Um total de 2.968 vendedoras foram cadastradas, até ontem, em Luanda, através do Programa de Reordenamento do Comércio, levado a cabo pelo Governo Provincial de Luanda (GPL), visando a organização da actividade comercial e garantir uma melhor imagem da cidade capital do país.
O anúncio foi feito, ontem, pela porta-voz do Programa de Reordenamento do Comércio, Nádia Neto, durante a conferência de imprensa, realizada no mercado de São Paulo, nesta cidade, referindo que as ruas Ngola Kiluanji, Cónego Manuel das Neves, Rei Mandume e Gajajeira são os pontos mais críticos da venda ambulante.
Até ontem, terceiro dia de trabalho, disse, foram encaminhadas um total de 988 comerciantes, distribuídas entre os mercados de São Paulo e Chapada, que já se encontram a vender. Porém, adiantou, que já não há vagas na “praça” de São Paulo. “Os restantes vendedores vão ser encaminhados para os restantes mercados a nível de Luanda”.
Ao município do Cazenga, avança Nádia Neto, vão ser encaminhados 2.000 vendedores, que vão ficar no mercado dos Combustíveis, onde existem 20 mil lugares.
Os comerciantes que saem das ruas e entram agora para os mercados, destacou, vão ficar 90 dias sem pagar quaisquer emolumentos à administração. No prazo de 48 horas, a contar do dia de ontem, apelou, os comerciantes devem retirar os negócios da via pública e das “casas de processo”, sob pena, caso não cumpram, de serem punidas pela lei e correm o risco de não reaverem os produtos.
O Governo da Província de Luanda vai, disse, doravante, inspeccionar os estabelecimentos comerciais de venda a grosso e retalho, de modo a banir as vendas na entrada do espaço. “Vamos fiscalizar permanentemente as zonas consideradas pontos críticos e não permitir as vendas nesses locais”, disse.
À medida que decorre o processo, explicou, o Governo da Província de Luanda está a realizar, em paralelo, limpezas nas estradas, reposição dos passeios danificados pela atitude das comerciantes, pinturas de lancis e a colocação de lâmpadas para iluminação pública.
Mercados em Luanda
A porta-voz do Programa de Reordenamento Comercial adiantou que o município de Cacuaco, tem 21 mercados, com 9.480 lugares disponíveis para vendas. O município de Belas, disse, tem 22 mercados, com 7.267 vagas. O Kilamba Kiaxi possui 16 mercados, que têm no total 3.397 bancadas. “Viana congrega 23 espaços comerciais e tem 6.473 lugares para venda, enquanto o Cazenga possui 13 mercados e 3.479 vagas. No município de Talatona existem 16 mercados, 3. 837 lugares para actividade comercial.
Nádia Neto reiterou que o Governo Provincial de Luanda não pretende acabar com a venda ambulante, porque, assegurou, é uma actividade permitida pela Lei, com base no artigo nº 1/07, de 14 Maio, referente ao Comércio Ambulatório.
Comerciantes reintegradas já estão a exercer a actividade
Após 48 horas, algumas vendedoras inscritas já exercem a actividade dentro do mercado de São Paulo. No local, a equipa de reportagem do Jornal de Angola constatou um número considerável de vendedoras instaladas nas respectivas bancadas.
Elisa Albino, vendedora há nove anos, sente-se melhor dentro do mercado e garante que o processo de cadastramento foi rápido e eficaz em menos de 48 horas. “Recebi um espaço. Peço às demais para aderirem, de forma que possamos, todas, vender dentro dos mercados”.
Outra vendedora, Maria Miguel, defende a ideia de todas trabalharem dentro do mercado. “É vantajoso, especialmente para quem compra produtos comercializados. É igualmente uma forma de evitar alguns constrangimentos que outrora prejudicavam os citadinos de Luanda”, disse, além de dar nota positiva à iniciativa do GPL por ajudar a retirar os vendedores das ruas.
Proprietários de estabelecimentos comerciais aplaudem a iniciativa
Os responsáveis dos vários estabelecimentos comerciais nos arredores do mercado de São Paulo aplaudiram a iniciativa do GPL de realojar as vendedoras dentro do recinto. Há já alguns meses, recordam, havia um número considerável de vendedoras em frente dos estabelecimentos de São Paulo, dificultando o acesso dos clientes aos espaços.
Esperança Ferreira, funcionária de um desses estabelecimentos comerciais, afirma que o programa é bem-vindo e vai favorecer o comércio nesses espaços. “É de louvar, porque agora os compradores já conseguem ver os produtos, algo impossibilitado antes devido às acções das vendedoras. Além disso, elas sujavam e não limpavam”, recordou.
Para Eduardo Paulo, a atitude é boa, mas teme a redução dos clientes no estabelecimento. “A maioria das clientes era mesmo dessas vendedoras. Agora temos de repensar as políticas de marketing, de forma a atrair mais clientes”, avançou. Porém, reconhece que a venda dentro do mercado é melhor, por reduzir os riscos de vida a que muitas estavam sujeitas.
Mobilidade facilitada
O Programa de Reordenamento do Comércio tem ajudado a devolver a fluidez da Cónego Manuel das Neves até à Ngola Kiluanje, ruas onde antes era comum ter um número considerável de vendedoras, que causavam congestionamento e dificultavam a movimentação de automóveis e pedestres.
O automobilista Jaime Muela acredita que com a retirada dos vendedores das ruas para o mercado, o trânsito no perímetro melhorou. “Agora as pessoas já podem movimentar-se com segurança nas zonas do São Paulo e Valódia, algo que era difícil, devido à comercialização de produtos na via pública”, disse.
O moto-taxista Sandro António adiantou que já se pode circular à vontade. “Anteriormente as vendedoras condicionavam a circulação de automóveis e pedestres. É um trabalho bonito, por facilitar a mobilidade, especialmente na circulação do São Paulo ao município do Cazenga”.
A pedestre Samba Jorge informou que já consegue circular a pé, de forma tranquila. “Esse tipo de ideias são muito boas e louváveis. Antes a mobilidade urbana era feita com dificuldade, devido à venda ambulante”, frisou.
Fonte: JA