
João Lourenço está em Sevilha, enquanto Presidente da União Africana, para participar numa conferência sobre financiamento ao desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem actualmente um défice de quatro bilhões de dólares anuais.
Nesta 4.ª Conferência Internacional para o Financiamento ao Desenvolvimento (FFD4) da Organização das Nações Unidas (ONU), que decorre em Sevilha, Espanha, até quinta-feira, participam 60 líderes mundiais e 4.000 representantes da sociedade civil.
Segundo o “Compromisso de Sevilha”, a declaração já negociada no seio da ONU, o objectivo é “renovar o quadro do financiamento global ao desenvolvimento”, num momento de “graves tensões geopolíticas e conflitos” e quando “estão gravemente atrasados” os objectivos acordados pela comunidade internacional na Agenda 2030.
“Estamos a ficar sem tempo para atingir os nossos objectivos e enfrentar os impactos adversos das alterações climáticas. (…) O fosso entre as nossas aspirações de desenvolvimento sustentável e o financiamento para as concretizar tem continuado a aumentar, particularmente nos países em desenvolvimento, atingindo um valor estimado de 4 biliões de dólares anuais”, lê-se na declaração.
Com os recursos a ser desviados para orçamentos militares e de segurança, o corte das verbas para ajuda humanitária e a agências da ONU pelos Estados Unidos, desde que Donald Trump voltou à Presidência do país, que representava até ao ano passado 42% do total de doações, o défice actual na ajuda ao desenvolvimento é, segundo a ONU, 1.500 mil milhões mais do que há dez anos e em 2024 a ajuda oficial ao desenvolvimento caiu pela primeira vez nos últimos seis anos, com previsão de nova queda de 20% para 2025.
Os EUA serão, aliás, o único país-membro da ONU ausente de Sevilha, depois de se terem retirado da negociação da declaração “Compromisso de Sevilha”, embora não a tenham vetado exigindo uma votação.
Entre os líderes confirmados em Sevilha estão a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, que será o anfitrião, ao lado do secretário-geral da ONU, António Guterres.
Passarão ainda por Sevilha, durante os quatro dias da conferência, os líderes das principais organizações financeiras internacionais, como o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional, responsáveis de agências e programas de apoio ao desenvolvimento, organismos e protagonistas do setor privado e organizações não-governamentais (ONG).
Na declaração já negociada, a comunidade internacional assume compromissos para criar novos mecanismos de mobilização de ajuda ao desenvolvimento, de aplicação dos investimentos e de gestão das dívidas soberanas dos países mais vulneráveis ou em vias de desenvolvimento, reconhecida no documento como um dos grandes obstáculos para o desenvolvimento sustentável.
Ao longo de 68 páginas, o “Compromisso de Sevilha” enfatiza também que só o reforço do multilateralismo pode responder à necessidade urgente de erradicação da pobreza e enfrentar os impactos das alterações climáticas.
O documento deverá ser complementado com anúncios unilaterais de diversos países durante a conferência e de ações mais concretas a desenvolver no âmbito da “Plataforma de Sevilha para a acção”, que será apresentada estes dias.
A conferência de Sevilha “é uma oportunidade única para reformar o sistema financeiro internacional”, que é hoje obsoleto e disfuncional, disse recentemente António Guterres.
Fonte: NJ