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«Estaria a mentir se dissesse que não temos problemas, mas estamos a trabalhar afincadamente para os resolver» – Adriano Mendes de Carvalho, governador do Zaire

Na passada terça-feira, 11, um dia depois da presença de João Lourenço, Adriano Mendes de Carvalho, governador do Zaire, abriu à imprensa as portas do palácio municipal do Soyo, onde, entre várias questões, falou da importância da Base Naval da Região Norte, recém-inaugurada pelo Presidente da República, da coabitação com os seus adversários políticos, bem como de alguns projectos sociais em construção na província com pouco mais de 600 mil habitantes, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

Na última segunda-feira, 10, o município do Soyo recebeu o Presidente da República, João Lourenço, para a reinauguração da Base Naval da Região Norte. O que essa unidade pode representar para segurança do Zaire, em particular, e do País, em geral?

A única coisa que lhes posso dizer em relação à pergunta que acabam de me colocar é a seguinte: Esta Base Naval da Região Norte vai trazer mais segurança para as nossas águas, vamos ser mais respeitados. Vamos partir de um pressuposto de que há contrabando de combustível, de seres humanos e não só, aí a Base tem uma grande importância, não só a nível de Angola como também a nível da nossa região e para a própria República Democrática do Congo. Quando estou a falar de Angola, não estou só a falar a nível da nossa Região Norte, mas também outras como a Sul, mesmo para resgates, como para resolver os casos de pirataria de barcos que, às vezes, vão aparecendo nas nossas águas. Essa Base não vai só ver estes aspectos de segurança, mas também vai poder trazer mais postos de trabalho para os nossos jovens, pois quem trabalha numa estrutura como essa não são só os militares, há também os trabalhadores civis, os enfermeiros, o pessoal que cuida da higiene e da cozinha.

O senhor governador falava da questão do contrabando e da imigração ilegal. Antes do funcionamento desta Base Naval, qual era a realidade aqui na Soyo?

Vamos lá ver alguma coisa: nós também não podemos fugir da nossa realidade, temos uma província que tem os seus limites fronteiriços com outro país, que é a República Democrática do Congo. Diga-se, a bem da verdade, que ainda estamos com algumas debilidades, se calhar não tanto, mas quero transmitir que há algumas debilidades, que são superáveis, que, a qualquer momento, podem vir a ser superadas. Não acredito que isso venha a acabar de imediato, isto pode levar algum tempo. Temos é que ser realistas. A questão da imigração ilegal, quer queiramos, quer não, é um facto. As pessoas que estão nas nossas fronteiras quase que se confundem se são do nosso lado ou é da RDC. Nós sempre fomos um povo muito unido. Prova disso é que antes falávamos dos quatro Congos (Brazzaville, Libreville, Kinshasa e o nosso). Há casos em que nós acabamos por ter uma prima ou um primo casado com a pessoa do outro lado, e aí você não consegue fazer nada.

Como tem sido a coabitação política no Soyo e Zaire, em geral?

Nunca tive problemas com nenhum deles [partidos na oposição]. Por onde passo, por onde passei, mesmo aqui no Zaire, nunca tive problemas com ninguém. Somos adversários políticos, mas não somos inimigos uns dos outros. O que deve haver entre nós é o respeito, temos de falar a verdade. Para conquistar ou ganhar o seu espaço, não precisa de pisar os outros, não precisa de cozinhar e espalhar notícias falsas, muitas vezes contra o governador, só porque quer ascender. Eu falo com todos eles, sobretudo quando pedem audiências. Ainda há pouco tempo, recebi o Abel Chivukuvuku, recebi-o, falámos. Agora, eu tenho o meu programa [político partidário]. Se as pessoas, quando chegarem, se não rebentarem ou estrangularem o meu programa, eu recebo-as. A coabitação é salutar, mas é fundamental que haja sempre respeito entre as pessoas. Nós sabemos quem faz e quem não faz.

Tem havido insultos?

Às vezes, tem sido esta a realidade, de as pessoas estarem a insinuar. Não sei se recebem alguma coisa, mas infelizmente essa é a realidade, e em alguns aspectos são de questões meramente regionais. Nota-se, às vezes, um certo regionalismo e tribalismo. Angola é de Cabinda ao Cunene. Noto, às vezes, alguém querer fazer isso, mas tenho uma prima, por exemplo, que tem cá os filhos, a irmã do Hoji-ya-Henda, a Sara Mendes de Carvalho, a minha prima Ruth Mendes de Carvalho tem cá os filhos, foi casada com o comandante Ndozi, temos muitos outros exemplos. A minha irmã Divua casou em Mbanza Kongo, e eu agora vou dizer o quê? Temos é que estar unidos. O meu falecido irmão é casado com a Amélia Fonseca, daqui do Nzeto, é tanta família.

Presume-se que, no aspecto político, como 1.º secretário provincial do MPLA, tem um desafio muito enorme. Veio do Kwanza-Norte, onde venceu, mas depois foi nomeado para uma província onde o seu partido perdeu. Existe uma estratégia para contrariar aquilo que aconteceu em Angola de 2022 contra o seu partido, cá no Zaire?

Há, sim. Vamos lá ver uma coisa: é um desafio que nos foi proposto. Temos é que aceitar, não nos resta outra solução. Nós temos é que aceitar. Podem ter certeza de que a melhor coisa que temos e a resposta que temos que dar é trabalhar mais, e o nosso lema é trabalhar mais e comunicar melhor. O segredo está no trabalhar mais e comunicar melhor. Isso é que muita gente não gosta. Eu não sou um indivíduo de ficar muito nos gabinetes. Hoje é terça-feira, se calhar, devia estar vestido de fato, mas estou de calças jeans, sapatos empoeirados. O gabinete é bom, gosto, mas os vice-governadores e os directores todos têm de andar. Quando está a acontecer alguma coisa, eu sou o primeiro a chegar ao local. É preciso fazer uma governação de proximidade, as pessoas não estavam habituadas com esta dinâmica.

Por exemplo, no dia em que recebi o senhor Presidente da República, as pessoas viram-me a andar às 5h da manhã, sozinho. Mas “este é o senhor governador que está a andar sozinho?” Claro que sim, qual é o problema? “Senhor governador, vamos tirar uma fotografia”, então vamos lá tirar a fotografia, não vejo nenhum problema. Quando há tempo, vou comprar o meu peixe sozinho, é a minha forma de ser, não vale a pena. Vocês viram pela televisão o caso do futebol, aquando do apuramento da nossa equipa do São Salvador para o Girabola. Meteram-me na tribuna, mas gosto de vibrar, por isso fui para bancada-geral. Não posso vibrar na tribuna, é mesmo na bancada-geral. Eu gosto de ouvir o barulho do povo, é com eles que eu quero vibrar.

Ontem, por exemplo, com o senhor Presidente, quase que rompi o protocolo, mas, mesmo assim, fui ter com os jogadores. É a nossa forma de ser. Eu, às vezes, estou no gabinete, quando assustarem, já não estou lá. A única coisa que lhes posso garantir na governação é que as pessoas devem abandonar os seus gabinetes, provando por A + B que é governante e que deve estar ao lado das populações. Existem exemplos práticos que nós estamos a ter, do próprio Presidente da República, vimo-lo no pavilhão assistir ao jogo de basquetebol. Nós não temos problema, estamos a comer fúmbua com a mão. O fato e a gravata, às vezes, fazem-me confusão.

Que dificuldades encontrou na governação da província, sobretudo no sector social?

Temos várias questões de carácter social, nunca as deixamos de apresentar. Estaria a mentir, se, no entanto, dissesse que não temos problemas. Temos, sim, senhor! Nós estamos com 300 escolas no cômputo geral, mais de 40 mil salas de aulas. Se estou satisfeito com isso? Claro que não. Há zonas aonde fomos e as escolas não estão bem, são precárias. Vai-me dizer que estou satisfeito com alguns postos médicos a nível dos municípios? Claro que não. Vai dizer-me que estou satisfeito com a água distribuída no Tomboco? Não estou, mas gostaria de que metessem isso no vosso jornal, que estamos a trabalhar muito afincadamente e seriamente com o senhor ministro João Baptista Borges, de forma a resolver todos esses problemas nos próximos tempos.

Fonte: NJ

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