Sem subsidio do estado o proveitos operacionais cobriram apenas 51% do que a empresa gasta e não chegaria pra pagar os salários. Auditor externo aprova relatório com duas reservas mais alerta que a actividade dea empresa depende do suporte financeiro do accionista do Estado.
A Empresa Nacional de Correios e Telégrafos de Angola, vulgo “Correios de Angola”, registou um lucro líquido de 104 milhões Kz em 2023, revertendo assim o quadro de prejuízos que se verificou em 2022 quando registou um resultado negativo de 339 milhões Kz, apurou o Expansão com base no relatório e contas do operador de serviços postais, divulgado pelo Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE).
Esta inversão de marcha nos resultados negativos deve-se, principalmente, ao aumento em 77% dos rendimentos com a prestação de serviços, que passou de 648,9 milhões em 2022 para 1,2 mil milhões Kz no ano passado. Também teve grande impacto nos resultados a redução de 30% (533 milhões Kz) dos custos com pessoal, que saíram de 1,8 mil milhões Kz para 1,2 mil milhões Kz em 2023.
No relatório e contas não consta uma justificação para este aumento dos serviços prestados, nem para o corte nos custos com pessoal, pelo que o Expansão solicitou esclarecimentos à empresa, não tendo obtido resposta até ao fecho de edição. Segundo o relatório de gestão, a empresa terminou o ano de 2023 com menos sete trabalhadores face a 2022, o que é contrariado pelas notas às contas que indica a redução de apenas um funcionário, pelo que fica por explicar como é que a diminuição de 7 ou de apenas um trabalhador faz com que a empresa gaste menos 533 milhões Kz em salários.
Apesar do aumento dos ganhos operacionais com a prestação de serviços e a redução de custos com pessoal, o valor com maior expressão nos rendimentos é o subsídio operacional (que a empresa recebe todos os anos do IGAPE para auxiliar parcialmente o pagamento dos salários) no valor de 1,2 mil milhões Kz. Importa também realçar que no ano de 2023 o subsídio do IGAPE aumentou 30,6 milhões Kz em relação ao ano anterior.
Graças à subvenção do Estado, a empresa registou no ano de 2023 um resultado operacional positivo no valor de 114 milhões Kz. No entanto, sem o subsídio os proveitos operacionais seriam de quase 1,2 mil milhões Kz (em vez dos cerca de 2,4 mil milhões), pelo que apenas cobriria 51% dos custos operacionais que se cifraram em 2,3 mil milhões Kz. Ou seja, sem o subsídio, os Correios de Angola registariam prejuízos.
Mesmo com os subsídios, entre 2019 e 2022, os Correios registaram resultados operacionais negativos, situação que foi revertida no ano passado.
No relatório de gestão, a empresa refere que houve um acréscimo de apenas 0,012 na solvabilidade, “agravando a incapacidade da empresa a médio e longo prazo de honrar com os seus compromissos junto a fornecedores”. E acrescenta que para melhorar os indicadores é necessário que seja realizado o capital subscrito pelo Estado e que “ainda não foi pago”, bem como efectuar um aumento de capital, a necessidade de acumular reservas de resultados líquidos, desenvolver fontes de receitas viáveis e ajustar as políticas de controle interno.
Auditor aprova contas com duas reservas
O auditor independente, que aprovou as contas com duas reservas, alerta que a sobrevivência dos Correios de Angola depende de injecções contínuas de capital do Estado. “Considerando os resultados líquidos negativos acumulados, o financiamento da actividade da empresa continua a depender do suporte financeiro do Estado, quer através da realização do capital social, quer de subsídios à exploração”, lê-se nas observações do auditor KCMP.
Quanto às reservas, o auditor aponta baterias aos saldos apresentados na rubrica imobilizações corpóreas, quer em relação ao processo de inventariação que está em curso, bem como com o processo de amortização de investimentos feitos em anos anteriores, com o auditor a indicar que não consegue confirmar se o valor líquido de 2.996 milhões Kz corresponde ao valor dos bens existentes e em condições de operacionalidade.
Quanto à segunda reserva, a KCMP refere não ter conseguido fazer a confirmação de saldos a receber e a pagar, já que não foi possível obter evidência de auditoria suficiente e apropriada – tendo no entanto detectado saldos com “antiguidade significativa” e por isso não conseguiu “tirar conclusões acerca da adequacidade e recuperabilidade dos saldos a receber e da totalidade e exibilidade dos saldos a pagar”.
Apesar de não ser uma reserva, o auditor deixa ainda alguns recados em forma de ênfase, sobretudo no que diz respeito ao facto de haver registos contabilísticos da empresa feitos manualmente, apesar de existirem sistemas informáticos de gestão da facturação. E refere que ainda não concluíram um sistema de interface directo da informação desses sistemas para o módulo da contabilidade do sistema Informático PRIMAVERA.
Fonte: Expansão