O desejo mais profundo de Abel Chivukuvuku, político forjado na UNITA de Jonas Savimbi, é vir a ser Presidente da República de Angola. Para ele, não há um sonho maior que este. E tudo tem feito para que se concretize.
Tentou por via da UNITA, ao candidatar-se a presidente do partido em 2007, mas acabou vencido por Isaías Samakuva, que naquele ano se recandidatava para um segundo mandato, depois de ter sido eleito pela primeira vez em 2003, naquele que foi o primeiro congresso do partido de múltiplas candidaturas após a morte de Jonas Savimbi.
“Por norma, eu não entro em coisas que não têm pernas para andar (…) Depois de ter avaliado o contexto que Angola vive, em que não está claramente visível que hoje somos uma alternativa ganhadora, e consultado vários colegas de direcção do partido e militantes, tomei a decisão consciente de candidatar-me com um único propósito: fazer da UNITA uma efectiva alternativa que possa ganhar as eleições em 2008 e instaurar em Angola um modelo positivo de governação”, afirmara Abel Chivukuvuku em véspera do conclave do partido.
Entretanto, a vontade dos delegados ao congresso foi outra, e a UNITA, sob liderança do diplomata Isaías Samakuva, acabou cilindrada pelo MPLA nas eleições legislativas de 2008, em que o partido então liderado por José Eduardo dos Santos (já falecido), alcançou 81,76% dos votos, contra 10,36% da UNITA.
Internamente, os resultados foram um verdadeiro tormento para Isaías Samakuva, que teve de enfrentar várias contestações e com o nome de Abel Chivukuvuku a fazer-lhe sombra. Muitos militantes e cidadãos alheios ao partido acreditavam que o resultado eleitoral seria diferente se tivesse sido Abel Chivukuvuku a liderar o partido.
Entretanto, em 2011, Chivukuvuku acabou suspenso do partido por 45 dias, uma condição que acabou por contribuir para que ele não se candidata-se a presidente da UNITA no congresso daquele ano.
No livro psicografado, da psicógrafa Solange Faria, organizado pelo académico Benja Satula, intitulado ‘Confissões de um Estadista’, o antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos (do túmulo), terá confessado que havia sido montado uma estratégia para travar Abel Chivukuvuku, porque com ele na presidência da UNITA, o MPLA sairia do poder “mais cedo”.
Criação da CASA-CE
Abel Chivukuvuku, que mesmo ainda na UNITA, ponderava candidatar-se a Presidente da República em 2009, caso o então Chefe de Estado o convocasse, no quadro da Lei Constitucional de 1992, acabou por abandonar o ‘galo negro’ e juntou-se a ‘pequenos’ partidos para a concepção da coligação CASA-CE, por ter sido a forma viável para concorrer às eleições de 2012, dado que a Constituição de 2010 anulou a possibilidade de candidaturas independentes para o cargo de Presidente da República.
Sendo o seu sonho mais profundo, Abel Chivukuvuku deu tudo de si. Apesar de ter criado a coligação quatro meses antes das eleições, conseguiu eleger oito deputados. Em 2017, duplicou o número de deputados para 16.
Entretanto, enfrentou uma crise bastante complexa. Os ‘pequenos’ partidos que haviam garantido tornar a coligação em partido político após as eleições de 2012, acabaram por violar o acordo.
Apesar de o congresso de 2016 ter produzido um documento em que manifestava a vontade de transformar a coligação em partido políticos, e enviado ao Tribunal Constitucional (TC), os ‘pequenos’ partidos acorreram ao referido tribunal rejeitando tal possibilidade. O TC decidiu a favor da pretensão dos ‘pequenos’ partidos.
Chivukuvuku viu-se fragilizado e foi afastado da organização.
De lá (2019) para cá, o antigo delfim de Jonas Savimbi tem procurado criar o próprio partido, denominado PRA-JA Servir Angola. Entretanto, tem sido travado pelo Tribunal Constitucional (TC), que justifica os chumbos com consequentes incumprimentos de normas.
Apesar de indeferido por quatro vezes, uma equação que segundo os técnicos do TC, como noticiou o Luanda Post, não permite a Chivukuvuku mais qualquer tipo de recurso e o impede a criar partido num período de quatro anos, Chivukuvuku insiste, e diz ter encontrado na legislação angolana normas que o possibilitam a continuar a insistir na legalização do PRA-JA.
Visando contornar os obstáculos, Abel Chivukuvuku disse ter descoberto outro ‘caminho viável’, que seria o “recurso de agravo” contra a decisão do Tribunal Constitucional, que rejeitou rever o acórdão que inviabiliza a legalização do projecto.
“Conseguimos encontrar caminhos que os próprios órgãos não pensavam que existissem, pensavam que nós estávamos neutralizados”, dissera. Contrariamente ao optimismo, o TC liderado por Laurinda Cardoso voltou a chumbar esta nova tentativa.
Apesar dos ‘tombos’, Abel Chivukuvuku não atira a toalha ao tapete. E já anunciou que deverá iniciar um processo novo para legalização de outra força política, que deverá chamar-se PRA-JA Força Angola.
Porém, há um novo problema que se levanta. Dinho Chingunji, antigo membro da UNITA, e que fundara o Partido Ndjango, que acabou extinto por não alcançar 0,5% dos votos, acusa Chivukuvuku de plagiar a sua ideia, sublinhando que o Força Angola é a denominação de uma força política que esteve a conceber há já algum tempo.
Entretanto, visando não cansar seus seguidores com questões que estejam copiosamente em volta em polémicas, Abel Chivukuvuku deve analisar serenamente as opções, para que não dê entrada ao TC um projecto que depois a titularidade da marca venha a ser travada na justiça.
Fonte: CK