Hoje, o mundo assinala o Dia da Hipertensão Arterial, uma doença silenciosa e gravíssima que afecta mais de 30 por cento da população adulta a nível do globo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS),o número de adultos dos 30 aos 79 anos, com hipertensão arterial, duplicou nas últimas décadas, passando de 650 milhões em 1990 para 1,28 biliões até 2021.
Segundo a OMS, a hipertensão arterial faz parte das doenças cardiovasculares, que constitui a primeira causa de morte e é o principal factor de risco para se desenvolver AVC (Acidente Vascular Cerebral), quer sejam isquémicos como hemorrágicos, ataque cardíaco, lesão das artérias, aneurismas, infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, insuficiência renal crónica, lesão da retina, de-mência e, algumas vezes, a impotência sexual.
Devido aos efeitos gravíssimos da doença, que muitas vezes são irreversíveis, recentemente, a OMS recomenda, a todos os países, a implementarem medidas preventivas e traçarem estratégias que visam uma melhor assistência primária, para se reduzir o impacto negativo que a hipertensão arterial provoca no seio da população.
Mas, apesar de todas estas complicações que a hipertensão pode causar à saúde, de acordo ainda com a OMS, é possível controlar e prevenir esta patologia por meio da adoção de bons hábitos e um estilo de vida mais saudável.
Realidade angolana
Em Angola, até 2021, foram diagnosticados 322 mil novos casos de hipertensão arterial e, destes, 1.452 terminaram em óbitos, segundo a coordenação de Doenças Crónicas Não Transmissíveis, órgão afecto à Direcção Nacional de Saúde Pública.
Definição da doença
A cardiologista Adriana Bernardo, responsável da área de Cuidados Intensivos do Complexo Hospitalar de Doenças Cardiopulmonares Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, define a hipertensão como sendo uma doença crónica caracterizada pelo enrijecimento dos vasos do coração, causando, assim, um aumento da pressão quando o sangue passa por eles e é traduzida por cifras tensionais.
Adriana Bernardo disse que a hipertensão arterial é caracterizada pela elevação sustentada dos níveis de pressão arterial acima de 140×90 milímetros de mercúrio (mmHg), popularmente referenciada como 14/9 mmHg. O primeiro número se refere à pressão máxima, que corresponde à contração do coração, e o segundo à pressão do movimento de diástole, quando o coração relaxa.
A cardiologista explicou que a pressão arterial é medida através de aparelhos, como o tensímetro ou esfigmomanómetro e é expressa em duas medidas sistólicas e a diastólica. Sendo que a sistólica se refere à pressão máxima e a diastólica é a pressão mínima.
Segundo a médica, na maior parte dos adultos, a pressão arterial normal em repouso (sistólica) é de 120 a 140 milímetros de mercúrio (mmHg) e a diastólica de 75 a 85 mmHg. E, também na maior parte dos adultos, considera-se que a pessoa tem hipertensão arterial quando mesmo em repouso os valores consistentemente são superiores a 140/90 mmHg. Já os valores de 9 para baixo já se considera hipotensão. Mas vale dizer que, em crianças e em idosos, os valores de referência são diferentes.
Factores de risco
A responsável da área de Cuidados Intensivos do Complexo Hospitalar de Doenças Cardiopulmonares Cardeal Dom Alexandre do Nascimento sublinhou que a hipertensão pode ser classificada como primária ou secundária, sendo que cerca de 90 a 95 por cento dos casos da doença são primários, porque têm causa em factores de origem genética e do estilo de vida.
Entre os factores que aumentam o risco de hipertensão primária, a cardiologista explicou que estão na base o excesso de consumo de sal na dieta, excesso de peso, tabagismo e consumo de álcool e a predisposição genética por ter nascido de pai ou mãe hipertensos.
“Já os restantes 5 a 10 por cento dos casos de hipertensão são secundários, porque têm origem em causas identificáveis, como doença renal crónica, estenose da artéria renal, doenças endócrinas ou uso de pílula contraceptiva”, salientou a médica.
Adriana Bernardo explicou que a hipertensão primária não tem cura, apenas se pode controlar com o uso de medicação, mudança de hábitos, estilo de vida e pode-se viver de forma tranquila porque estas medidas ajudam a diminuir a pressão arterial e o risco de ter complicações.
A cardiologista realçou que entre as alterações no estilo de vida estão a perda de peso, a diminuição do consumo de sal, a prática de exercícios físicos e manutenção de uma dieta saudável.
A especialista acrescentou que, quando as alterações no estilo de vida não são suficientes para se baixar a tensão, podem ser administrados medicamentos anti-hipertensivos de média ou alta miligrama, que devem ser tomados diariamente para baixar os níveis tensionais.
Questionada sobre casos de hipertensão em crianças, a médica explicou que, regra geral, a causa é secundária. Por isso, quando assim acontece é importante que o médico vá atrás das causas, porque dificilmente é primária. Muitas vezes, tal ocorre por haver alteração a nível dos rins, ou por coartação da aorta (estreitamento ou alargamento da principal artéria do corpo humano) ou outra situação que deve ser devidamente investigada.
Mas a médica adverte, quem tem pai e mãe hipertensos, há forte predisposição genética de mais tarde vir a desenvolver a doença. Logo, os cuidados com a sua saúde devem ser redobrados, se-guindo as medidas preventivas como reduzir o consumo do sal, álcool, tabaco e praticar exercícios físicos com regularidade.
“Também se recomenda que tais pessoas consultem de forma regular um médico especializado em Medicina Interna ou um clínico geral devidamente treinado para fazer o despiste da doença que o mesmo já tem nos seus genes”.
Sintomas e medicamentos
A cardiologista explicou que a hipertensão arterial é uma doença silenciosa, daí que os seus sintomas muitas vezes são notados quando os níveis tensionais sobem e nestes casos po-dem ocorrer dores de ca-beça, dor no peito, tonturas, zumbido no ouvido, fraqueza, visão embaçada, sangramento nasal e muitas vezes cegueira.
De acordo com Adriana Bernardo, é importante que as pessoas, ao notarem estes sintomas, procurem ajuda médica para de seguida serem medicadas e devem seguir à risca o tratamento.
“Mas, infelizmente, não é isso que acontece e para nós os cardiologistas é frustrante saber que um paciente teve complicações graves por negligenciar a medicação”.
Mas, segundo a médica, muitos pacientes abandonam a medicação por falta de capacidade financeira, porque de facto chega a ser oneroso para as pessoas de renda baixa comprarem esta medicação para o resto da vida.
A médica disse que “daí que nós, especialistas, defendemos que a medicação para doenças crónicas como hipertensão e diabetes deviam ser subvencionadas pelo Estado, para minimizar-se os custos, porque há muitas complicações que advêm destas patologias por não cumprirem com a terapêutica”.
Aumento dos casos nos hospitais
Adriana Bernardo disse que, no Complexo Hospitalar de Doenças Cardiopulmonares Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, cerca de 70 a 80 por cento das doenças cardiovasculares que dão entrada nas urgências têm como causa a hipertensão arterial. Já na área de Cirurgia, as cardiopatias mais frequentes causadas pela hipertensão arterial são doenças reumáticas e AVC.
No Hospital Josina Machel, em Luanda, do registo de pacientes que deram entrada, entre Fevereiro, Março e Abril, com diagnósticos principais de hipertensão, 39 acabaram internadas, 503 apresentaram-se no Banco de Urgência e 9 resultaram em mortes.
Acima de 300 cirurgias realizadas pelo hospital
O chefe dos Serviços de Cirurgias Cardiovasculares do Complexo Hospitalar Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, Valdano Manuel, disse que, desde a sua inauguração, a 30 de Novembro de 2021, a unidade já realizou um total de 340 cirurgias, das mais simples às mais complexas, entre crianças adultos e idosos de até 82 anos.
O cirurgião cardiovascular Valdano Manuel disse que o perfil epidemiológico das cirurgias no referido hospital continua a ser o de doenças reumáticas, principalmente a válvula mitral, trocas de válvulas, plastia de válvula, ocupando assim 60 por cento do volume cirúrgico realizado na unidade.
Já a restante cirurgia se refere à colocação de marca passos, cateterismo, cirurgias da aorta, revascularização do miocárdio, dissecação da aorta, entre outras cirurgias. A meta para este ano é realizar 400 cirurgias cárdicas com uma equipa de médicos composta por 40 especialistas, entre cardiologistas, cirurgiões cardiovasculares, anestesiologistas, entre outros.
Fonte: JA