O julgamento dos sete jovens detidos e acusados de ter incendiado e destruído o comité de acção do MPLA, no distrito urbano do Benfica, em Janeiro de 2022, durante a greve dos taxistas, foi retomado esta quinta-feira, 09, com os arguidos a negar os crimes que lhes são imputados e a garantirem que foram detidos apenas por estarem muito perto do comité do MPLA no Benfica.
Aos juízes, os arguidos disseram que no dia em que foi destruído o Comité do MPLA, a Polícia Nacional apenas assistiu aos actos de vandalismo sem nada fazer para impedir os vândalos.
Mesmo com o corte de energia o dia todo, e com imenso calor na sala, o juiz titular, Faria Machado Diogo, mandou prosseguir a sessão, enquanto o escrivão do julgamento escrevia a acta à mão, num caderno, situação que surpreendeu os advogados e a assistência presente.
Entretanto, os arguidos interrogados negaram as acusações e salientaram que não estiveram envolvidos nos actos de vandalismo ao comité do MPLA e na queima do autocarro do Ministério da Saúde.
Ana Lúcia de Almeida, de 23 anos, a única mulher detida entre os arguidos, contou que foi presa simplesmente por estar a ver os jovens a vandalizarem e a destruírem o Comité de Acção do MPLA.
“Apenas observava o acto à distância, e, curiosa, decidi aproximar-me e ver de perto aquilo que para mim era surpresa, a vandalização do comité do partido. Quando a Polícia de Intervenção Rápida (PIR) chegou ao local e começou a disparar, eu e as demais pessoas fugimos e foi assim que um polícia à civil me prendeu e até hoje estou detida”, explicou.
Segundo a arguida, o que para ela foi curioso foi que a esquadra da PN perto do comité nada fez para impedir os jovens de destruirem as instalações do partido.
“O curioso é que a Polícia não fazia nada! Estava apenas a olhar para o que se passava”, contou a jovem, que trabalhava como empregada doméstica numa casa situada nas proximidades do comité do MPLA, no Benfica.
Baltazar Quilalo, de 30 anos, disse que foi preso quando caminhava perto do local e que nada lhe foi dito sobre a sua detenção. Disse ainda que apenas soube que era acusado de estar envolvido na queima do autocarro do Ministério da Saúde já na esquadra da polícia.
“Fui detido quando caminhava nas imediações do BIC por um polícia à paisana que disse que tinha a certeza que eu estava envolvido nos actos de vandalismo. Levou-me para a esquadra e mostrou-me um vídeo onde aparece um jovem com roupa idêntica à minha, mas não era eu. Como o vídeo não era claro, na dúvida, o senhor mandou-me prender e hoje estou aqui”, contou.
Conforme os arguidos, as detenções foram feitas por desconfianças e não por participação directa comprovada.
O Novo Jornal soube que dos 21 arguidos arrolado no processo, sete estão em prisão preventiva e 14 em liberdade sob termo de identidade e residência. Dos 14, apenas um arguido se fez presente na sessão desta quinta-feira.
Os jovens são acusados dos crimes de danos com violência, ofensas simples, associação criminosa, incêndio e explosão, furto qualificado, ameaças, instigação pública, desobediência, atentado contra a segurança dos transportes e participação em motim.
A primeira audiência teve início no dia 24 de Janeiro e foi marcado pelas questões prévias e leitura da acusação.
Avelino Pedro, o advogado do MPLA, pede responsabilização dos arguidos por considerar que foram de facto eles que vandalizaram o comité.
Segundo o MP, os actos criminosos resultaram em danos avaliados em mais de 90 milhões de kwanzas.
A acusação descreve que para além da destruição das infra-estruturas, foram ainda subtraídos um gerador semi-industrial, oito motorizadas de três rodas, o mesmo número de duas rodas, 12 aparelhos de ar condicionados e 20 computadores portáteis.
Fonte: NJ