Trata-se do médico geral José Kavanda Pedro, interno de especialidade, saído de Luanda, e colocado no município de Nankova, no Cuando Cubango, no Hospital Geral de Menongue, que viu os seus salários suspensos por ter denunciado em áudio, a precariedade das condições de trabalho na região em que está colocado.
No áudio, a que à imprensa teve acesso, o médico José Kavanda Pedro denuncia atrasos salariais constantes, abrangendo todos os colegas aí colocados.
Explica ainda que vezes sem conta vê-se obrigado a recorrer aos amigos do bairro para pedir comida, em função dos cortes salariais, ao mesmo tempo que denuncia desvios de fundos por parte dos gestores.
“Desta vez pedi socorro ao Director Provincial da Saúde a ver se me arranja um dinheiro que pelo menos me aguenta comer e apoiar a família em Luanda que depende de mim, [os filhos] estudam, fazem faculdades”, revelou, acrescentado que a casa arrendada está com os prazos de pagamentos a terminar.
“Nós os médicos aqui não temos onde recorrer […], há momentos que eu vou aos meus amigos mecânicos – quando estou de folga-, chego lá e lhes digo ‘olha, em casa não tenho nada para comer, me dão só pelo menos cinco mil’. Há vezes que eles me dão lá mil kwanzas, porque eles também estão a desenrascar a vida”, desabafou em lamento.
Em função destas declarações, a inspecção das actividades farmacêuticas do Gabinete Provincial da Saúde do Cuando Cubango orientou a direção do Hospital Geral de Menongue a instaurar um processo disciplinar ao médico denunciante, por entender que as informações no áudio não correspondem com a verdade.
Entretanto, o Sindicato dos Médicos Angolanos diz-se a par da situação, que considera preocupante, pelo que o seu presidente, Adriano Manuel, garante estarem a ser feitas diligências junto das autoridades no sentido de ver ultrapassados os problemas relatados.
Adriano Manuel disse mesmo que caso o problema não se resolva, nos próximos dias, a solução será a convocação de uma greve geral para pressionar as autoridades.
“O colega aborda uma questão que não acontece só na província do Cuando Cubango. Acontece em todas as províncias de Angola, até em Luanda, acontece em alguns municípios, [em que há] colegas que não são pagos as suas horas acrescidas”, começou por narrar.
Referiu que abordou o assunto com o Director Provincial da Saúde do Cuando Cubango que terá reconhecido o “erro humano” e que seria logo resolvido.
“Agora surpreende-nos o comunicado do Ministério da Saúde [que] já diz que deve-se criar um processo disciplinar contra o colega por causa das inverdades. Mas para o Director dos Recursos Humanos, às inverdades que se refere está relacionado ao salário. No entanto, em momento nenhum aborda a questão das condições de trabalho que lhes são colocados, os médicos do Cuando Cubango. Da água imprópria para se beber, em quase todos os municípios do Cuando Cubango”, reforçou, acusando o director dos Recursos Humanos de ignorar esses problemas e preocupar-se apenas com a questão dos salários.
Disse ainda que os extratos bancários do médico em questão não correspondem com os títulos de salários do profissional, em alguns meses.
Disse ainda que o director do hospital terá recebido orientações para retirar o médico José Kavanda Pedro do internato.
“Isso nos vai fazer, de certeza absoluta ponderar a possibilidade de nos próximos dias reunirmos com urgência e quiçá, vermos a possibilidade de mais uma vez em defesa do nosso colega, partirmos por um processo reivindicativo, uma marcha ou quem sabe uma outra greve”, afirmou o presidente do Sindicato dos Médicos Angolanos, Adriano Manuel.
Fonte: CK