
Fernando Piedade dos Santos (Nandó) está a posicionar-se como candidato à sucessão de João Lourenço e, deste modo, como número um da lista que o MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola) apresentará às eleições gerais previstas para agosto de 2027.
Este avanço do antigo vice-presidente de José Eduardo dos Santos, confirma o que o Negócios escreveu em agosto deste ano: “Fernando Piedade dos Santos está na sombra, mas pode tornar-se a figura capaz de gerar consensos no interior do partido.”
Nandó saiu dos bastidores este mês ao participar na 2.ª edição do Encontro Geracional — À Volta da Fogueira, realizado no CAP 99-Alvalade, em Luanda, promovido por uma estrutura do seu partido. De uma só penada, Fernando Piedade dos Santos apelou à unidade no interior do MPLA, mas também afastou da corrida às presidenciais candidatos mais novos, caso do ministro do Interior, Manuel Homem, dado como o preferido de João Lourenço.
“É necessário haver coabitação entre gerações. Os mais velhos, pela experiência, devem ser respeitados; os mais novos, por sua vez, devem evitar a pressa e a sede de poder”, avisou o também ex-presidente da Assembleia Nacional, citado pelo site Club-K. Por outras palavras, na corrida ao Palácio da Cidade Alta, residência oficial do chefe do Estado, os mais jovens do MPLA devem dar primazia aos “mais velhos”, um estatuto com grande importância social em Angola. Nandó aproveitou ainda para deixar uma mensagem que pode ser entendida como uma crítica à pressa com que Higino Carneiro apresentou a sua candidatura para ocupar o lugar que será deixado vago por João Lourenço: “A sucessão deve ser construída com humildade, disciplina e trabalho.”
“Não podemos nos guerrear uns aos outros” e “quando há divisões internas, os inimigos aproveitam para acender ainda mais a fogueira”, acrescentou Fernando Piedade dos Santos durante o referido encontro. Um recado que, tratando-se de uma carapuça, serviria na perfeição a Higino Carneiro.
Nandó, que em novembro do ano passado dizia estar fora da corrida presidencial, emerge agora como potencial candidato, capaz de fazer a quadratura do círculo no interior do MPLA. Tem experiência e, de acordo com o próprio, desempenhou bem as suas funções: “Fui um verdadeiro adjunto do Presidente José Eduardo dos Santos. Fui respeitado.
Senti-me bem na função.” Além disso, Nandó, é também respeitado pelos “mais velhos da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola)” os quais não esquecem que ele chamou a si, em 1992, a segurança de Abel Chivukuvuku. O então dirigente da UNITA ficou gravemente ferido na sequência dos tumultos que se registaram após as eleições de setembro de desse ano. Nesta ocasião, os resultados foram colocados em causa e as forças governamentais e a UNITA entraram num confronto que acabou para reacender a guerra civil. Altos dirigentes da UNITA, como Salupeto Pena e Alicerces Mango, foram mortos quando tentavam fugir de Luanda. Chivukuvuku foi capturado gravemente ferido e protegido por Nandó até ao seu restabelecimento total.
Há ainda um detalhe que ganha importância. A circunstância de Fernando Piedade dos Santos ter feito estas afirmações durante um evento promovido pelo MPLA revela que goza de apoios de relevo no interior do partido.
Fonte: N