Se no ano passado a queda na produção no sector petrolífero fez cair as exportações, no I trimestre deste ano voltou a empurrar para cima, devido ao aumento da produção que ficou acima da média diária de 2023. Já as importações caem devido à limitação de divisas, já que a desvalorização cambial dificulta a aquisição de determinados produtos essenciais, e com isso os angolanos têm perdido, e vão continuar a perder, poder de compra.
As exportações de mercadorias angolanas cresceram 2%, ao passar de 8.636,5 milhões USD no primeiro trimestre de 2023 para 8.821,8 milhões nos primeiros três meses deste ano, um aumento de 185,3 milhões USD. Se as exportações aumentaram, o mesmo não aconteceu com as importações, já que estas encolheram 856,6 milhões USD para 3.194,7 milhões, segundo cálculos da imprensa, com base nas estatísticas externas do Banco Nacional de Angola (BNA).
Contas feitas, entre Janeiro e Março as trocas comerciais do País com o resto do mundo recuaram 5% para 12.016,5 milhões USD face os 12.687,8 milhões verificados no mesmo período do ano passado.
O aumento das exportações foi influenciado pelo petróleo cujas vendas para o exterior aumentaram 188,0 milhões USD devido ao aumento não só do preço médio de 78,7 USD para uma média de 82,3 USD, mas também da produção no País, já que no primeiro trimestre do ano Angola produziu cerca de 102,44 milhões de barris de petróleo, o equivalente a uma média diária de 1,13 milhões de barris, um crescimento de 4% face aos 1,08 registados no mesmo período do ano passado, de acordo com cálculos do Expansão com base nos relatórios mensais da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG). Esse aumento da produção permitiu ao País exportar um total de 94,4 milhões de barris de petróleo bruto (mais 6,2 milhões de barris), que resultaram em receitas brutas de 7,78 mil milhões USD nos primeiros três meses do ano.
Assim, as exportações do sector petrolífero (petróleo bruto, derivados e gás) representaram 94% das vendas angolanas para o exterior, mais 1% do que representava no ano passado, o que demonstra, fraca diversificação económica do País. Por outro lado, as exportações dos minérios (dominados pelos diamantes), que representam 5% das exportações nacionais, caíram 4% para 431,5 milhões USD, o que significa que o País exportou menos 18,6 milhões USD.
“Como se demonstrou, há uma total dependência do petróleo nas exportações e, portanto, não há qualquer diversificação que se possa retirar dos números da balança comercial”, argumenta o economista e director do Centro de Investigação Económica da Universidade Lusíada de Angola (CINVESTEC), Heitor Carvalho.
Queda das importações elevam inflação
A quebra no consumo interno e as dificuldades em aceder a moeda estrangeira provocaram em parte esta quebra das importações, uma vez que os bancos comerciais passaram a ter acesso a apenas cerca de 600 milhões USD por mês, resultantes da queda substancial da oferta de moeda estrangeira que se registou no passado, quando em 2022 a média de vendas mensais de divisas foi de 1,2 mil milhões USD, e com isso os angolanos têm perdido poder de compra já que a desvalorização cambial dificulta a aquisição de determinados produtos essenciais.
“As reduções das importações eram expectáveis atendendo às restrições impostas como o aumento das taxas aduaneiras, conjugado com a depreciação do Kwanza e aumento dos juros que visou reduzir a liquidez”, disse o economista Fernandes Wanda, argumentado que esta redução vai ter um impacto nos preços no curto prazo, o que vai deteriorar o nível de vida dos angolanos.
Entretanto, de acordo com INE, a classe de alimentação e bebidas não alcoólicas é a que mais tem contribuído para a subida da taxa de inflação, tendo contribuído com mais de 70% no peso total. Assim, segundo o BNA, o comportamento do preço dos alimentos resulta, fundamentalmente, da redução da oferta dos produtos de amplo consumo na economia, tendo em conta a insuficiente produção interna e a contínua redução das importações.
No entanto, nos primeiros três meses do ano, a importação de bens alimentares que representa 16% do total das importações caiu 7% ao passar de 546,6 milhões USD no primeiro trimestre de 2023 para 509,9 milhões, o que significa que o País importou menos 36,7 milhões USD em alimentos.
Fonte: Expansão