
Em 2026, os pacientes que, por Junta Médica do Ministério da Saúde de Angola, estiverem a beneficiar de tratamento em Portugal, verão esses serviços encerrados, sendo que deverão dar continuidade no seu país de origem, de onde serão direccionados para a África do Sul, quando situações médicas ainda requererem tratamento adicional, após criteriosa avaliação ditar tal necessidade
Alguns pacientes que estão na linha de tratamento de suas endemias, em Portugal, por Junta Médica do Ministério da Saúde angolano, demonstram-se bastante preocupados com o encerramento desses serviços, daqui a seis meses, ao ponto de anteverem já complicações no seu estado de saúde.
Duas mães cujos filhos são pacientes nessa condição foram abordadas por OPAÍS, quartafeira, 25, na centralidade do Kilamba, município com o mesmo nome, em Luanda.
As senhoras disseram que, a partir do dia em que se depararam com o anúncio do encerramento da Junta Médica em Portugal, o moral dos seus familiares já baixou, porque isso muda completamente o grau de esperança de superação.
As progenitoras, que pediram para falar sob forma de anonimato, a fim de não sofrerem qualquer represália, nos cinco meses que faltam para verem os serviços encerrados, deixaram patentes que não desdenham a qualidade dos serviços de saúde da África do Sul, mas questionam a nova burocracia, os constrangimentos linguísticos nas Terras de Nelson Mandela, além da linha de recepção de fármacos, bem como o ritmo de vida, que não lhes apaga, na memória, recentes conflitos sociais com estrangeiros.
“Se é mesmo o dinheiro que está em causa, é melhor diminuírem a lista dos doentes que se tratam em Portugal, por Junta Médica, em vez de acabarem com os serviços, porque temos mais facilidade de estar lá, onde, desde já, depositamos a nossa confiança, para melhorarmos a situação dos nossos filhos”, disseram as entrevistadas, tendo desabafado que as vidas deles estão, agora, à sua sorte.
Outra situação que as preocupa tem a ver com a alegada facilidade de alojamento, mesmo no processo de arrendamento ou compra de uma residência, conforme fizeram questão de referir as próprias, que colocaram na balança a hospitalidade de alguns conterrâneos já residentes, que são capazes de hospedar irmãos da sua pátria, em situações de necessidades extremas.
As duas alegaram já terem vivido sob favores do género, prestado por conterrâneas residentes em Portugal, que as ajudaram a conseguir uma residência, cujos custos partilham actualmente.
“Na África do Sul, é mais próximo, os bilhetes de passagem são mais baratos e talvez o aluguer de residências, mas nós não vamos ter o espírito tranquilo, como temos em Portugal”, cogitaram as senhoras, que pedem ao Governo angolano para rever essa medida.
Relativamente aos hospitais de ponta referidos no despacho do MINSA, elas disseram que não são as paredes e as máquinas que curam os doentes, mas os técnicos especializados, até mesmo para fazer uma máquina funcionar como deve ser.
“Creio que estamos todos a tomar informações das próprias instâncias superiores de Angola sobre o número de pessoas que morrem, nesses mesmos hospitais, da reclamação de falta de técnicos e especialistas, nos laboratórios e da carência de reagentes, bem como de outros materiais gastáveis”, lembrou a cidadã, tendo, entretanto, reconhecido alguns avanços.
Sindicato dos médicos contesta
Ao reagir, publicamente, sobre o assunto, Adriano Manuel, o líder do Sindicato Nacional dos Médicos Angolanos (SIMEA), recordou as garantias apresentadas pelo Ministério da Saúde (MINSA), segundo as quais não foi precipitado o encerramento da Junta Médica em Portugal e que há condições de abordar patologias complexas em Angola, para questionar, por que razão os doentes que se queimaram, recentemente, numa plataforma petrolífera de Cabinda foram, inicialmente, atendidos em Luanda e, posteriormente, na África do Sul.
“Por que não receberam tratamento em Cabinda, se nessa província há um hospital de terceiro nível com material de ponta”, questionou Adriano Manuel, sublinhando, igualmente, que o país tem um défice de recursos humanos muito grande, que vai desde a falta de especialistas até aos de técnicos.
O sindicalista disse ainda que os laboratórios desses hospitais novos estão desprovidos de reagentes e outros meios, o que, no seu entender, obriga qualquer utente a questionar se há mesmo condições para se abordar aí doenças complexas.
Fonte: OPAÍS