Polícia esteve no local, onde deteve um munícipe em posse de ferro, mas ainda não prestou esclarecimentos sobre o que se diz ser um quadro de instabilidade. Estaleiro de empresa pública está a atrair gente interessada na venda de um produto em falta no sector siderúrgico.
Militares da Unidade de Defesa Presidencial (UDP) balearam dois jovens integrantes de um grupo que estaria a roubar ferro no estaleiro da empresa chinesa CR-20 na província de Benguela, revelou uma testemunha, precisamente num momento em que ocorriam tumultos.
A segunda ocorrência, relatada a partir do estaleiro, foi nesta quarta-feira, 13, quatro dias após a primeira, mas ainda ontem, como constatou à imprensa, era notória a presença de efectivos da Polícia Nacional no bairro Catumbela Praia, onde se encontra a infraestrutura.
Inicialmente, de acordo com um trabalhador, a venda do ferro que ali se encontra “era feita só por efectivos da UDP”, mas a crescente procura, numa região com inúmeros compradores, arrastou moradores da área.
Os militares não terão gostado da “concorrência”, daí o clima de tensão, conforme a fonte da imprensa, que parou de trabalhar para descrever o que chama de clima de tensão.
Um dos alvejados está no Hospital Geral de Benguela e o outro, com ferimentos ligeiros, já se encontra em casa.
“Um caso foi domingo, um rapaz foi baleado, mas há outro, hoje, ele partiu a rótula. Essa hora, aqui, está a sair tiro, isso virou campo de fuzilamento, é preciso uma intervenção rápida. A CR20 é controlada pela Casa Militar, e eles é que começaram a vender, mais tarde a população também começou a vandalizar, há muita sucata, todo tipo de ferro”, relata o funcionário.
Já esta manhã, à porta do estaleiro da empresa pública chinesa, que reabilitou o Caminho-de-ferro de Benguela (CFB), efectivos da Polícia Nacional vigiavam a área, tendo detido um cidadão em posse de ferro.
Ali, moradores emitiam sinais de preocupação face à presença policial, procurando distância em relação à reportagem da imprensa.
Ainda assim, dois cidadãos disseram que alguns militares têm parceria com gente alheia ao estaleiro.
“Muitos colaboram com os militares que pertencem ao estaleiro. Aqui há muito roubo”, salienta o morador Joaquim Kapita, enquanto um outro, que se apresenta apenas como Tony, também em poucas palavras, indica que “essa hora encontramos essa “caleluia” [motorizada], já é um caso, só que alguém accionou a Polícia”.
À imprensa contactou o Comando Provincial da Polícia Nacional em Benguela para um esclarecimento a propósito da situação, mas não foi bem-sucedido.
Já o comandante municipal da Catumbela, Ângelo Muquinda, diz estar a par do sucedido, mas explica que, por orientação superior, só mesmo o porta-voz do Comando Provincial [Ernesto Chiwale] está autorizado a prestar declarações.
“Sabemos de tudo, por isso enviámos os agentes, mas não podemos dar entrevista”, reforça.
Numa breve apreciação, tendo como paradigma a crescente procura de ferro, o analista José Cabral Sande vê nestes acontecimentos uma combinação de factores, com a fome e a indústria siderúrgica pelo meio.
Lembrando que o envio do ferro do CFB para a China representa um antecedente, ele afirma que “uns roubam porque têm fome, ao passo que os outros recebem por uma questão de apetência pelos lucros fáceis”.
Ao abordar o que chama de insuficiência no sector siderúrgico, Cabral Sande assinalou que o recurso ao mercado internacional para a obtenção de matéria-prima implica direitos alfandegários e outros encargos, bem acima da “gasosa de cinco ou seis mil Kwanzas”.
O analista acrescenta que “o material é roubado não só das linhas férreas, também dos sinais de trânsito, de tudo, e o indivíduo baleado é apenas o último elemento dessa cadeia”.
Há muitos anos, desde o tempo do extinto Gabinete de Reconstrução Nacional (GRN), liderado pelo general Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, que efectivos da Presidência controlam a CR20, empresa envolvida igualmente na construção de edifícios apreendidos em Benguela pela Procuradoria-Geral da República.
Fonte: NJ