos primeiros dias de cada mês, embora os analistas estimem que o “cartel” dificilmente procederá a alterações à tabela de cortes em vigor, depois de no mês passado ter prolongado os cortes de 3,6 mbpd até final de 2023, além de Moscovo e Riad terem acompanhado esta decisão.

Manter a oferta artificialmente apertada é a estratégia de russos e sauditas, na qual são acompanhados pelos seus parceiros, onde está Angola, embora não se saiba há muito tempo qual a posição oficial de Luanda nas discussões internas do grupo de exportadores que controlam mais de 50% da produção global, actualmente a bater nos 103 mbpd.

Contas nacionais

Para Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, esta consolidação dos preços do Brent acima dos 90 USD – apesar da turbulência visível nesta semana ameaçar o cenário positivo -, é uma excelente notícia, porque permite diluir os efeitos devastadores da crise cambial e gera superavit face ao valor de 75 USD por barril com que foi elaborado o OGE 2023.

Se continuar assim por muito tempo, o que pode agora ser mais difícil de se verificar,as consequências podem ser bastante positivas porque o sector petrolífero continuará a gerar superavit que serve ao Governo para investir além do básico.

E os riscos de subfinanciamento do Estado face aos compromissos assumidos no OGE, podem ser reduzidos, devido ao papel insubstituível, para já, das receitas petrolíferas no PIB, revelando-se como um antidoto não negligenciável para o aumento dos custos do pagamento da dívida, especialmente agora que se começam a sentir fortemente os efeitos do fim das moratórias de três anos criadas pelo G20, com a China a ser especialmente importante para Luanda, no contexto do combate mundial à pandemia da Covid-19.

O petróleo representa hoje, ainda, mais de 90% das suas exportações, corresponde até 35% do PIB e garante cerca de 60% dos gastos de funcionamento do Estado.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola

FOnte: NJ

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