
As dificuldades em aceder a divisa por parte dos importadores acabou por ditar a queda das importações, a que se associa também uma queda de consumo provocada pela alta de preço que se registou no país. ainda assim, as importações de bens alimentares aumentaram cerca de 100 milhões USD.
As importações de mercadorias angolanas caíram 6%, ao passar de 15.084,9 milhões USD em 2023 para 14.190,2 milhões em 2024, uma queda de 895 milhões USD, no espaço de um ano, segundo cálculos do Expansão, com base nas estatísticas externas do Banco Nacional de Angola (BNA). Os combustíveis e veículos foram os principais responsáveis pela queda das importações no ano passado.
As dificuldades em aceder a moeda estrangeira, tendo em conta que também o kwanza atingiu o nível baixo desde o ano 2000 ao atingir os 951,5 Kz por dólar a 01 de Outubro de 2024 que depois veio fixar-se em 912,0 no final do ano, provocaram em parte esta quebra das importações, e com isso os angolanos têm perdido poder de compra já que a desvalorização cambial dificulta a aquisição de determinados produtos essenciais, o que levou, por exemplo, a taxa de inflação a fixar-se em 27,5% em 2024, face aos 20,0% registados em 2023 (um crescimento de 7,5 pontos percentuais), furando assim as metas do BNA e do Governo, tratando-se da inflação mais alta dos últimos oito anos.
Assim, os combustíveis, com um peso de 22% nas importações, foi a classe o que mais impactou negativamente para redução das importações, ao registar uma queda de 15% para 3.065,0 milhões Kz em 2024, isto é, menos 551 milhões face a 2023. O sector dos veículos vem logo a seguir. Angola gastou menos 441,4 milhões USD em 2024 com importações de veículos e peças. E isso impactou negativamente a venda de carros novos, que caiu 34% em 2024.
Entre as explicações, segundo a Associação dos Concessionários de Equipamentos Rodoviários e Outro (ACETRO) estão a desvalorização da moeda nacional e a falta de acesso ao crédito bancário. Lembrar que, durante alguns anos cerca de 70% das compras de carros novos se fazia através de empréstimos contraídos junto da banca comercial, e hoje praticamente não existe.
Ainda nas importações que mais caíram estão também os produtos têxteis, que escolheram 153,7 milhões USD, as aeronaves e embarcações (-89,9 milhões USD) e os produtos químicos e farmacêuticos (- -71,1 milhões USD).
“Não há divisas. E o Estado está a actuar em consonância”
Tal como entende o economista director do Centro de Investigação Económica da Universidade Lusíada de Angola (Cinvestec), Heitor Carvalho, o problema está na falta de divisas. “Não há divisas. E o Estado está a actuar em consonância”, disse.
“Primeiro porque é difícil aprovar licenças de importação, segundo porque é difícil aos bancos conseguirem divisas para cumprir as ordens de pagamento dos clientes, e terceiro porque o BNA, através de, digamos, uma magistratura de influência, fixou a taxa de câmbio. Ou seja, o Estado, através de diversos mecanismos, todos eles administrativos, fixa o que se pode ou não importar”, apontou.
Assim, para Heitor Carvalho, é importante reduzir as importações, mas deve ser pelos mecanismos de preços, nomeadamente, uma taxa de câmbio real estável defendida pelas Reservas Internacionais e uma boa pauta aduaneira. “A restrição administrativa das importações protege todos os nossos produtores, por pior que sejam, e desloca as condições dos melhores para os piores, aumentando os preços e reduzindo a nossa competitividade. Depois admiramo-nos de só exportarmos petróleo”, referiu.
Já outro economista ligado ao sector, que não quis ser identificado, aponta que a disponibilidade dos operadores em importar é cada vez menor, tanto pela via da redução da disponibilidade em moeda estrangeira, assim como pela redução da preferência de produtos importados em benefício dos nacionais.
“Há cada vez menor capacidade financeira dos operadores económicos em acompanhar o aumento do custo da moeda estrangeira. E o efeito imediato sente-se na redução das importações”, reforçou.
Fonte: Expansão