Angola pode voltar a adquirir dólares de bancos correspondentes da Reserva Federal dos Estados Unidos (banco emissor da moeda norte-americana), admitiu ontem, em Luanda, sem avançar datas, a embaixadora dos Estados Unidos acreditada em Angola, Nina Maria Fite.
A diplomata norte-americana, que falava à imprensa em nome da delegação da New York Federal Reserve, recebida em audiência pelo Presidente da República, disse que há um acompanhamento de todas as reformas em curso feitas pelo Executivo de João Lourenço.
O Presidente da República recebeu ontem de manhã, no Palácio da Cidade Alta, a delegação norte-americana chefiada pelo vice-presidente e chefe dos Assuntos Internacionais e Estratégicos da Reserva Federal dos Estados Unidos, Michael Schetzel, vice-presidente e director de Serviços de Contas de Clientes, Matthew Nemeth, directora dos Serviços de Contas Internacionais, Taryn Nelson, e pelo gerente de Relacionamento no Banco Central e no Departamento de Contas Internacionais para a Região da África e do Médio Oriente.
A Reserva Federal dos Estados Unidos decidiu suspender a venda de dólares a bancos sediados em Angola, em 2015, por sistemáticas violações das regras de regulação do sector e suspeitas de que o país estivesse a financiar redes de terrorismo. Além de afectar a credibilidade do sistema financeiro angolano, a decisão agudizou a escassez de dólares no mercado nacional, afectando as importações de bens de consumo. A diplomata disse que a visita da delegação da New York Federal Reserve faz parte das consultas regulares que a Reserva Federal tem com os bancos centrais no mundo.
Nina Maria Finete considera que a visita da delegação norte-americana é uma oportunidade para aprofundar e fortalecer os laços com o Banco Nacional de Angola (BNA).
A embaixadora americana lembrou que há um plano para que os bancos correspondentes “um dia” voltem a vender dólares a Angola. “Acho que não tem data, não há uma data exacta para que os bancos correspondentes voltem a vender dólares a Angola”, esclareceu.
A embaixadora indicou, no mesmo sentido de reforço da cooperação, a visita a Angola feita há dias pela delegação do Departamento do Tesouro norte-americano.
Nina Maria Finete defendeu a necessidade de fortalecer-se o “compliance” (regras de regulação) dos bancos comerciais (privados), para que os bancos correspondentes um dia voltem a vender dólares a Angola.
A diplomata indicou que a delegação notou uma grande colaboração entre todos os órgãos (BNA, Ministério das Finanças e bancos comerciais).
A delegação do New York Federal Reserve vai cumprir, em 48 horas, uma intensa jornada de trabalho com responsáveis do BNA e com outras autoridades ligadas ao sector financeiro.
A propósito desta visita, o governador do BNA, José de Lima Massano, disse, há semanas, que as discussões com os representantes da Reserva Federal visam estreitar as relações entre as duas instituições.
“Queremos, com este encontro, manter um diálogo permanente que facilite executar as operações monetárias que foram terminadas com alguns bancos” internacionais, indicou na ocasião o governador do BNA, numa referência às relações com os bancos correspondentes interrompidas em 2016, agravando a crise cambial que o país vive desde 2014.
O responsável detalhou as operações cambiais estabelecidas para as companhias petrolíferas acederem às divisas necessárias para pagar a “fornecedores críticos”, declarando que, “por regra, as companhias vendem a moeda estrangeira aos bancos para ser passada aos seus fornecedores críticos”, mas o que o BNA projecta é “chegar a um nível em que possam realizar a venda directa aos bancos comerciais.”
José de Lima Massano adiantou que o Banco Central está a trabalhar com a Associação dos Operadores Petrolíferos para estabelecer operações de venda voluntária das divisas aos bancos comerciais mas, lamentou, “alguns bancos estrangeiros terminaram a relação com os nossos bancos e temos trabalhado para recuperar e executar as operações na moeda dos Estados Unidos”, sublinhou o governador.