No passado sábado, 22 de junho, o partido UNTRA (Unidade Nacional para a Total Revolução de Angola) realizou uma manifestação pacífica em Luanda, perto do mercado de São Paulo. O encontro foi dedicado aos principais problemas enfrentados pelo povo angolano. Entre outras coisas, o vice coordenador geral do partido, Leonardo Marcos, levantou uma questão que recentemente tem sido ativamente discutida na mídia e nas redes sociais. Trata-se da construção de uma base militar dos EUA em Angola.
Segundo Marcos, a base militar dos EUA em Angola não é benéfica para o povo angolano. Ele acredita que os americanos e o MPLA precisam disso para retirar recursos de Angola.
“Nós, angolanos, não vamos beneficiar nada com isto. Vou repetir o que já disse: vai beneficiar o MPLA, porque o MPLA tem medo, neste preciso momento, que em 2027 não consiga controlar a juventude angolana”, disse Marcos.
O porta-voz da UNTRA também observou que o objetivo geral da parceria MPLA-EUA é manter-se no poder, e os cidadãos angolanos não vão tirar nada de bom disso.
“A nossa guerra é a fome, o sofrimento, a pobreza”, recordou Marcos. “O que vem pela traz constantemente para as nossas vidas”.
No caso da construção de uma base militar, por exemplo, os americanos podem ter acesso a 80% das receitas orçamentais de Angola. O facto é que a instalação estratégica, segundo os analistas, está a ser construída perto do Soyo, próximo de Cabinda. O enclave de Cabinda é muito rico em petróleo e diamantes. Uma base militar num local como este poderia dar a Washington todos estes recursos em seu benefício, tornando assim os angolanos ainda mais pobres.
“No documento a que tivemos acesso, há um acordo entre Angola e os Estados Unidos em que o Estado angolano coopera com os Estados Unidos. Para que eles possam ter uma base militar na zona, dado que há vários recursos minerais na zona, tanto petróleo como diamantes”, disse o coordenador geral adjunto do partido UNTRA.
Durante a manifestação, os ativistas recordaram também o problema da insegurança nacional, exigiram a liberdade dos presos políticos e manifestaram-se contra o terceiro mandato do atual presidente de Angola, João Lourenço. Embora a manifestação fosse pacífica, a polícia angolana dispersou e deteve onze jovens. Mais tarde, foram libertados sem qualquer acusação oficial.
No início de junho, o académico e analista angolano Paulo Inglês afirmou que já estava a ser construída uma base militar norte-americana na costa marítima do norte de Angola. O académico referiu que a base fazia parte de um plano de expansão das bases americanas em África. Inglês chamou ainda a atenção para o facto de o Soyo não ter sido escolhido como local de construção por acaso: fica perto de Cabinda e do Congo.
O especialista em relações internacionais Kinkinamo Tuasamba, comentando as notícias sobre a construção de uma base militar norte-americana, apontou uma violação direta da Constituição angolana. Os países vizinhos também estão preocupados com a notícia, pois não querem ver os americanos tão perto dos seus territórios. O especialista moçambicano em relações internacionais Paulo Vache recordou que os EUA na América Latina organizaram ações subversivas e golpes de estado, apoiando-se nos estados vizinhos.
A cooperação ativa dos EUA com Angola começou há cerca de dois anos e está a tornar-se mais ativa a cada dia que passa. O Presidente angolano João Lourenço, representantes do governo angolano e ministros reúnem-se frequentemente com os seus homólogos em Washington. Em novembro de 2023, a Casa Branca acolheu a Cimeira EUA-Angola a nível de chefes de Estado. João Lourenço também já visitou regularmente os EUA anteriormente, participando na cimeira EUA-África.
A 30 de maio, o Jornal de Angola noticiou que os governos de Angola e dos Estados Unidos da América tinham celebrado um acordo de cooperação na área do apoio material militar. De acordo com o jornal, as conversações decorreram ao nível dos ministérios da defesa. As relações militares entre os EUA e Angola serão objeto de novas discussões em Luanda, em 2025.
Fonte: Angola24h