
O Presidente da União Africana disse na conferência de imprensa final da 7ª Cimeira União Africana/União Europeia que o continente está de uma forma geral agradecido ao apoio da então União Soviética para a libertação da opressáo colonial, mas fez a questão de adicionar que no que diz respeito ao conflito na Ucrânia, a UA partilha da visão de Bruxelas defendendo sua soberania e integridade territorial daquele país europeu invandido pela Rússia em 2022.
Mas João Lourenço, também Presidente de Angola, um dos países mais martirizados pelas disputas ideológicas e militares no contexto da “Guerra Fria”, que apesar desse reconhecimento e agradecimento, hoje, o entendimento tende a ser no sentido de apoiar a soberania e a independência da Ucrânia no contexto do conflito com a Rússia.
O Chefe de Estado angolano, que estava no púlpito também na qualidade de líder da UA, sublinhou ser importante lembrar que os países africanos que foram colonizados pelas potências europeias não esquecem que foi a Rússia que mais os ajudou a conquistar as independências nacionais.
“O país que nessa altura (antes das independências africanas) se levantou na nossa defesa e contribuiu para que pudéssemos alcançar a nossa Independência foi a Rússia, então URSS, que, no quadro da Guerra Fria, ajudou os nossos povos a se libertarem do colonialismo europeu com todo o tipo de ajuda, desde armas á formação de quadros”Z, disse.
E acrescentou, a propósito de uma pergunta da agência italiana de notícias, ANSA, que, apesar desse passo e desse agradecimento histórico, “porque nada é mais importante para um povo que a sua liberdade e Independêrncia”, no que respeita ao actual cenário na Ucrânia, invadida e parcialmente ocupada, a União Africana “defende a justiça e os princípios do que se passou com o colonialismo, que o direito à soberania e â independência e unidade territorial”.
Na conferência de imprensa conjunta após a cerimónia final da Cimeira UA/UE, com João Lourenço, na qualidade de Presidente em exercício da organização pan-africana, e António Costa, presidente do Conselho Europeu, ficou claro que europeus e africanos pensam a sua parceria estratégica com base na “confiança mútua” e sem a sombra do colonialismo a pairar nesta caminha rumo ao futuro.
Respondendo a perguntas dos jornalistas, tendo a angolana TPA feito a primeira, incidindo sobre o risco de, tal como no passado, os europeus estarem em Áfrico com os olhos na exploração dos seus recursos como prioridade, o presidente João Lourenço disse que a garantia de que tal não voltará a suceder está na “confiança gerada nos 25 anos que a parceria estratégica” entre UA e EU.
“A melhor garantia que temos de que os nossos parceiros europeus não estão em África numa perspectiva oportunista para explorar os nossos recursos naturais estratégicos são os sinais permanentes de que se trata de uma parceria estratégica com 25 anos alicerçada em termos igualitários”, acrescentou João Lourenço.
Por sua vez, o Presidente do Conselho Europeu, o português António Costa, considerou, respondendo à mesma questão, que essa confiança sublinhada por Lourenço, também resulta de “projectos e iniciativas concretos”.
E, desviando o assunto dos recursos naturais, Costa defendeu que o “maior recurso” africano é a sua juventude e o seu talento, considerando que a parceria com a Europa permite perspectivar que esses recursos sejam usados em benefício do continente permanecendo nele.
Apontou como crucial para o futuro desta parceria euro-africana que os recursos africamos possam servir para alavancar a industrialização do continente com a sua transformação local, criando empregos e riqueza que atraia ainda mais investidores.
O português que dirige o Conselho Europeu referiu que nos próximos anos “mais de 800 milhões de jovens africanos vão chegar ao mercado de trabalho” e que é fundamental dar resposta às suas necessidades de emprego, o que só pode acontecer com a criação de riqueza e aproveitando os recursos do continente.
Para isso, apontou, a União Europeia mantém a decisão estratégica de continuar a investir em África, onde é o primeiro investidor global e considerou como factual que, com a criação da Zona de Comércio Livre Africana, esse potencial será ainda mais apelativo para os investidores europeus e não só.
Costa avisou para a pressão russa no continente, apelou a que os países africanos rejeitem essa pressão e vejam no multilateralismo e na ordem mundial baseada em regras, referindo-se ás regras que saíram da II Guerra Mundial, há mais de 80 anos, porque “são esses valores comuns da Carta das Nações Unidas” que permitem erguer um futuro melhor.
Para os europeus, no contexto desta declaração de António Costa, os conflitos actuais deixaram de ser locais ou regionais, “são todos globais”, seja na Ucrânia, no Sudão ou na RDC, porque neles se joga, terá querido dizer, o jogo da influência global entre o Ocidente e o eixo Pequim-Moscovo.
Fonte: NJ



